1 de julho de 2025
Politica

O velho esquerdismo está morrendo junto com o mundo onde ele fazia sentido

A dinâmica social e econômica do mundo mudou, e com ela, muitos dos ideais que moldaram a esquerda tradicional perderam força. Os pilares progressistas que, no passado, mobilizaram trabalhadores, estudantes, religiosos e intelectuais já não despertam o mesmo entusiasmo. A distribuição de renda, por exemplo, uma das bandeiras mais emblemáticas da esquerda, passou a ser vista com desconfiança por uma classe média sobrecarregada por impostos e serviços públicos precários.

Essas pessoas não aceitam mais bancar a conta de um fosso social que a política brasileira nunca conseguiu resolver, e que, muitas vezes, é aprofundado por um Estado que gasta quantias escandalosas com privilégios, mordomias e estruturas pesadas e ineficientes.

A esquerda precisa reaprender a escutar e voltar a viver o cotidiano da população, agindo como presença e apoio concreto, e conectada com o que mobiliza as pessoas hoje em dia. 
A esquerda precisa reaprender a escutar e voltar a viver o cotidiano da população, agindo como presença e apoio concreto, e conectada com o que mobiliza as pessoas hoje em dia. 

Enquanto isso, a ideia de emprego formal derrete e já não é a ambição de grande parte da população, sobretudo dos jovens. A carteira assinada perdeu o brilho e, nas redes, é vista com desdém. Empreender, trabalhar por conta própria, buscar autonomia são os novos sonhos.

Nesse ambiente, a ideia da meritocracia oferece uma narrativa muito apta aos dias atuais, de que o sucesso depende do esforço de cada um, sem considerar os diferentes pontos de partida.

A esquerda que enxerga o mundo por uma lógica de tutela e proteção estatal tem dificuldades em dialogar com essa nova realidade. O conflito social não desapareceu, mas deixou de ser centrado na relação entre patrões e empregados. Hoje, ele se dá principalmente entre quem tenta sobreviver sozinho e quem representa estruturas públicas caras, lentas, distantes e que são vistas como algo que mais atrapalha do que ajuda.

A crise é, portanto, mais profunda do que uma eventual derrota eleitoral ou queda de popularidade. É uma crise de representatividade. As bases que fundaram partidos progressistas, como os sindicatos, movimentos sociais e pastorais católicas, perderam capilaridade.

Igrejas evangélicas ocuparam o cotidiano com acolhimento, exercício da fé e foco em resultados familiares práticos e tradicionais, mais próximos da direita. A esquerda, que antes era corpo e voz das populações religiosas, hoje fala de longe, com termos técnicos e bandeiras entendidas como equivocadas. Não tem perdido apenas votos nesses ambientes. Perde vínculo.

Quando criticada, a resposta costuma vir com ares de superioridade, como se a população estivesse errada por não entender o valor do projeto que considera o único correto, o que demonstra estar perdida em um labirinto de espelhos.

A eleição de Lula, em 2022, nada trouxe de novo em termos de ideias. Foi resultado de uma conjuntura de medo, não de entusiasmo. O centro político votou na defesa da democracia, mesmo cansado do projeto petista. Assim, a vitória foi dada por um voto útil, sem paixão. E esse tipo de contexto não se repete com facilidade.

Sem uma ameaça explícita para se escorar, a esquerda precisa enfrentar suas salas vazias de povo. Se surgir um conservador equilibrado, com discurso moderado e apelo popular, o progressismo corre o risco de perder um dos últimos argumentos que ainda lhe garante fôlego, que é a demonização dos adversários.

O que resta, então, é encarar a realidade e construir novas bases, a partir de outro lugar. Esse lugar pode ser o humanismo centrado na dignidade de todos os grupos, na prosperidade das famílias, na empatia e na valorização da vida humana. Não como slogan, mas como prática política concreta. A esquerda precisa reaprender a escutar e voltar a viver o cotidiano da população, agindo como presença e apoio concreto, e conectada com o que mobiliza as pessoas hoje em dia.

Se conseguir atravessar esse caminho, pode se renovar. Caso contrário, seguirá sobrevivendo de memórias e sustos, aprisionada à polarização, submetida aos ventos da sorte e aos erros dos adversários, sem fazer a travessia para o presente e muito menos para o futuro.

 

 

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