1 de julho de 2025
Politica

Lula tenta segurar a popularidade e Haddad, a credibilidade. Os dois falham

Parecia bom demais para ser verdade. E era. Ninguém esperava, nesta quinta-feira, 22, o congelamento de R$ 31,3 bilhões anunciado pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e seus colegas da equipe econômica. As maiores previsões na pesquisa do Projeções Broadcast chegaram a R$ 28 bilhões, mas a mediana foi mesmo de R$ 10 bilhões, o que indicava uma expectativa bem abaixo da paulada que foi anunciada nesta quinta pelo ministro dos Transportes, Renan Filho. (Não, você não leu errado. O ministro dos Transportes “furou” os colegas da equipe econômica e divulgou o congelamento antes. Será que foi vingança porque terá seu orçamento bloqueado?)

Se Haddad esperava com isso passar credibilidade e comprometimento com o aperto fiscal, não foi o que aconteceu. Como em todas as relações, não importa o que você diz, mas sim o que o outro entende. A comunicação truncada foi, mais uma vez, o problema do governo. O ministro falou e falou sobre o contingenciamento de R$ 20 bilhões, o bloqueio de R$ 10 bilhões, mas quis “esconder” para depois das 17h, depois de o mercado fechar, a terceira medida: o aumento de impostos.

Fernando Haddad, ministro da Fazenda, ao lado do presidente Lula
Fernando Haddad, ministro da Fazenda, ao lado do presidente Lula

Por mais que escolha verbos diferentes (equalizar, fechar brechas) o governo subiu alíquotas do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) de diversas transações. E, mesmo antes de fechar, o mercado foi entendendo que o ajuste fiscal não se tratava de corte de despesas apenas, mas de aumento de arrecadação.

Ou seja, dá-se uma segurada nos gastos agora, mas sobe imposto também. Contingencia-se R$ 20 bilhões de cá, aumenta-se mais R$ 20 bilhões em impostos de lá (vai cair pra R$ 18 bilhões o que a Receita vai arrecadar a mais com o IOF, já que o governo teve que recuar). Noves fora, a paulada não é tão paulada assim, vai ficar mais próxima daquilo que os analistas estavam prevendo mesmo.

É assim que se perde credibilidade – e popularidade. Nem precisamos entrar na questão de que a equipe econômica teve que recuar de parte das medidas do IOF meras horas depois de anunciá-las. Mesmo antes, tentar vender o pacote de ajuste fiscal como um apertar de cintos foi menosprezar a inteligência do mercado e de toda a população.

Entre as medidas de aumento de imposto, está a alta de alíquota de cartão de crédito internacional (de 3,38% para 3,5%) e a de compra de moeda em espécie e cartão com conta no exterior (de 1,1% para 3,5%), que atinge quem usa cartões de empresas como Nomad e Wise e contas em dólar que os bancões criaram nos últimos anos para concorrer com elas.

Haddad disse várias vezes que se tratava de uma “equalização” e a Fazenda chegou a omitir da apresentação feita durante a coletiva que a taxa de 2025 para os cartões internacionais era menor do que a que será praticada a partir desta sexta-feira. Uma tentativa efêmera de não divulgar o que rapidamente foi percebido: ficará mais caro levar dólares e outras moedas para viajar para o exterior.

A insistência do ministro em dizer que as pessoas físicas não serão atingidas é, mais uma vez, ignorar o brasileiro – e o eleitor – de classe média. Aquele que já soube esta semana que vai pagar a conta de luz de graça das classes mais pobres para ajudar Lula a subir uns pontos nas pesquisas. Nos últimos meses, Lula e a ala política tentam segurar a queda na popularidade. Haddad e a ala econômica, manter a credibilidade. As duas partes estão falhando.

 

 

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