30 de junho de 2025
Politica

PT patina em oposição a Tarcísio e fragiliza Lula em São Paulo, maior colégio eleitoral do País

Mais de dois anos após a posse de Tarcísio de Freitas (Republicanos), o PT ainda patina na oposição ao governo de São Paulo, deixando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sem lastro no maior colégio eleitoral do País. Desde que assumiu o mandato, Tarcísio conseguiu tirar do papel algumas de suas principais promessas de campanha – da privatização da Sabesp à criação de escolas cívico-militares – sem encontrar grande resistência na Assembleia Legislativa (Alesp) e mantendo sua aprovação acima dos 40%.

Enquanto isso, o PT tem enfrentado dificuldades para minar a gestão de Tarcísio e nem sequer consegue atuar no ambiente digital: um levantamento da Bites feito a pedido do Estadão mostra que o PSOL tem sido o principal crítico do governador nas redes sociais, deixando o partido do presidente da República em posição secundária.

Novo líder da federação PT, PCdoB e PV na Alesp, o deputado estadual Antonio Donato (PT) articula medidas para tentar mudar o cenário. Além de uma maior coordenação do discurso dos deputados nas redes sociais, o parlamentar trabalha para criar uma frente política com outros partidos de esquerda e a sociedade civil para que o debate extrapole os salões do Legislativo.

O presidente Lula (PT) e o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos)
O presidente Lula (PT) e o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos)

Donato trabalha para que o ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, vá à Alesp discutir a PEC da Segurança Pública e que o vice-presidente e ministro da Indústria, Geraldo Alckmin (PSB), participe de uma audiência para discutir o efeito das tarifas de importação anunciadas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump – Tarcísio publicou uma foto comemorando a eleição do americano no início do ano.

O deputado defende o trabalho feito pelo PT e diz que o governo tem o apoio da maioria dos deputados, o que dificulta o trabalho da oposição para barrar projetos e aprovar requerimentos convocando secretários para se explicarem sobre temas polêmicos.

“A gente vai procurar criar um ambiente de debate maior para a sociedade de temas importantes para o Estado, independentemente de serem temas puramente do Legislativo estadual”, disse o líder petista.

Donato argumenta que Tarcísio envia poucos projetos para a Alesp e concentra suas forças em privatizações e concessões, cujas autorizações legislativas foram obtidas em gestões passadas. Por outro lado, o deputado sustenta que a oposição fez “guerra em todos os aspectos” quando houve análise de pautas importantes, como a privatização da Sabesp e a flexibilização do gasto mínimo com a educação.

Na prática, porém, a ofensiva do PT contra Tarcísio se mostrou pouco eficaz até agora. O governador tem conseguido manter sua aprovação acima dos 40% enquanto avança com sucesso nas propostas de seu interesse na Alesp. Entre as mais polêmicas estão o programa de escolas cívico-militares e a lei que anistia multas aplicadas durante a pandemia de covid-19 – esta última beneficiando diretamente o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), de quem é aliado. O governador fez até dobradinha com o PT para reconduzir o deputado André do Prado à presidência da Casa. Filiado ao PL, Do Prado se tornou um dos principais aliados de Tarcísio, sendo cotado para ser seu vice em uma eventual reeleição em 2026.

Dentro da Casa, a relação entre o PT e o governo já foi alvo de reclamações dos bolsonaristas, especialmente por Tarcísio pagar emendas voluntárias para os petistas. Esse tipo de repasse não é obrigatório; trata-se de uma escolha do governo. No ano passado, foram R$ 57 milhões destinados aos parlamentares petistas. Os partidos que mais receberam emendas foram, na ordem, PL (R$ 239 milhões), Republicanos (R$ 119 mi), União Brasil (R$ 115 mi), PSDB (R$ 106 mi), PSD (R$ 71 mi), Podemos (R$ 72 mi), MDB (R$ 58 mi) e PT.

Os bolsonaristas costumam comparar a oposição que o PT faz hoje a Tarcísio com a que eles próprios fizeram ao ex-governador João Doria. Lembram que, durante a gestão tucana, protocolaram diversos pedidos de impeachment e que, em algumas ocasiões, conseguiram impor dificuldades ao governo nas votações da Alesp.

Levantamento da consultoria Bites mostra que, nas redes sociais, quem mais confronta Tarcísio não é o PT – é o PSOL. A análise, que considerou publicações sobre o governador entre 1.º de janeiro e 30 de abril, apontou o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL-SP) como o principal antagonista digital do chefe do Executivo. O parlamentar se destaca tanto em volume quanto em impacto: neste ano, ele publicou quase 60 conteúdos sobre Tarcísio, que somaram 868 mil interações, entre curtidas, comentários e compartilhamentos nas redes X, Facebook e Instagram.

“Boulos é o grande vetor de oposição a Tarcísio nas redes. Atrás dele, está Sâmia Bomfim, também do PSOL. O primeiro petista a aparecer na lista é Carlos Zarattini, deputado federal. Da Alesp, quem aparece pelo PT é Antonio Donato. Se o PT entende que Tarcísio é um potencial adversário, deveria ter uma estratégia para desgastá-lo”, afirmou Manoel Fernandes, diretor da Bites.

