1 de julho de 2025
Politica

Eleição presidencial de 2026 rouba a cena na Brazil Week em meio à trégua de tarifas de EUA e China

NOVA YORK – A formatação do xadrez político da eleição de 2026 dominou a Brazil Week, que atraiu parte importante do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro para falar do País em Nova York, nos Estados Unidos, nesta semana. Os impactos das tarifas do presidente americano Donald Trump ainda seguem no foco das atenções de Wall Street à Faria Lima, mas o pré-acordo com a China deu espaço para o cenário político doméstico se sobressair nos debates.

O governador de São Paulo, Tarcísio Freitas, aproveitou a presença maciça de executivos e banqueiros em Nova York para atrair capital político. Ele marcou presença nos encontros da BlackRock – onde se reuniu com o CEO Larry Fink -, do BTG Pactual, da XP, do Itaú BBA, e até em eventos fechados para políticos, como o almoço do Citi, onde discursou como candidato e defendeu um projeto de Brasil.

Nos holofotes, porém, negou a ambição de disputar o Planalto no próximo ano. “Não, não tem (candidatura). Vou ficar em São Paulo”, disse Tarcísio, ao ser questionado pelo Estadão/Broadcast. Enquanto isso, nos bastidores, o governador teria sinalizado disposição em concorrer ao Planalto em 2026 desde que o ex-presidente Jair Bolsonaro, que está inelegível, endosse a sua candidatura, de acordo com fontes que falaram na condição de anonimato.

Evento integrante da Brazil Week em Nova York
Evento integrante da Brazil Week em Nova York

Esses interlocutores alertam para o risco de o ex-presidente, principal nome da direita brasileira, insistir na candidatura da ex-primeira dama, Michelle Bolsonaro. “Se for a esposa, aí fica difícil o mercado apoiar”, observa um gestor, na condição de anonimato.

Além de Tarcísio, executivos em Nova York citaram mais quatro possíveis candidatos na corrida ao Planalto: os governadores do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSD), de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), do Paraná, Ratinho Júnior (PSD), e de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil). “Temos uma safra muito boa de governadores”, diz um banqueiro, acrescentando que os governadores demonstraram disposição em se unirem para fortalecer a direita até 2026.

“Tarcísio tem mais chances de vencer o presidente Lula, embora não tenha uma penetração no Nordeste, que é importante”, reconhece um segundo banqueiro. Ratinho Júnior, por sua vez, tem mais entrada na região, observa outro interlocutor.

A antecipação do debate eleitoral pode levar os ativos brasileiros a surfarem um rali no próximo ano, com o mercado precificando chances de um candidato da direita triunfar nas urnas. “A transição política é um cenário hoje bastante possível. Hoje, as chances são de mais de 50%”, diz um executivo do mercado, que prefere não ser mencionado.

Um banqueiro de investimento pondera que o rali de eleições deve ter uma dose de ‘parcimônia’. “Está se criando uma narrativa antecipando qual candidato de direita vai vencer. Mas temos de lembrar que o Lula é um candidato extremamente competitivo. Não dá para imaginar que vai ser fácil”, afirma.

As preocupações com a situação fiscal do Brasil também foram reforçadas na Brazil Week. Em entrevista exclusiva ao Estadão/Broadcast, o secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Dario Durigan, afirmou que o governo deve anunciar um bloqueio de recursos e um contingenciamento na próxima semana, sem mencionar valores. O Barclays calcula um total de aproximadamente R$ 10 bilhões.

Mas o mercado seguiu cobrando ações mais audaciosas no fiscal durante a Brazil Week. “Nós não temos responsabilidade fiscal, não temos nem o selo de qualidade. Temos que fazer o nosso dever de casa”, disse o corresponsável global de Banco de Investimentos do Bank of America, Alexandre Bettamio.

Para o presidente da Braskem, Roberto Ramos, 2025 e 2026 são anos ‘complicados’ por serem pré-eleitorais. “Vamos ver se um novo governo, seja qual for, tem uma base política mais estável que permita realmente fazer a reforma fiscal que o Brasil precisa fazer. Essa, sim, vai ser dolorosa”, afirmou.

No universo corporativo, a leitura é de que as empresas de capital aberto estão entregando bons resultados no primeiro trimestre, mas há preocupação com a segunda metade do ano diante dos juros elevados no País. Nesse cenário, as empresas freiam investimentos e reforçam o caixa, alertam os banqueiros. “Vão cortar investimentos, não tem jeito”, enfatiza um deles.

A conjunção de fatores nos cenários externo e doméstico pode levar à consolidação e a parcerias em alguns setores, diz uma fonte, que citou como exemplo o segmento de laboratórios. Nesta semana, a Uber e o iFood anunciaram um acordo que vai permitir que os usuários utilizem os aplicativos um do outro. “Nos comprometemos a investir mais de R$ 1 bilhão no Brasil nos próximos cinco anos, sendo a maior parte em um centro de tecnologia”, reiterou o CEO global da Uber, Dara Khosrowshahi, ao ser reconhecido como o americano ‘Person of the Year Awards’ (POY), da Câmara de Comércio Brasil-EUA (Brazilcham).

O CEO da Prosus, dona do iFood, Fabrício Bloisi, escolhido pelo brasileiro, provocou os executivos presentes no jantar do POY, que voltou ao Museu Americano de História Natural de Nova York, a largar a ‘síndrome de vira lata’. “Vamos parar de reclamar dos outros. Ah! O governo. Vamos trabalhar junto com o governo”, afirmou, evidenciando as oportunidades tecnológicas à vista, em especial da inteligência artificial (IA).

Aliás, uma presença chamou a atenção no jantar de gala do ‘Person of the Year Awards’, a do ex-ministro da Economia Paulo Guedes. Ao ser anunciado, foi ovacionado pela plateia. Ele esteve em Nova York nesta semana para participar de eventos do banco suíço UBS, que comprou uma fatia minoritária da YVY, gestora que Guedes montou com o ex-presidente do BNDES Gustavo Montezano, segundo fontes.

 

 

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