Por que os partidos envelhecem?
Historicamente a juventude brasileira esteve à frente das grandes transformações políticas do nosso país. Muitos foram presos ou até mesmo mortos pela ditadura, estiveram nas ruas pelas “Diretas Já” e foram os “caras pintadas” que pediram o impeachment do ex-presidente Collor. Foi a juventude também que, mobilizada pelas redes sociais, ocupou as ruas nas manifestações de junho de 2013. Dizer que os jovens não se interessam por política é, no mínimo, raso.
Estudos recentes e experiências práticas mostram que o desinteresse dos jovens pela política institucional não se deve à apatia, mas sim à percepção de que os partidos não os representam nem os acolhem. Enquanto os diretórios partidários permanecem envelhecidos e hierarquizados, a juventude pulsa nas escolas, nas redes, nas periferias e nas organizações de base. Eles não deixaram a política — apenas deixaram de encontrá-la dentro dos partidos. Apesar dos avanços democráticos nas últimas décadas, os partidos políticos brasileiros ainda enfrentam um desafio crucial: atrair, engajar e manter os jovens em suas estruturas. Segundo dados do TSE, jovens entre 16-24 anos representam apenas 1% de todos os filiados aos partidos políticos no Brasil. Entre 25-34 anos, representam 8%, o que significa que 90% dos filiados já têm mais de 34 anos de idade.
Não se trata apenas de garantir a presença simbólica da juventude, mas de reconhecer seu papel como força estratégica na reconstrução da política institucional. A ausência ou marginalização de jovens nos partidos representa uma ruptura entre as novas gerações e os espaços formais de poder — uma desconexão que ameaça a vitalidade da democracia brasileira. São os jovens que propõem novas formas de comunicação, pensam políticas públicas inovadoras e sintonizadas com os desafios contemporâneos. Além disso, carregam um forte senso de urgência diante das desigualdades e das crises globais, impulsionando práticas políticas mais participativas, colaborativas e horizontais. Sua presença ativa não apenas oxigena os partidos, mas também amplia sua legitimidade e conexão com a sociedade.
A juventude partidária, portanto, precisa ser mais do que um braço auxiliar das direções dos “mais adultos”. É necessário pensar essa estrutura como espaço de formação política, de disputa de ideias e de renovação de lideranças. Para isso, os partidos devem promover a abertura de canais reais de participação, a valorização da diversidade interna e o combate às práticas hierárquicas e excludentes que afastam jovens, sobretudo os de grupos historicamente sub-representados, como mulheres, pessoas negras, indígenas e LGBTQIA+.
Os estudos realizados pela Legisla Brasil reforçam essa necessidade de transformação e apontam caminhos concretos. Destaca-se a importância de investimento financeiro nos setoriais de juventude, para que projetos relevantes possam ser desenvolvidos. Também recomendam a criação de instâncias onde os jovens possam discutir ideias e propor mudanças reais dentro dos partidos, além de incentivar a sua participação nas decisões partidárias como um todo, e não apenas nos assuntos pertinentes à juventude. Por fim, recomenda-se adaptar a comunicação e os canais de participação para as redes sociais e outras plataformas digitais, sendo fundamental que esses canais — não apenas os do setorial de juventude, mas os do partido como um todo — sejam geridos pelos próprios jovens, sem imposições de conteúdos e formatos por parte dos mais velhos.
Em um momento em que a cláusula de barreira segue forçando partidos de todos os tamanhos a se unirem para sobreviver, a inclusão e retenção de jovens se faz ainda mais necessária. Com partidos maiores e com mais poder, corre-se o risco de grupos sem vozes ficarem ainda mais calados diante da maior concentração de poder e do pragmatismo eleitoral. Se quisermos uma democracia forte e conectada com os desafios do presente e do futuro, precisamos reconstruir a ponte entre os jovens e os partidos políticos. Isso significa transformar a juventude partidária em espaço de real influência e formação, e não apenas em vitrine de diversidade ou trampolim eleitoral. Afinal, a nossa tão jovem democracia precisa da juventude se quiser continuar envelhecendo.