30 de junho de 2025
Politica

Lula faz ‘morde e assopra’ com Marina: elogia em público, mas dá aval a derrotas que a enfraquecem

Apesar de o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ter ligado para Marina Silva para dizer que ela agiu corretamente ao se retirar de uma comissão no Senado após ser ofendida nesta terça-feira, 26, a postura do petista em relação à ministra do Meio Ambiente tem sido de abandono desde o início do governo. Marina coleciona pelo menos seis grandes derrotas na atual gestão. E, na maioria das vezes, o Palácio do Planalto ajudou a articular a rasteira.

Marina perdeu embates na exploração da Margem Equatorial, nas mudanças na lei de licenciamento ambiental, no marco temporal para demarcação de terras indígenas, na criação da Autoridade Climática, nas atribuições do próprio ministério e na presidência da COP-30.

A base governista no Congresso também deixa a ministra sem respaldo. Na reunião da Comissão de Infraestrutura do Senado marcada por intenso bate-boca, Marina ficou horas sendo alvo de ataques sem que senadores aliados de Lula a defendessem com ênfase. O Planalto não acionou “tropa de choque” para blindá-la.

Governo escanteia Marina desde o primeiro ano

A ministra do Meio Ambiente foi escanteada pela primeira vez ainda no início do atual mandato de Lula. Entre maio e junho de 2023, a Câmara e o Senado aprovaram a Medida Provisória (MP) que definia a estrutura da Esplanada, com um duro golpe para a pasta de Marina, que perdeu o controle sobre o Cadastro Ambiental Rural (CAR) e a Agência Nacional de Águas (ANA). A articulação, como mostrou a Coluna do Estadão, foi feita por partidos da base aliada. Na ocasião, o relator do texto, Isnaldo Bulhões (MDB-AL), admitiu ao Estadão/Broadcast que o governo não fez esforço para defender Marina.

Ainda em 2023, Lula chegou a vetar trechos do marco temporal para demarcação de terras indígenas, aprovado pelo Congresso, mas o governo abriu mão de articular para manter a decisão presidencial e os vetos foram derrubados. A ministra é contra a tese, defendida pelo agronegócio. O caso está em disputa no Supremo Tribunal Federal (STF).

Lula avançou, desde então, com uma espécie de morde e assopra. Se, por um lado, reforça elogios públicos à ministra, de outro, deixa claro que ela não vai vencer determinadas batalhas no governo e no Congresso.

Derrotas em série de Marina

Um dos casos mais recentes e simbólicos de derrota interna de Marina foram as críticas do próprio Lula à demora do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) em dar aval para que a Petrobras explore petróleo na Margem Equatorial. “Se depois a gente vai explorar, é outra história. O que não dá é para a gente ficar nesse lenga-lenga”, disse o presidente. Marina é contra, mas a medida é defendida pelo presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), e pelo líder do governo no Congresso, Randolfe Rodrigues (PT-AP).

A ministra também perdeu a batalha no Senado sobre mudanças defendidas pelo agronegócio na lei de licenciamento ambiental, sem qualquer esforço do Planalto para auxiliá-la na articulação. A expectativa é que as medidas também tenham aval da Câmara.

Uma das principais promessas de Marina ao assumir o ministério foi a criação da Autoridade Climática. Como mostrou a Coluna do Estadão, contudo, o governo segue sem previsão de colocar o órgão para funcionar. A vontade de Marina, nesse caso, esbarra na Casa Civil, chefiada por Rui Costa.

A ministra chegou a ser cogitada, ainda, para a presidência da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, que ocorre em novembro em Belém (PA), mas perdeu o posto para o diplomata André Corrêa do Lago. O argumento nos bastidores foi de que Marina não tinha habilidade para o diálogo.

Atuação de Marina reforça o próprio isolamento e falta de diálogo

O problema de Marina com o Congresso, contudo, vai além do fato de ela não ter suas pautas respaldadas pelo governo Lula. Deputados e senadores da própria bancada ambientalista criticam a indisposição da ministra para o diálogo. Dizem que ela pouco participou, por exemplo, de tratativas sobre a elaboração do projeto de lei do hidrogênio verde, que eram feitas com as pastas da Fazenda e de Minas e Energia.

Também há críticas de que o desmatamento na Amazônia tem aumentado no governo Lula, o que tira ainda mais força da ministra, tanto internamente quanto nas negociações com o Legislativo. Em abril, houve alta de 55% em comparação com o mesmo mês do ano passado.

Veja as seis principais derrotas de Marina

  • Exploração de petróleo na Margem Equatorial: Lula defende posição de Alcolumbre e contraria Marina
  • Licenciamento ambiental: agro avança em mudanças criticadas por Marina, sem resistência do Planalto
  • Marco temporal para demarcação de terras indígenas: veto de Lula é derrubado pelo Congresso, sem atuação da articulação política do Planalto
  • Autoridade Climática: Casa Civil barra avanço de promessa de Marina
  • Ministério do Meio Ambiente perde controle sobre Cadastro Ambiental Rural (CAR) e a Agência Nacional de Águas (ANA)
  • Presidência da COP-30: Com Marina preterida, o escolhido foi o diplomata André Corrêa do Lago
Marina Silva, ministra do Meio Ambiente, e Luiz Inácio Lula da Silva, presidente da República
Marina Silva, ministra do Meio Ambiente, e Luiz Inácio Lula da Silva, presidente da República

 

 

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