CPMI do INSS estará a serviço da guerra política, das redes sociais e das mazelas do Congresso
Este nosso 2025 está de amargar. Não bastassem a perversidade de Donald Trump, a guerra sem fim na Ucrânia e o aniquilamento de Gaza, o ambiente no Brasil se deteriora perigosamente numa polarização insana em que os dois lados se autodestroem e preocupam o País. Assim, o primeiro caso da gripe aviária chega na pior hora e o que menos interessa na criação de uma CPMI do INSS é justamente o interesse nacional.
Um dado particularmente cruel é o efeito da crise aviária no Rio Grande do Sul, mas o impacto é nacional. O embargo ao frango brasileiro começou com China, União Europeia, Argentina, Uruguai e Chile e continua, com perdas que podem atingir US$ 200 milhões e neutralizar a expectativa de uma supersafra de 326 milhões de toneladas na agricultura. Alegria de pobre dura pouco.

Como tanta insegurança externa e interna, o que o Brasil lucra com uma CPMI sobre o INSS, que dará palanque a uma disputa política em que nenhum dos lados tem a ganhar? Será um perde e perde, expondo uma roubalheira que o governo Bolsonaro fingiu não ver, explodiu no governo Lula e foi atacada em 2025. E mais: uma CPMI vai expor um Congresso caro e atolado em privilégios e disputas mesquinhas.
Estamos em maio e o que foi votado de relevante na Câmara e no Senado? A conclusão da reforma tributária? Políticas para transporte, educação, ambiente? O pacote da Segurança? A PEC dos militares, contra a política nas Forças Armadas? E a regulamentação das redes sociais? Só quando o “especialista em censura” da China chegar?
O que importa no escândalo do INSS é investigação implacável da Polícia Federal e da Controladoria Geral da União, compensação eficiente de quem foi lesado, punição das entidades fraudadoras e prisão e bloqueio de bens dos criminosos. Além de uma revolução interna na fiscalização e na própria gestão do órgão. A corrupção é parte das mazelas. E a fila do INSS? Os 2,7 milhões à espera de seus direitos?
Uma CPMI não contribui em nenhuma dessas frentes, só vai consumir a (já baixa) energia do Congresso na guerra política e gerar muito material para as redes sociais baterem bumbo para o seu lado, atacarem o lado adversário e desacreditarem ainda mais a política, os políticos, as instituições e, em última instância, a democracia.
Há, ainda, a questão temporal. Uma CPMI na ribalta, sob holofotes, vai varar o segundo semestre e se embolar com o julgamento do golpe de Estado no STF, a cúpula dos Brics no Rio e até com a COP 30 em Belém. Uma barafunda, um pandemônio, com o Congresso afundando nas suas próprias picuinhas e na sua própria lama. E o País, como fica?