30 de junho de 2025
Politica

Motta só agora quer ‘urgência’ para coibir fraudes que o Legislativo ajudou a promover no INSS

O viajante Hugo Motta, de passagem pela ilha da fantasia, teve a coragem de publicar isto em rede social:

“Comuniquei aos líderes da Câmara dos Deputados que, na próxima semana, pautarei a urgência de projetos de lei destinados a impedir fraudes no INSS. Seguindo e sempre respeitando o regimento da Casa, vamos analisar, reunir e votar tudo o que pode compor um Pacote Antifraude. Esse tema, que é urgência para milhões de brasileiros, é urgência para a Câmara dos Deputados”.

Uau! Falou até em urgência. Urgência “para milhões de brasileiros”. Falou isso em 2025. Urgência para os brasileiros roubados desde – pelo menos – 2016. E roubados – o papo aqui é reto – sob chancela do Parlamento, pelo menos desde 2019. O cronista, um cético, desconfiado mesmo diante da previsibilidade com que, assaltado já o trigo, maria-antonieta propõe brioches, foi ver para crer. Para crer em tamanha audácia. Duvidei de início.

Hugo Motta, presidente da Câmara, agora quer urgência para analisar projetos que possam
Hugo Motta, presidente da Câmara, agora quer urgência para analisar projetos que possam “impedir” fraudes no INSS

Está lá, no X de Elon, desde sexta-feira, 16 de maio. O presidente da Câmara – informados os pares – comunicando à nação que pautará, com toda a pressa que a gravidade das fraudes longamente desimpedidas exige, “projetos de lei destinados a impedir fraudes no INSS”.

Inês mortinha, seca-seca – e o proativo Motta preocupado em impedir que, quando ressuscitar, ela morra sob o mesmo chupa-cabra.

Falou até em pacote antifraude. Que esculacho! Porque, em condições normais, a desconexão dessa rapaziada com o mundo real impõe presteza somente a que se aumente o número de deputados (querem ir de 513 a 531), ou a que se garanta o controle e a partilha de bilhões de reais em emendas parlamentares. Esses, corporativistas, são exemplos da prontidão regimental da Câmara dos Deputados.

A urgência de milhões de brasileiros – os que vendem o almoço para ter o que jantar – é por justiça: para que os roubados sejam ressarcidos, para que os ladrões sejam punidos com cana dura e para que os responsáveis por assegurar as condições ao pleno exercício da roubalheira sejam identificados, expostos e responsabilizados.

O Parlamento – papo reto – é pai dessa criança também. O esquema não seria bilionário – não teria se esparramado tanto, com tanta segurança – sem estímulos desde o Legislativo. E o senhor Motta estava lá, no curso da legislatura passada, quando o Congresso trabalhou para adiar a eficácia dos mecanismos de revalidação dos descontos e afinal de todo fulminá-los. Com o PT e seus satélites à frente, membros de 11 partidos – inclusive do PL – operaram para que se pudesse conceder as deduções descontroladamente.

Sejamos ainda mais claros: o Poder Legislativo, detentor dos meios, tinha os recursos – estava diante de propostas concretas, entre 2019 e 2022 – para estabelecer verificação rigorosa sobre as concessões dos descontos e decidiu deixar a porteira arreganhada.

 

 

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