Com PSD e MDB distantes, Lula aposta em palanques estaduais com as siglas para 2026
Com PSD e MDB cada vez mais distantes de seu projeto de reeleição, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem apostado em alianças estaduais com as duas siglas para garantir palanques pelo País em 2026. Levantamento do Estadão indica que o PT pode caminhar para uma composição com MDB ou PSD em pelo menos 10 Estados — seja apoiando candidatos dessas legendas ou indicando nomes para vice ou Senado.
A estratégia, porém, carrega fragilidades, já que os acordos locais podem ruir caso um dos dois decida seguir caminho próprio na disputa presidencial. Ambos os partidos consideram lançar candidaturas ou apoiar adversários de Lula já no primeiro turno, o que torna incerto qualquer tipo de alinhamento.
Apesar de ocupar três ministérios, o MDB trata como remota a possibilidade de compor a chapa de Lula. Liderado pelo deputado federal Baleia Rossi (SP), o partido convive com importantes divisões regionais: enquanto no Nordeste há maior afinidade com Lula, no Centro-Oeste e em outras regiões do País a legenda está mais próxima da direita e do bolsonarismo.

Reflexo dessa divisão é o fato de que quase metade da bancada do MDB assinou o pedido de urgência do projeto que anistia os envolvidos nos atos golpistas de 8 de janeiro. Internamente, a avaliação é que uma aproximação com Lula em 2026 pode aprofundar divisões na legenda e ainda comprometer a eleição dos deputados federais, importante para garantir um generoso fundo eleitoral à sigla.
Em 2022, justamente para evitar um racha interno, o MDB lançou a então senadora Simone Tebet como candidata à Presidência da República e, no segundo turno, liberou seus filiados, sem declarar apoio oficial a Lula ou a Bolsonaro. Hoje, segundo emedebistas ouvidos pelo Estadão, a tendência é o MDB não apoiar Lula nem lançar candidato próprio. O cenário só mudaria se Tarcísio de Freitas (Republicanos) disputasse a Presidência. Nesse caso, o MDB tende a apoiá-lo, já que o governador foi o principal fiador da reeleição de Ricardo Nunes e sua saída abriria espaço para o emedebista tentar o governo paulista
A possibilidade de o MDB integrar o projeto de reeleição de Lula também ficou ainda menor depois que o partido iniciou tratativas para uma federação com o Republicanos, legenda de Tarcísio. O governador não tem participado das conversas, mas vê a aliança com bons olhos por considerar que as propostas econômicas dos dois partidos para o País são parecidas. Pesa ainda a recente articulação do ex-presidente Michel Temer (MDB) para reunir nomes da direita em torno de um projeto comum, no chamado Movimento Brasil.
No PSD, o presidente nacional Gilberto Kassab já verbalizou diversas vezes intenção de lançar candidatura própria à Presidência em 2026. A entrada do governador gaúcho Eduardo Leite no partido reforçou esse plano. Assim como o MDB, o PSD enfrenta divisões regionais e encara um desafio adicional: o partido ocupa a vice de Tarcísio em São Paulo e pretende manter esse espaço em 2026, mas com o próprio Kassab assumindo o posto.
Alianças estaduais compensam distanciamento nacional
Diante desses desafios, Lula tem apostado mais em nomes do MDB e do PSD do que nas siglas em si — movimento que se reflete nas costuras estaduais.
O Estadão mapeou a situação dos palanques de Lula em todas as 27 unidades da federação. No caso do MDB, as alianças com o PT estão concentradas sobretudo no Norte e no Nordeste. Em Alagoas, o PT deve apoiar a candidatura de Renan Filho (MDB), atual ministro dos Transportes. No Pará, tudo indica que Lula subirá no palanque da vice-governadora Hana Ghassan (MDB), apoiada pelo atual governador Helder Barbalho, do mesmo partido. Helder já declarou que irá se desincompatibilizar do cargo no início do próximo ano. Ele é cotado para disputar uma vaga no Senado, mas também é visto como o principal nome do MDB para ser vice de Lula, caso o partido embarque no projeto do petista. Além de apoiar Hana, o PT quer indicar o nome para a vice da chapa.
