17 de maio de 2025
Politica

PL prepara ofensiva midiática para desgastar governo Lula por desvios no INSS

BRASÍLIA – O Partido Liberal (PL) planeja intensificar a ofensiva contra o governo Lula e ampliar a crise causada pelos desvios no Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). A cúpula da legenda está preparando peças publicitárias para serem veiculadas na TV, no rádio e na internet para explorar o caso.

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) gravou uma das peças que devem ser levadas ao ar nesta semana com um casal de idosos. Eles foram vítimas das fraudes que vêm ocorrendo ao menos desde 2016, de acordo com a Controladoria-Geral da União (CGU). Embora os descontos ilegais também tenham ocorrido em seu governo (2019-22), a ideia é colar o escândalo a Lula.

O ex-presidente Jair Bolsonaro e o presidente do PL, Valdemar Costa Neto
O ex-presidente Jair Bolsonaro e o presidente do PL, Valdemar Costa Neto

Parlamentares do PL devem se reunir na terça-feira que vem para alinhar como descarregar o bombardeio contra o Palácio do Planalto. A principal aposta é a instalação da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) para investigar a fraude – colegiado que os bolsonaristas tentam batizar de “CPMI do Roubo dos Aposentados”, nome de maior impacto.

O pedido tem as assinaturas de 223 deputados e de 36 senadores. O número é superior ao mínimo exigido para requerer esse tipo de comissão: 171 deputados e 27 senadores, um terço da composição de cada Casa legislativa.

Líder da oposição na Câmara, o deputado federal Luciano Zucco (PL-RS) diz apostar no Judiciário para a instalação da CPMI caso falte vontade política das cúpulas das Casas. Para ele, o caso tem potencial para prejudicar a imagem do governo Lula assim como foram o Mensalão e o Petrolão.

“Se os presidentes da Câmara e do Senado não instalarem a CPI por bem, a gente vai recorrer ao Judiciário. Tem um precedente claro: o STF já determinou a instalação da CPI da Pandemia por decisão liminar do ministro (Luís Roberto) Barroso, depois confirmada em plenário. Não tem motivo jurídico para impedir agora a CPI do Roubo dos Aposentados, que cumpre todos os requisitos regimentais”, afirmou.

O governo Lula, entretanto, agora trabalha para ter o controle do colegiado em vez de lutar para adiar a sua instalação, tida como inevitável. Líder do governo no Congresso, o senador Randolfe Rodrigues (PT-AP) tem defendido pleitear tanto a presidência quanto a relatoria da comissão. O nome da deputada federal Tabata Amaral (PSB-SP), que assinou o pedido, é cotado para relatar o texto.

“Até o momento, não houve essa conversa diretamente comigo. A prioridade agora é garantir que a CPMI seja, de fato, instalada. Estou disposta a assumir um papel relevante na comissão, para garantir a independência da investigação. Essa não é uma pauta partidária. É uma iniciativa de combate à corrupção estrutural, que atravessa diferentes governos e partidos políticos. A CPMI pode revelar o envolvimento de diferentes partidos, por isso, neste momento, o foco é na necessidade que ela aconteça”, afirmou Tabata.

O Partido dos Trabalhadores (PT) divulga nesta semana, no perfil oficial na plataforma X (antigo Twitter), uma série de vídeos atribuindo a responsabilidade pelas fraudes a Bolsonaro. Intitulada “Verdade sobre o INSS”, a campanha tem quatro episódios, cada um focado em diferentes aspectos das acusações, como bloqueio de benefícios, descontos indevidos na folha de pagamento e participação de chefias em esquemas ilícitos.

Como mostrou o Estadão, até o ex-presidente Jair Bolsonaro ser internado em abril, a pauta da anistia avançava sem concorrência no noticiário. A crise gerada ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva pelos descontos irregulares no INSS, no entanto, levou a uma mudança de rota no bolsonarismo.

O deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG), por exemplo, publicou um vídeo atacando o governo pelo escândalo – a publicação alcançou 137 milhões de visualizações no Instagram até a tarde desta quinta-feira. Ao ser publicado na semana passada, acendeu um alerta no governo, que se preocupava com um estrago parecido ao da crise do Pix no começo do ano, quando o parlamentar também entrou em campo para detonar Lula nas redes sociais.

Uma ala do PL defende focar todas as energias no escândalo do INSS, por entender que a pauta da anistia até tem forte apelo, mas só dialoga com o público cativo do bolsonarismo. Há também uma avaliação de que uma parcela do público não entende bem a ideia de anistia, por não ser um termo do cotidiano nem interferir em sua vida.

Por outro lado, as fraudes que atingiram milhões de aposentados furam a bolha da direita e dialogam com um eleitor que vota no PT, além de ser uma pauta mais digerível – o termo “roubo dos aposentados” comunica melhor, na visão dessa ala – e de maior alcance. O INSS calcula que 4 milhões de pessoas possam ter sido prejudicadas pelo esquema.

O timing para a anistia já foi melhor. A Polícia Federal (PF) revelou nesta semana áudios recuperados na investigação do plano de golpe mostrando que o policial federal Wladimir Matos Soares pretendia “matar meio mundo” para manter Bolsonaro no poder após a derrota nas eleições de 2022.

As mensagens foram encontradas no computador de Soares, preso preventivamente desde novembro de 2024 e denunciado na trama golpista. Em conversas no WhatsApp, o policial confessou fazer parte de uma “equipe de operações especiais” armada com “poder de fogo elevado” que, segundo ele, estava pronta para “empurrar quem viesse à frente” e impedir a posse de Lula.

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