30 de junho de 2025
Cultura

‘Periferia do Futuro’ profissionaliza jovens negros de Salvador para o mercado da moda

Reportagem: Thaís Seixas

Foto: Divulgação | Redes Sociais

Letícia Kethelen tem 16 anos, é moradora do Cabula e, em 2025, celebrou o primeiro trabalho como modelo fotográfica, para a divulgação de um bloco de Carnaval. Taimara dos Santos, de 33 anos, mora em Brotas e, há pouco mais de um mês, tem colocado em prática o sonho de infância de ser modelo. As duas fazem parte do projeto social e educacional Periferia do Futuro, criado pelo também modelo e empresário baiano Carlos Cruz, que oferece diferentes cursos e promove a inserção dos participantes no mercado de trabalho. 

A história de Carlos Cruz no mundo da moda começou quando ele foi descoberto, dentro de um ônibus, pelo coreógrafo, professor de dança e produtor cultural Sivaldo Tavares, idealizador da agência PJT Models. Desde então, nove anos se passaram, tempo em que Carlos consolidou a carreira de modelo, atuando em diferentes países. De volta à capital baiana, ele resolveu contribuir com o mercado da moda na cidade e possibilitar que mais pessoas tenham condições de atuar neste ramo. 

Carlos Cruz. Foto: Bruno Varoto | Divulgação

Criada há um ano e meio, o Periferia do Futuro é um dos projetos ‘mais pretos da cidade’, como destaca Carlos. “Hoje, temos um grupo de 247 pessoas, com 120 modelos ativos, que são de comunidades e tiveram suas histórias transformadas. Além de tudo, falamos de diversidade e inclusão, pois há modelos com deficiência, com autismo e pessoas trans. Temos esse cuidado porque sabemos que, quanto mais pessoas estiverem neste mundo, mais transformações vamos conseguir fazer através do projeto”.   

Esse é um dos diferenciais apontados pela modelo iniciante Taimara dos Santos, que começou a participar do projeto recentemente e viu nele a possibilidade de retomar um desejo antigo. “Tem sido um divisor de águas para mim, porque não é só modelar, não é só passarela. Há uma causa, uma luta, e é isso que me instiga, porque aqui eu me deparei com vidas. Para além de um sonho, é também saber respeitar o espaço do outro”, reflete ela. 

Taimara diz que participação no projeto é realização de um sonho. Foto: Reprodução | Redes Sociais

Da descoberta ao primeiro trabalho

Atualmente, o Periferia do Futuro conta com o apoio institucional da Fundação Gregório de Mattos (FGM), que disponibiliza os espaços do Café-Teatro Nilda Spencer e a Sala Multiuso Nelson Maleiro para os ensaios, sempre às terças-feiras. Foi durante um destes encontros que Letícia Kethelen contou como foi ‘descoberta’ e, neste ano, conseguiu realizar o primeiro trabalho como modelo. Ela lembra que chegou até o projeto por meio da mãe de uma amiga, que conhecia Sivaldo Tavares. Após enviar fotos e ir a um ensaio, a modelo chamou a atenção dele e permaneceu no grupo.

“Logo depois que cheguei, consegui o meu primeiro trabalho, que foi junto com Carlos. Eu tirei fotos para o Bloco Proibido Proibir e fiquei muito animada. Não imaginei que ia evoluir assim em tão pouco tempo, então foi muito bom”. 

Letícia ressalta ainda a preparação dos participantes para atuarem no mercado profissional. “Todo dia a gente aprende uma coisa nova. E também estamos aqui para aprender a ouvir um ‘não’, porque a moda não é fácil. A gente sabe que tem que adaptar a moda, mas estamos cientes de que podemos fazer algo diferente”. 

Carlos e Letícia em campanha fotográfica. Foto: Divulgação

Geração de emprego e renda

Apesar dos olhares serem voltados para os modelos que desfilam nas passarelas ou estampam campanhas publicitárias, o Periferia do Futuro movimenta uma grande cadeia produtiva, que envolve maquiadores, cabeleireiros, produtores, fotógrafos, contratantes e outros profissionais que atuam direta ou indiretamente no processo. 

Entre os eventos que contaram com a participação de integrantes do projeto, estão o Movimento Boca de Brasa, realizado pela FGM no mês de março; o Parque Shopping Fashion Week, idealizado pelo próprio Carlos Cruz; e no Quintal dos Pretos, que reuniu moda e samba.

“Foi um desfile gigantesco, para mais de mil pessoas, com 70 modelos. Tudo isso movimenta a cadeia econômica do projeto, porque os meninos ganham cachê e ajuda de custo para ir, levando o sustento para casa através do projeto. A gente também trabalha com receptivo e com outras questões da arte, como maquiagem e cabelo, fazendo esse direcionamento para o mercado de trabalho. É importante a juventude estar inteirada na arte, mas sabendo que precisa levar o pão para casa”, conclui. 

Quem tiver interesse em contratar o Periferia do Futuro, pode acionar a P&M Marketing e Assessoria (@marketingeassessoriaa) ou o próprio Carlos Cruz (@carloscruzmodel). 

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *