Espião russo confessou ter usado passaporte brasileiro falso e pediu para ser extraditado; assista
Apontado como espião russo, Sergei Vladimirovich Cherkasov admitiu ter usado passaporte falso brasileiro, mas não quis informar o motivo da fraude.
Em depoimento prestado ao Supremo Tribunal Federal (STF), em novembro de 2022, ele confessou que se passou por Victor Muller Ferreira.
Sergei foi ouvido pelo juiz Lucas Nogueira Israel, auxiliar do gabinete do ministro Edson Fachin, no processo em que a Rússia pediu sua extradição.
O suposto espião fez uso do direito ao silêncio e não quis responder às perguntas. Ele negou ter interesse em solicitar refúgio no Brasil e pediu para ser extraditado.
“Só gostaria de reiterar que eu quero ser extraditado para a Rússia. Eu concordo com as acusações que a Rússia fez. Eu pretendo responder aos fatos dos meus crimes que são alegados pela Rússia no meu Estado, o mais rápido possível”, declarou na audiência.
A Rússia pediu a extradição de Sergei alegando que ele é procurado por participação em uma rede de tráfico de drogas. Em troca, o país se comprometeu a “fornecer a assistência jurídica semelhante ou outra” ao Brasil.
Em dezembro de 2024, Fachin negou a extradição. O ministro justificou que Sergei ainda tem “pendências penais” no Brasil. Ele responde a processos por possíveis atos de espionagem, lavagem de dinheiro, corrupção passiva e uso de documento falso.
“A execução da extradição está condicionada à conclusão das apurações e processos relativos aos fatos delituosos de competência da Justiça brasileira”, escreveu o ministro.
Na decisão, Fachin afirmou que não cabe ao Supremo Tribunal Federal decidir sobre a “liberação antecipada” do russo. Segundo a jurisprudência do STF, essa seria uma prerrogativa exclusiva do presidente da República.

Sergei foi preso pela Polícia Federal em abril de 2022 no aeroporto internacional de Guarulhos, em São Paulo, ao desembarcar com o passaporte falso em nome de Victor Muller Ferreira. Ele também tinha outros documentos falsos, como Carteira de Trabalho, RGs emitidos em São Paulo e no Distrito Federal, CNH, outros passaportes e um documento de identidade da Argentina.
Segundo a investigação, os documentos falsificados eram usados por ele desde pelo menos 2012. O objetivo seria usar a identidade brasileira para conseguir cidadania portuguesa e, com isso, se tonar cidadão membro da União Europeia.





O espião vivia em São Paulo e se passava por brasileiro. Ele usou a identidade falsa para estudar na Universidade John Hopkins, nos Estados Unidos, de onde tentou conseguir trabalho em agências governamentais e internacionais. Sergei conseguiu um estágio no Tribunal Internacional em Haia, na época da invasão russa à Ucrânia, mas logo foi descoberto.
Segundo o Ministério Público Federal, que denunciou o espião por uso de documento falso, ele se valeu de “técnicas de inteligência de Estado, tais como recrutamento de colaboradores, caixa morta, análises de cenários geopolíticos, comunicação deletada, uso de documentos falsos, conforme hipótese criminal, para sustentar uma robusta estória cobertura”.