30 de junho de 2025
Politica

Ala do PDT avisa que acabou ‘adesão 100%’ em votações de interesse do governo após saída de Lupi

BRASÍLIA – Sem a presença do agora ex-ministro da Previdência Carlos Lupi no governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, integrantes do PDT mais alinhados às posições do ex-ministro Ciro Gomes esperam seguir caminho de independência na Câmara dos Deputados, o que pode acender preocupações do governo.

Mesmo com a indicação do número dois de Lupi, o também pedetista Wolney Queiroz, ciristas entendem que PDT e PT poderiam seguir diferentes caminhos – isso porque Wolney se opôs à candidatura de Ciro Gomes ao Planalto em 2022.

Lupi pediu demissão do cargo de ministro nesta sexta-feira, 2.
Lupi pediu demissão do cargo de ministro nesta sexta-feira, 2.

Esse grupo diz que a nomeação é escolha estrita de Lula, aliado do chefe do Executivo e, portanto, o PDT poderia adotar postura independente no Congresso. O líder do PDT na Câmara, Mário Heringer (MG), admite que isso pode ocorrer. Lupi é o presidente licenciado do partido – ele foi temporariamente afastado da função na sigla enquanto exercia a função ministerial.

Em conversas internas, essa ala cirista do PDT argumenta que o que prendia o partido a “votar 100%” com Lula era a participação de Lupi na Esplanada. Esse entendimento foi explicitado em conversas trocadas entre parlamentares pedetistas nesta sexta-feira, 2, dia da demissão de Lupi.

Agora, esse grupo entende que a bancada pode seguir rumo próprio. O PDT tem 17 deputados federais e três senadores, e foi importante em votações em que o governo saiu vencedor com placar apertado.

Foi o caso da votação da urgência a um projeto de lei que restringe o acesso ao Benefício de Prestação Continuada (BPC). O governo conseguiu apenas 267 dos 257 votos necessários, uma votação de resultado parelho. No PDT, 14 deputados participaram da votação e todos acompanharam a posição de Lula.

A ala que apoia Ciro Gomes entende que, por mais que exista um alinhamento ideológico similar à gestão petista em alguns campos, a divergência econômica poderia fazer os dois grupos seguirem caminhos opostos. Era o que poderia acontecer nesse projeto, em que deputados relatam terem votado a favor da proposta apesar de terem restrições a ela.

O sentimento é mais forte principalmente na Câmara. No final do mês de março, Heringer juntou alguns deputados em Brasília em um jantar com Ciro Gomes. Nesse encontro, houve um apelo dos parlamentares para que o ex-ministro, crítico de Lula, se candidate à Presidência da República em 2026.

Nesta quinta-feira, 1º, o líder do PDT na Câmara criticou o tratamento dado pelo Planalto a Lupi, disse que ele causou “extremo constrangimento” ao partido e que a saída do então ministro implicaria numa saída do partido do governo.

Mas essa leitura não é um consenso dentro do PDT. Na reta final das eleições municipais de 2024, em que o PDT teve um resultado desastroso, um grupo de deputados pedetistas defendia a expulsão de Ciro Gomes do partido, sob o argumento que as posições dele afetariam a performance da sigla no pleito de 2026.

Com a abertura da janela partidária, em 2026, a expectativa é de uma debandada de deputados federais especialmente do Ceará, em razão de uma briga de Ciro Gomes com o irmão, o senador Cid Gomes (CE), que migrou do PDT para o PSB.

Como mostrou a Coluna do Estadão, do lado do Planalto, a expectativa em torno de Wolney é outra. Interlocutores de Lula dizem que, além de ter sido o número 2 de Carlos Lupi na pasta, Wolney é “muito orgânico” na bancada da Câmara, o que facilita o diálogo com parlamentares do partido que ameaçam desembarcar da base.

Escândalo do INSS levou à demissão de Lupi

A saída de Lupi é consequência do escândalo dos descontos indevidos de aposentados e pensionistas do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS).

A Polícia Federal e a Controladoria-Geral da União (CGU) realizaram, em 23 de abril, a Operação Sem Desconto, fruto de uma investigação que aponta um esquema fraudulento de deduções indevidas em benefícios de aposentados e pensionistas do INSS. O valor estimado em cobranças irregulares soma R$ 6,3 bilhões entre 2019 e 2024, segundo a PF.

Lupi e o PDT, também estavam incomodados com a maneira como o Planalto estava encaminhando a solução da crise. O substituto de Stefanutto no INSS, o procurador Gilberto Waller Junior, foi escolhido à revelia do ministro, ao qual o órgão é ligado.

Mesmo com o ministro fora do governo, a oposição pretende atingir o pedetista. Nesta sexta-feira, a oposição procotolou uma representação criminal contra o ex-ministro e pede pede que a investigação seja remetida ao Supremo Tribunal Federal (STF) se houver indícios da participação dele.

Além disso, o grupo articula a criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) na Câmara ou uma CPI Mista, com deputados e senadores, para investigar o escândalo no INSS.

 

 

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