Possível recessão nos EUA dá pistas sobre próximos passos de Trump
O PIB dos Estados Unidos caiu no primeiro trimestre pela primeira vez desde 2022. Foi uma desaceleração forte; após crescimento médio trimestral de 3% nos últimos dois anos, a maior economia do mundo agora encolheu 0,3%. As tarifas de Donald Trump foram as principais responsáveis por isso: o PIB caiu porque as empresas correram para importar produtos e formar estoques antes que as novas taxas entrassem em vigor.
Com esses números, é possível que os Estados Unidos já estejam em recessão. Mas quanto tempo ela pode durar? A resposta permanece intimamente ligada à análise do próprio Trump e ao seu processo decisório. Este, aliás, foi um dos temas centrais das reuniões de instituições financeiras, em Washington, na semana passada, à margem do encontro semestral do FMI e do Banco Mundial.
Investidores do mundo inteiro discutiram os limites do impulso protecionista dos EUA e avaliaram como outras iniciativas de Trump — como a reforma do Estado e as disputas com o sistema judiciário — podem influenciar o cenário político e econômico.

Cabe destacar que o Brasil ocupou posição secundária nessas discussões, com menor interesse em comparação a anos anteriores. Na América do Sul, o foco recaiu sobre a Argentina e seu novo regime cambial.
Voltando a Trump, parte das discussões concentrou-se nos momentos em que o presidente demonstrou flexibilidade, ou mesmo recuou em algumas iniciativas. Um exemplo foi a decisão de suspender por 90 dias a aplicação de tarifas recíprocas acima de 10%, além do tom mais moderado diante da possibilidade de demitir o presidente do Federal Reserve.
Durante os debates em Washington, analistas se debruçaram sobre esses sinais. A maioria concorda que Trump está empenhado em impor sua visão de país — incluindo tarifas em patamares historicamente elevados —, mas diverge quanto aos detalhes das negociações comerciais, cortes de gastos, iniciativas de desregulamentação e diversos outros pontos.
Muitas dessas políticas, inclusive, estão em permanente contradição, alimentando tensões internas na equipe e ampliando a imprevisibilidade. O que une assessores e conselheiros do presidente, até agora, é a lealdade incondicional ao chefe. Assim, o núcleo decisório da Casa Branca permanece centralizado e marcado pela impulsividade pessoal de Trump.
Nos momentos de recuo recentes, dois pontos merecem atenção. Primeiro, muitos desses movimentos coincidiram com deterioração aguda nos mercados de juros futuros. A Casa Branca parece atenta ao risco de elevação mais acentuada do custo de capital ou, no limite, a uma crise de liquidez. Em segundo lugar, Trump demonstrou sensibilidade à pressão de grandes grupos empresariais. Quando “campeãs nacionais” alertaram a administração sobre os riscos das tarifas, o presidente abriu exceções nos setores de tecnologia e automóveis.
Ainda assim, o muro tarifário segue firme, assim como as demais prioridades da agenda econômica de Trump. Para uma mudança mais robusta de estratégia, será necessário um fator adicional: queda ainda mais pronunciada de popularidade. Pesquisas de opinião já indicam piora para a Casa Branca, como taxa média de aprovação em 44%, mas o desconforto tem estado mais associado ao estilo de governar do presidente, e não ao conteúdo de sua agenda. A tendência é que um impacto maior nas pesquisas demore mais tempo, provavelmente meses, para se traduzir em mudança efetiva de rumo.