5 de maio de 2025
Politica

PSDB está se dissipando porque partido não é museu, mas deixa vácuo

O vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) considera importante a continuidade de partidos com história, como é o caso do PSDB, pelo qual foi o governador mais longevo de São Paulo no período democrático. A afirmação foi atribuída a ele pelo ex-senador tucano José Aníbal em reportagem do Estadão deste domingo, 4. É compreensível o sentimento de melancolia com o iminente desaparecimento da sigla, que está prestes a se fundir com o Podemos.

Marconi Perillo e Aécio Neves participam da reunião que autorizou início de discussão para Fusão com Podemos
Marconi Perillo e Aécio Neves participam da reunião que autorizou início de discussão para Fusão com Podemos

O PSDB, tendo Fernando Henrique Cardoso como ministro da Fazenda e depois como presidente, estabilizou a moeda, implantou o tripé macroeconômico, consolidou o SUS, universalizou o ensino fundamental, livrou-se de estatais ineficientes, criou o primeiro programa de distribuição de renda de alcance nacional, ampliou a autonomia e a credibilidade externa do Brasil e, não menos importante, ajudou a cristalizar o sistema democrático. Mas a influência e a identidade política do PSDB se dissiparam nos últimos anos.

A criação do PSDB em 1988: da esquerda para a direita, Fernando Henrique Cardoso, Mário Covas, José Serra, Franco Montoro e José Richa no diretório do PSDB.
A criação do PSDB em 1988: da esquerda para a direita, Fernando Henrique Cardoso, Mário Covas, José Serra, Franco Montoro e José Richa no diretório do PSDB.

Como Quincas Berro d’Água, personagem de Jorge Amado, o PSDB já morreu uma vez e prepara-se para morrer de novo. A primeira, a morte política, foi quando, depois de perder a eleição para Dilma Rousseff, uma presidente incompetente, e de ter alguns de seus principais nomes envolvidos em escândalos, parte da legenda resolveu flertar com o bolsonarismo, abandonando o próprio histórico de aversão ao populismo e a comportamentos autoritários.

Figuras importantes do partido começaram a partir, o desempenho eleitoral em municípios, estados e legislativos decaiu e, em 2022, deu-se uma disputa interna inútil pelo direito de disputar a presidência. O PSDB passou a ser apenas uma sombra do que era no seu auge.

A segunda morte, simbólica e proposital como a do “afogamento” de Berro d’Água depois de se atirar no mar, virá da incorporação com o Podemos. Seus líderes falam em recomeço, mas será outro partido — mais provavelmente, com pinta e comportamento de Centrão. Deixará um vácuo para o surgimento de uma legenda forte, não fisiológica, com um programa político coerente de centro-direita.

O definhamento do PSDB lembra a do Partido Liberal, que ao longo de parte do século XIX e início do XX rivalizou com o Partido Conservador em protagonismo no Reino Unido — tendo contado entre seus afiliados com gente do calibre de John Stuart Mill e John Maynard Keynes.

Os liberais entraram em declínio depois que enfrentaram uma profunda divisão interna, resultado do seu fracasso inicial em comandar a coalizão que governava o país em meio à I Guerra. A partir de 1922, quando caiu seu último premiê, o Partido Liberal viveu uma longa decadência, perdendo membros para os concorrentes ou para agremiações dissidentes, até fundir-se na década de 80 a outro partido, dando origem ao Liberal Democrata, até hoje um coadjuvante da política britânica.

Quando um agrupamento político perde sua identidade e deixa de cumprir o papel de representar os interesses, as ideias e as aspirações de uma parte da sociedade, não há razão para preservá-lo. Partido não é museu.

 

 

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *