Testemunha confirma que governo Bolsonaro mapeou locais de votação em Lula para repassar à PRF
BRASÍLIA – O ex-analista de inteligência da Coordenação-Geral de Inteligência do Ministério da Justiça Clebson Ferreira de Paula Vieira afirmou, em depoimento, que recebeu encomendas de estudos sobre a distribuição de agentes da Polícia Rodoviária Federal às vésperas do segundo turno das eleições presidenciais de 2022. Naquele pleito, os agentes da corporação fizeram batidas em locais que são redutos eleitorais do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Clebson é testemunha de acusação no processo em que o ex-presidente Jair Bolsonaro é acusado de tentativa de golpe de Estado. Nesta segunda-feira, 19, o Supremo Tribunal Federal (STF) começou a interrogar as testemunhas. A audiência é conduzida pelo relator do caso, ministro Alexandre de Moraes.

As ordens, segundo ele, partiram da então secretária de Segurança Pública da Pasta, Marília Ferreira de Alencar. “Recebi duas demandas, que passaram direto dela para mim. A primeira foi a análise de dados de concentração de votos acima de 75%, tanto para Lula quanto para Bolsonaro. Solicitou para mim que eu fizesse algumas impressões e algumas planilhas. A segunda foi a distribuição da Polícia Rodoviária Federal (PRF), um painel para possível tomada de decisão”, disse no depoimento.
Vieira disse que, na época, suspeitou que aqueles dados seriam usados para fins eleitorais e percebeu enviesamento dos pedidos que recebia dos superiores. Em outro pedido que relatou ter recebido, Marília teria encomendado uma análise sobre possíveis correlações entre votos em Lula e áreas dominadas pelo Comando Vermelho.
O trabalho foi solicitado após o petista fazer uma agenda de campanha no Complexo do Alemão, comunidade do Rio de Janeiro. Na época, aliados de Jair Bolsonaro usaram o ato de campanha para associar o adversário ao crime organizado.
“Foi pedido uma análise do seguinte aspecto: cruzar todas as urnas em territórios sob o comando vermelho para cruzar e ver se havia alguma correlação ou causalidade. O resultado foi inconclusivo”, disse Vieira.