Assim como Helder, a governadora do Rio Grande do Norte, Fátima Bezerra (PT), também deve deixar o posto para concorrer a uma vaga no Senado, abrindo caminho para o vice-governador Walter Alves (MDB) sucedê-la. Alves, no entanto, já declarou que não pretende concorrer, mas aliados acreditam que ele pode estar mudando de ideia. Sem ele, o nome de Fátima Bezerra deve ser o atual secretário estadual da Fazenda, Cadu Xavier (PT).
Na Bahia, um dos Estados onde Lula foi mais votado em 2022, o governador Jerônimo Rodrigues (PT) tentará a reeleição, e a disputa pela vaga de vice deve ficar entre MDB e PSD. Mesmo que o MDB seja o escolhido, o atual vice, Geraldo Júnior, não deve permanecer na chapa. Apesar de fiel a Jerônimo, o vice perdeu força após ficar em terceiro lugar na disputa pela prefeitura de Salvador no ano passado e hoje enfrenta resistência dentro do próprio grupo político. Com poucos nomes competitivos no Estado, o MDB corre o risco de perder a vice para o PSD. Uma saída seria acomodar um dos dois partidos na chapa ao Senado — mas há um impasse: dois petistas já se colocaram como pré-candidatos, Rui Costa, ministro da Casa Civil, e o senador Jaques Wagner, que deve buscar a reeleição.
O cenário é parecido no Ceará, onde o governador Elmano de Freitas (PT) deve concorrer à reeleição e o MDB também corre o risco de perder a vaga de vice. Embora Jade Romero ocupe hoje o posto, a possível candidatura do deputado federal Eunício Oliveira — principal liderança emedebista no Estado — ao Senado pode alterar a composição da chapa.
Em Rondônia, o PT não tem nome definido e pode apoiar o MDB caso o senador e ex-governador Confúcio Moura, aliado de Lula, entre na disputa. O partido não elegeu nenhum prefeito no Estado em 2024 e tem apenas um deputado estadual.
Fora da órbita emedebista, Lula também tem apostado alto em nomes do PSD, sobretudo nos grandes colégios eleitorais. No Rio de Janeiro, por exemplo, a tendência é apoiar o prefeito Eduardo Paes (PSD), que ainda não confirmou se será candidato ao governo do Estado. Washington Quaquá, vice-presidente do PT e atual prefeito de Maricá (RJ), defende o nome do ex-prefeito Fabiano Horta para a vice na chapa. Em Minas, Lula já afirmou publicamente que quer ver o ex-presidente do Senado Rodrigo Pacheco (PSD) governador. Pacheco, que tem convite para se filiar ao União Brasil, ainda não disse se aceita a missão, e uma alternativa a ele é o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, também do PSD.
Em seu Estado natal, Pernambuco, Lula é disputado pela governadora Raquel Lyra, que trocou o PSDB pelo PSD para se aproximar do governo federal, e pelo prefeito do Recife, João Campos, do PSB. E no Amazonas o candidato de Lula deve ser o senador Omar Aziz (PSD), com PT pleiteando a vice ou a vaga ao Senado.
Em Sergipe, o PT não bateu o martelo, mas uma ala do partido defende apoiar a reeleição do governador Fábio Mitidieri (PSD) e indicar sua vice. O ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Márcio Macedo, um dos que apoiam essa aliança, disse que Mitidieri votou em Lula na eleição de 2022 e quando deputado federal foi contra o impeachment de Dilma Rousseff (PT).
PT terá candidatura própria em ao menos oito Estados
Mesmo com o foco nas alianças, o PT pretende lançar candidaturas próprias em pelo menos oito estados: Bahia (governador Jerônimo Rodrigues), Ceará (governador Elmano de Freitas), Maranhão (vice-governador Felipe Camarão), Paraná (Enio Verri, diretor-geral brasileiro da Itaipu Binacional), Piauí (governador Rafael Fonteles), Rio Grande do Norte (secretário estadual da Fazenda, Cadu Xavier), Rio Grande do Sul (Edegar Pretto, presidente da Conab) e Santa Catarina (Décio Lima, presidente do Sebrae).
No grupo dos Estados que o PT ainda tenta conquistar, o Rio Grande do Sul aparece como uma das apostas. Em 2022, Edegar Pretto ficou a pouco mais de 2,4 mil mil votos atrás do então governador Eduardo Leite (PSD), que avançou para o segundo turno e foi reeleito.
