30 de junho de 2025
Politica

A cooperação internacional é a chave para enfrentar o crime organizado na era digital

Vivemos numa era em que o crime organizado deixou de ser um problema isolado de cada país e se tornou um desafio de proporções globais. O progresso tecnológico, a internacionalização das economias e a crescente interconexão entre as sociedades derrubaram fronteiras, acelerando e expandindo os tentáculos das organizações ilícitas por todo o mundo.

Este diagnóstico emergiu claramente durante um recente encontro organizado pela Fundação Magna Grécia no Rio de Janeiro, com a participação de especialistas e autoridades policiais, judiciais e legislativas do Brasil e da Itália. Um dos principais consensos foi o de que o combate ao crime organizado na era digital e a punição dos seus membros dependem de novas regulamentações a serem adotadas pelos respectivos parlamentos, no sentido de modernizar as instituições com o uso das mesmas ferramentas tecnológicas empregadas nessas atividades ilícitas.

Inovações como a inteligência artificial, o blockchain e as redes sociais impulsionam as relações financeiras, o comércio internacional e permitem debates plurais e democráticos. No entanto, os avanços tecnológicos podem ser usados para o bem ou para o mal.

O crime organizado apropriou-se desses meios para sofisticar, expandir e dar escala às suas operações, como o tráfico de drogas e armas, a exploração de pessoas, a lavagem de dinheiro e o jogo ilegal, muitas vezes contornando as fronteiras tradicionais e dificultando as investigações.

Segundo um estudo recente do professor Antonio Nicaso, coordenador do CYBREC, centro de pesquisa da Fundação Magna Grécia, são evidentes as conexões de organizações como o Comando Vermelho (CV) e, principalmente, do Primeiro Comando da Capital (PCC) com a facção mafiosa italiana ‘Ndrangheta. Prisões e grandes apreensões nos portos brasileiros e europeus ilustram apenas a face visível, ou “offline”, do problema. Existe uma dimensão “online” ainda maior, sofisticada e transnacional, em que ataques cibernéticos e operações financeiras em criptomoedas desafiam as autoridades de todo o mundo.

A cooperação entre as autoridades do Brasil e da Itália, países estratégicos nas operações criminosas, avançou muito nas últimas décadas com resultados muito promissores. No ano passado, os dois governos assinaram um acordo de intenções que visa estabelecer um protocolo especificamente voltado para o cibercrime.

Experiências como a da Direção Investigativa Antimáfia (DIA) na Itália demonstram como a integração entre diferentes órgãos do Estado traz eficiência no combate ao crime. O Brasil, por sua vez, é uma referência internacional na digitalização dos serviços públicos e tem trabalhado na busca por normas e mecanismos de regulamentação.

O general Michele Carbone, comandante da DIA, enfatizou que estratégias como o “follow the money”, ou seja, seguir o dinheiro, permanecem essenciais, mas encontram obstáculos nos paraísos fiscais e no universo das criptomoedas. Por isso, em tempos de redes criminosas fluidas, híbridas e globais, é também fundamental evoluir na harmonização das legislações.

Se, por um lado, o progresso tecnológico é inevitável, por outro, não devemos nos assustar. O caminho é a busca por soluções utópicas, e não distópicas para a sociedade. Como o átomo, a tecnologia pode ser destrutiva, mas é também fonte de vida e progresso.

 

 

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