Ele ainda acrescenta: “A maior fragilidade de Tarcísio, e isso as pesquisas mostram, é a questão da segurança, especialmente o roubo e o furto de celulares. E ninguém do PT está falando sobre isso. Boulos mencionou o tema em uma ocasião neste ano, mas ficou nisso. A crise de segurança não está no radar da oposição. Se Tarcísio é, de fato, o adversário em potencial para o governo Lula, chama atenção o PT não agir sobre esse tema para desgastá-lo. Falta à oposição um discurso único”.

Na Alesp, a oposição mais vocal ao governador é de Carlos Giannazi (PSOL). Pelo PT, o principal nome é Antonio Donato. Este conseguiu sucesso em dois vídeos recentes nas suas redes sociais: em um, critica os pedágios free flow; no outro, diz que a construção do túnel Santos-Guarujá será feita em parceria com o governo Lula. Juntos, os vídeos tiveram mais de 1,8 milhão de visualizações no Instagram. Para Manoel Fernandes, no entanto, o sucesso das publicações de Donato foi mais circunstancial do que resultado de uma estratégia de oposição sólida.

Ao Estadão, o deputado afirmou que o partido tem se esforçado para melhorar sua presença no ambiente digital. “É um terreno que claramente a gente está em desvantagem do ponto de vista digital e que estamos tentando melhorar. Estamos dando passos nesse sentido, mas não é simples”, disse Donato.

Eleição em São Paulo tem repercussão nacional, avaliam petistas

A eleição no Estado de São Paulo é vista como estratégica tanto para bolsonaristas quanto para petistas. Em 2022, estrategistas de Bolsonaro chegaram a calcular exatamente quantos votos ele precisaria ter no Estado para neutralizar a vantagem de Lula no Nordeste.

Na semana da eleição, as pesquisas internas da campanha de Bolsonaro indicavam que o então presidente havia conquistado a vantagem necessária entre os paulistas. No entanto, a distância para Lula teria se encurtado nos últimos dias da corrida eleitoral, após os episódios envolvendo a deputada federal Carla Zambelli e o ex-deputado Roberto Jefferson, afirmam auxiliares que participaram da campanha.

Com Tarcísio estabelecido em São Paulo, a expectativa do campo bolsonarista é melhorar o desempenho no Estado. Já entre aliados de Lula, a preocupação é não perder terreno.

”A votação que o Haddad teve em São Paulo foi fundamental para a vitória do presidente Lula. São Paulo contribuiu muito para eleger Lula. Em 2026, nosso candidato precisa, no mínimo, repetir o desempenho do Haddad. Acertar em São Paulo é essencial para reeleger Lula – não é uma questão local, é nacional”, diz o deputado federal Jilmar Tatto (SP), Secretário Nacional de Comunicação do PT.

Para Tatto, o PT tem cumprido seu papel como oposição, embora reconheça as dificuldades. “Ser oposição não é simples. Quem está no governo tem a máquina, tem o controle. A bancada do PT é minoria, sozinho o partido não consegue fazer uma obstrução maior”, afirmou. “Mas temos denunciado, alertado e investigado”, ponderou.

Para 2026, o secretário de Comunicação do PT defende a formação de uma frente ampla em São Paulo para enfrentar Tarcísio e discorda dos colegas que veem a reeleição do governador como inevitável. Tatto propõe reunir partidos como PSB, PSOL, PDT e Rede – e até “algum desgarrado do centrão”. Para ele, o ministro Márcio França é um bom nome para representar o campo, mas é preciso discutir outras possibilidades – entre elas, Fernando Haddad e o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB), que já governou o Estado. Embora Haddad e Alckmin tenham sinalizado que não pretendem disputar, Tatto diz que “o Estado de São Paulo é tão importante para a eleição do Lula que não se pode ‘ter projetos pessoais’”. E completa: “Na hora do vamos ver, todos eles vão estar à disposição do presidente Lula”.

Uma crítica de parlamentares do PT é que o PSB, que lançou França como pré-candidato ao governo na semana passada, não se engaja na oposição a Tarcísio na Alesp. A leitura é rechaçada por Caio França, filho do pré-candidato e deputado no Legislativo estadual.

“A gente faz oposição, mas existem maneiras de fazer isso. Não quer dizer que a gente vai votar tudo (contra) e a qualquer custo. Eu mesmo votei a favor, por exemplo, da parceria público-privada para as balsas e travessias. Sou usuário semanal desse sistema e vejo o quanto ele é ultrapassado”, disse o pessebista.

Caio França reconhece que Tarcísio é o candidato a ser batido, mas aposta que o governador não disputará a reeleição, deixando a disputa para o Palácio dos Bandeirantes em aberto. “A minha percepção é que ele será empurrado a disputar a eleição presidencial e isso vai abrir um leque de possibilidades, com muitos rachas entre a turma que pretende sucedê-lo”, apostou.

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