“A bancada do PT é a maior na Assembleia Legislativa e a nível nacional também”, afirma Pretto, ressaltando que o partido ainda não abriu o debate interno sobre 2026, mas que seu nome surge naturalmente em razão do desempenho na última eleição.
“Nossa prioridade é configurar uma frente o mais ampla possível. Temos expectativa de manter uma aliança com os partidos que estiveram conosco em 2022 (PV, PCdoB, PSOL e Rede). Estamos dialogando com o PSB, do vice-presidente Geraldo Alckmin, e com o PDT, que já esteve conosco. E queremos ter a oportunidade de dialogar com os demais partidos da base do presidente Lula”, acrescenta.
A expectativa é que a chapa ao Senado seja composta por Manuela D’Ávila, que deixou o PCdoB e foi convidada a se filiar ao PT e ao PSOL, e pelo deputado federal Paulo Pimenta, ex-chefe da Secretaria de Comunicação (Secom) do governo Lula.
Além de MDB e PSD, o PT busca repetir em 2026 a lógica das eleições municipais: apoiar candidaturas competitivas, mesmo que não sejam do partido. Outros palanques já começam a se desenhar, como o do PSB em São Paulo, com o ministro do Empreendedorismo, Márcio França, ou o vice-presidente Geraldo Alckmin; no Amapá, onde o PT trabalhará pela reeleição do governador Clécio Luís (Solidariedade); e no Mato Grosso, onde a aposta deve ser no ex-prefeito de Rondonópolis José Carlos do Pátio, do PSB.
No Distrito Federal, Jacy Moura, presidente do PT local, afirma que há duas pré-candidaturas colocadas: a do presidente da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI) e ex-interventor federal no Distrito Federal, Ricardo Cappelli (PSB), e a de Leandro Grass (PV), presidente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e nome do grupo na eleição passada. Uma ala do PT defende candidatura própria, mas, segundo Jacy, a decisão só deve sair em julho, após reunião do partido. A única certeza é que a deputada federal Erika Kokay (PT-DF) disputará o Senado.
Poucos partidos do Centrão aparecem no xadrez eleitoral de Lula para 2026. Por enquanto, a exceção é a Paraíba, onde o PT prioriza um palanque competitivo e deve apoiar o grupo do governador João Azevedo (PSB), que será candidato ao Senado.
Há três nomes cotados para suceder Azevedo: o vice-governador Lucas Ribeiro (PP), que é filho da senadora Daniella Ribeiro (PP-PB) e sobrinho do deputado federal Aguinaldo Ribeiro (PP), o prefeito de João Pessoa, Cícero Lucena (PP), e o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB) — uma liderança do PT paraibano avalia que Motta teria o apoio de Lula se de fato for candidato.
PT enfrenta escassez de nomes em alguns Estados
A pouco mais de um ano das eleições, Lula ainda enfrenta dificuldades para montar palanques em estados estratégicos. No Mato Grosso do Sul, o PT apoiou o governador Eduardo Riedel (PSDB) no segundo turno de 2022, integra sua base na Assembleia Legislativa e tem duas secretarias executivas no governo. O partido quer manter a aliança para 2026, mas em troca pede neutralidade de Riedel na disputa presidencial e uma indicação ao Senado.
Aliados de Riedel veem dificuldades, especialmente na formação da chapa ao Senado, que deve incluir Reinaldo Azambuja e um nome de Tereza Cristina (PP). A ministra do Planejamento, Simone Tebet (MDB), corre por fora e já declarou apoio à reeleição, mas correligionários do governador também dizem que o arranjo é de difícil acerto. O cenário, porém, pode mudar conforme a decisão de Riedel sobre seu futuro partidário — se permanece no PSDB ou migra para outra legenda, como o PSD.
Além disso, Lula ainda não tem palanque definido em Estados como Goiás, onde não está descartado apoiar o ex-governador tucano Marconi Perillo, Espírito Santo, Roraima, Tocantins e Acre. Em boa parte desses Estados, o principal problema é a falta de quadros do PT para disputar as eleições, que se soma à força do bolsonarismo.
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