2 de maio de 2025
Politica

Fidelidade interesseira

É da mísera condição humana a característica do interesse rasteiro que faz crescer a legião de áulicos na vitória e acelerar o plano de fuga, assim que pressentido o fracasso.

Isso perdura hoje, e se fossem registrados todos os episódios ocorridos na História do Brasil, ver-se-ia que a espécie dita racional atua por razões muito específicas. A contemplação do próprio umbigo ou o clássico “o meu pirão primeiro”.

Raríssimas as provas de coerência, de respeito ético pela causa abraçada, a solidariedade em relação a quem está por baixo. Um dos bons exemplos é a conduta de Afonso Celso, na verdade, Afonso Celso de Assis Figueiredo Júnior (31.3.1860-11.9.1938), tornado Conde pela Santa Sé, filho do Visconde de Ouro Preto, chefe do governo por ocasião da queda do Trono. Era monarquista não só pelo DNA, mas por firme convicção.

Quando a Princesa Isabel assinou a Lei Áurea, Afonso Celso escreveu um soneto que bem evidenciou o seu devotamento à causa imperial:

Princesa, em vossa mão de aristocrata,

Mão de criança, melindrosa e fina,

Estua a intrepidez adamantina

Que dos heróis a fábula relata.

Bendita mão! Angélica, arrebata

A infância escrava às garras da rapina.

É a luminosa lei que ela hoje assina

Raça inteira de míseros resgata.

Ante iminentes pavorosas crises,

Na redentora mão dos infelizes

Não sei se o cetro ficará, ou não:

Mas da história do intérmino cortejo,

Das gerações o reverente beijo

Sempre tereis, Princesa, nessa mão!

Afonso Celso foi corajoso, ao se colocar ao lado do Império, tanto que dele se escreveu: “Partiu de sua pena na imprensa, a primeira declaração de hostilidade que a república brasileira recebeu”. É um gesto que, só por si, lhe define o caráter. A maioria das grandes figuras bandeou para o novo regime e esse jovem se posicionou junto aos vencidos. Foi corajoso ao explicitar em público as suas convicções, em vez de, confortavelmente, mantê-las sob reserva, sob a capa do silêncio cauteloso.

Só em 31 de dezembro de 1895, em sua casa em Petrópolis, foi que, pela primeira vez, Afonso Celso se rejubilou com um ato do governo republicano. Foi a nomeação de Aluísio Azevedo para o corpo consular. Foi então que, deixando o seu silêncio, felicitou o amigo e companheiro de literatura: “Meu caro Aluísio: se há fato que eu censure à Monarquia é não ter aproveitado um homem de valor como você. Meu Pai tê-lo ia feito, mas esteve apenas cinco anos ao poder. A nomeação de você para Vigo é o primeiro ato da República que aplaudo sem restrições. Meus parabéns! Abraça-o o velho amigo o velho amigo e admirador Afonso Celso”.

Essa coerência é algo raro na política brasileira e deveria servir de inspiração para os jovens que vão entrar nessa complexa seara tão importante para a gestão do interesse comum. A política partidária é a forma tradicional de administração do convívio, sob as regras do Estado de direito de índole democrática. Embora pareça a muitos um terreno perigoso, é fundamental que haja participação, que haja renovação e se atue no sentido de trazer a cada dia mais ética nessa área.

Exemplos como o de Afonso Celso devem ser rememorados para estimular a mocidade a não se ausentar da política. Ao contrário, sua renovação depende do interesse de novos quadros, sempre dispostos a criticar, nem sempre prontos a participar. E os Partidos Políticos têm a obrigação de incrementar esse interesse, cumprindo o seu dever de promover educação política desde a infância, para fomentar a implementação da Democracia Participativa, imprescindível para aprimorar a qualidade de vida num Brasil tão ávido por um outro patamar civilizatório.

 

 

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