14 de maio de 2025
Politica

Ideologia mora na urna presidencial

Partidos políticos brasileiros sempre foram criticados por sua baixa definição ideológica e fraca aderência programática. Suas campanhas, marcadas pelo personalismo, tendem a privilegiar conexões diretas entre candidatos e eleitores, em detrimento de vínculos partidários duradouros.

No entanto, tem-se observado uma inflexão: partidos de direita vêm assumindo identidades ideológicas mais claras e plataformas programáticas mais consistentes. Vêm se posicionando com mais nitidez no espectro conservador e, cada vez mais, demonstram menor disposição de negociar cargos e recursos em troca da diluição de seus princípios em coalizões heterogêneas.

O que explica essa mudança? A chave está na decisão estratégica de disputar ou não a Presidência.

Fachada do Palácio do Planalto
Fachada do Palácio do Planalto

No presidencialismo multipartidário brasileiro, partidos que optam por lançar candidatura própria ao Planalto tendem a desenvolver um perfil ideológico mais definido. Ao buscar projeção nacional, são compelidos a oferecer programas de governo e a se diferenciar de seus concorrentes.

Em contraste, partidos que renunciam à disputa presidencial e adotam uma estratégia estritamente legislativa têm incentivos distintos. Coerência ideológica pode ser um fardo, não uma vantagem – pois reduz sua flexibilidade para aderir a governos ideologicamente distantes. Nesse contexto, ambiguidade programática torna-se uma estratégia racional: permite manter portas abertas para futuras negociações.

A inelegibilidade de Jair Bolsonaro, principal figura da direita, criou um vácuo que impulsiona os partidos conservadores a se reposicionarem. Sem um candidato natural, abriu-se espaço para o fortalecimento ideológico da direita – agora menos dependente da liderança personalista e mais voltada à construção de plataformas próprias.

Já no campo da esquerda, a dominância do presidente Lula tem interditado esse mesmo processo. Desde 1989, o PT tem oferecido o candidato presidencial da esquerda. Com isso, os demais partidos progressistas tornaram-se satélites do lulismo, com baixa autonomia programática. Uma eventual saída de Lula da disputa em 2026 poderá alterar esse quadro. Sem um candidato unificador, é provável que esses partidos abandonem sua posição subalterna e passem a investir na construção de identidades mais nítidas, inclusive com candidaturas próprias ao Planalto.

Disputar a Presidência define não só o tamanho da ambição partidária, mas também o grau de coerência ideológica que o partido irá adotar. No Brasil, a trajetória majoritária é a principal bússola ideológica dos partidos.

 

 

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *