30 de junho de 2025
Politica

Depoimento de Freire Gomes: os 5 principais pontos das declarações do ex-chefe do Exército ao STF

RIO E BRASÍLIA – O ex-comandante do Exército e general da reserva Marco Antônio Freire Gomes prestou depoimento ao Supremo Tribunal Federal (STF) nesta segunda-feira, 19, e confirmou que recebeu um plano do governo Bolsonaro para impedir a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

O general da reserva é uma das testemunhas de acusação no processo em que o ex-presidente Jair Bolsonaro é acusado de tentativa de golpe de Estado e foi ouvido em audiência conduzida pelo relator do caso, ministro Alexandre de Moraes.

Primeira Turma do STF
Primeira Turma do STF

Reuniões com Bolsonaro, ministro e chefes das Forças

O ex-comandante do Exército confirmou que se reuniu com o então ministro da Defesa Paulo Sérgio Oliveira, os outros dois chefes das Forças Armadas e Jair Bolsonaro para discutir o conteúdo da chamada “minuta golpista”.

De acordo com Freire Gomes, em uma das reuniões, foi apresentado um documento que se assemelhava à minuta do golpe, encontrada na casa do ex-ministro da Justiça Anderson Torres.

“Talvez ele tenha nos apresentado por questão de consideração por alguns trechos do documento dizer respeito a Estado de Defesa, GLO. Estava nos dando conhecimento de que iria começar esses estudos”, afirmou Freire Gomes.

O militar acrescentou que os “considerandos” eram embasados na Constituição: “Ele apresentou esses considerandos, todos eles embasados em aspectos jurídicos, na Constituição, por isso não nos chamou atenção. Como ainda ia ser estudado, nós aguardamos uma manifestação do senhor presidente”.

O então presidente da República, Jair Bolsonaro, nas comemorações do Dia do Soldado, no Quartel-General do Exército, em Brasília, ao lado dos então comandantes das Forças Freire Gomes, Almir Garnier e Carlos Baptista Júnior
O então presidente da República, Jair Bolsonaro, nas comemorações do Dia do Soldado, no Quartel-General do Exército, em Brasília, ao lado dos então comandantes das Forças Freire Gomes, Almir Garnier e Carlos Baptista Júnior

Freire Gomes diz que se posicionou contra intervenção no processo eleitoral

O ex-comandante do Exército disse que, naquela primeira reunião, as propostas foram apresentadas como hipóteses em estudo, que ainda seriam aperfeiçoadas. Ele teria, nesses encontros seguintes, se posicionado contra a tentativa de intervir no processo eleitoral e alertado Bolsonaro dos riscos que corria em uma investida golpista.

“Eu alertei com toda a educação de que as medidas que eventualmente ele quisesse tomar, ele deveria atentar para todas as questões, desde o apoio, nacional e internacionalmente, o Congresso, a Justiça. Se ele não jogasse todos os aspectos jurídicos, além de não poder contar com nosso apoio, poderia ser enquadrado juridicamente”, disse o general, no depoimento.

Freire Gomes afirmou que a série de reuniões entre ele, os chefes da Marinha e da Aeronáutica e auxiliares de Jair Bolsonaro teve como resultado o consenso de que não havia base legal para o emprego das Forças Armadas para interferir no resultado das eleições. De acordo com seus relatos, o então ajudante de ordens da Presidência, tenente-coronel Mauro Cid, o chamou, no dia 9 de dezembro, para uma conversa com o presidente.

Pressão de ‘outros grupos’

No encontro do dia 9 de dezembro, Freire Gomes contou que o motivo do encontro seria para acalmar o presidente, que teria sido dissuadido da ideia de decretar Garantia da Lei e da Ordem, Estado de Sítio ou Estado de Defesa para evitar a posse de Lula, mas estaria sofrendo pressão de “outros grupos”. “Tinham grupos de fora, inclusive de civis, que poderiam levar o presidente a tomar outras medidas”, disse.

Segundo o ex-comandante, a chamada “Carta ao Comandante do Exército de Oficiais Superiores da Ativa do Exército Brasileiro”, manifesto foi assinado por 37 militares e recebido por Mauro Cid, foi interpretada como uma pressão para que ele aderisse a uma tentativa de golpe de Estado.

“Esse tipo de procedimento, essa carta de militares da ativa, ele é inaceitável do ponto de vista de hierarquia e disciplina do Exército. Inconcebível. E de imediato nós tomamos as providências. Não cabe a qualquer militar da ativa se pronunciar em assuntos políticos”, disse.

E acrescentou: “Embora entenda que esse movimento possa ter vindo de fora, esse procedimento de carta de militares da ativa é inadmissível no Exército. Não cabe a nenhum oficial da ativa fazer pronunciamentos políticos, muito menos se dirigir ao comandante da Força”.

Marco Antônio Freire Gomes, ex-chefe do Exército
Marco Antônio Freire Gomes, ex-chefe do Exército

Exército não violaria a Constituição

Freire Gomes afirmou ainda que avisou Jair Bolsonaro que o Exército não participaria de nenhuma iniciativa que violasse a Constituição. O ex-comandante negou que teria sugerido dar voz de prisão a Bolsonaro quando ouviu as propostas do então presidente: “Eu teria dado voz de prisão ao presidente? Não aconteceu isso, de forma alguma”, disse.

“O que alertamos ao presidente foi que ele deveria se atentar a todos esses aspectos. E que no Exército não iriamos participar de qualquer coisa que extrapolasse nossa competência constitucional”, disse o general da reserva.

Moraes repreendeu Freire Gomes

O ministro Alexandre de Moraes repreendeu o ex-comandante do Exército durante o depoimento na sede da Corte. O magistrado afirmou que o militar mudou a versão dada à PF de que o ex-comandante da Marinha almirante Almir Garnier Santos teria concordado com o plano de golpe de Jair Bolsonaro.

Questionado pelo procurador-geral da República, Paulo Gonet, sobre a anuência de Garnier com o plano de impedir a posse do presidente Lula disse não ser possível saber se houve, de fato, adesão ao intento golpista.

“Eu estava focado na minha missão de lealdade, de ser franco com o presidente. Que eu me lembre, o que o ministro da Defesa (Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira) fez foi ficar calado. O almirante Garnier não me lembro de ele ter falado (a favor do golpe). Ele demonstrou apreço. Não interpretei como nenhum tipo de conluio”, disse.

Moraes interrompeu o interrogatório e solicitou ao ex-chefe do Exército que pensasse bem antes de responder, porque “testemunha não pode omitir o que sabe”. “Se mentiu na polícia, tem que dizer que mentiu na polícia. A testemunha foi comandante do Exército, está preparado para situações de pressão”, disse o ministro do STF. “O senhor disse na polícia que Garnier se colocou à disposição do presidente. Ou o senhor falseou na polícia ou está falseando aqui”, completou.

Em resposta, Freire Gomes disse que “jamais mentiria” e que não poderia “inferir o que ele queria dizer com ‘estar com o presidente’”.

 

 

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