30 de junho de 2025
Politica

Ação de Eduardo Bolsonaro por sanções ao STF tem apoio de ‘bancada anti-Moraes’ no Congresso dos EUA

BRASÍLIA — “O senhor certamente está ciente do declínio dos direitos humanos no Brasil”, afirmou o deputado republicano Cory Mills numa sessão da Câmara dos Deputados americana em 21 de maio, referindo-se ao secretário de Estado, Marco Rubio. “E o que eles estão fazendo agora é uma prisão eminente e politicamente motivada contra o ex-presidente Bolsonaro. O senhor estaria considerando impôr sanções ao ministro da Suprema Corte Alexandre de Moraes?”

A pergunta, que rendeu uma resposta direta de Rubio — “Há uma grande possibilidade de que aconteça” — expôe o suporte que parlamentares republicanos têm dado aos planos de Eduardo Bolsonaro (PL-SP). O deputado federal, licenciado do mandato em março para ficar nos Estados Unidos, diz se empenhar para convencer o governo Trump a aplicar sanções contra autoridades de seu próprio País.

Eduardo Bolsonaro, Paulo Figueiredo, Cory Mills e Filipe Barros em reunião em 14 de maio de 2025 em Washington
Eduardo Bolsonaro, Paulo Figueiredo, Cory Mills e Filipe Barros em reunião em 14 de maio de 2025 em Washington

Além de Mills, da Flórida, os deputados Maria Elvira Salazar (Flórida), Rich McCormick (Geórgia), Jim Jordan (Ohio), Chris Smith (Nova Jersey) e Brian Mast (Flórida) e o senador federal Mike Lee (Utah) formam uma espécie de “bancada anti-Moraes” no Capitólio dos Estados Unidos. O grupo é reforçado pelo senador estadual Shane David Jett (Oklahoma). Entre assuntos domésticos e internacionais, eles têm direcionado críticas ao Brasil — principalmente contra Moraes.

Esses parlamentares são os principais aliados de Eduardo no Legislativo americano, e com quem o brasileiro têm feito reuniões em solo americano para discutir as investigações contra o seu pai, o ex-presidente Jair Bolsonaro. A articulação de Eduardo tem a parceria do deputado federal Filipe Barros (PL-PR) e do comunicador Paulo Figueiredo, que mora nos Estados Unidos.

Na semana anterior à pergunta a Rubio, Mills, que é presidente do Sub-comitê de Inteligência das Relações Internacionais da Câmara americana, reuniu-se com Eduardo, Figueiredo e Barros, que preside a Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional (CREDN) da Câmara dos Deputados do Brasil. Barros diz que combinou com Mills de criarem “um grupo de trabalho que trocará informações importantes sobre a democracia brasileira e possíveis interferências no nosso processo eleitoral”.

Filha de exilados cubanos, Salazar também adotou a pauta de Eduardo. Em maio de 2024, ela chegou a exibir um cartaz com o rosto de Moraes no Congresso americano enquanto criticava suas decisões judiciais. Na quarta-feira, 28, ela elogiou a decisão de Rubio de restringir visto para “autoridades estrangeiras e pessoas cúmplices na censura de americanos”. Mais cedo, o secretário de Estado havia mencionado a América Latina como um dos exemplos de aplicação.

“Que isso sirva de alerta aos tiranos e aos simpatizantes autoritários ao redor do mundo como Alexandre de Moraes: se você tentar censurar cidadãos americanos, mesmo além de nossas fronteiras, você não será bem-vindo nos Estados Unidos”, escreveu Salazar no X (antigo Twitter).

Eduardo Bolsonaro e a deputada americana Maria Elvira Salazar
Eduardo Bolsonaro e a deputada americana Maria Elvira Salazar

Mast é outro a se encontrar com Eduardo. O encontro foi no dia 15 de maio. As pautas da reunião, segundo Barros, foram “o lawfare e o ativismo judicial, a preocupação com o avanço da censura, a interferência da USAID na democracia, a proliferação das facções criminosas e a necessidade de as considerarmos como movimentos terroristas”.

Em fevereiro, McCormick publicou uma foto de um encontro com Eduardo, disse ter sido ótimo revê-lo e que o mundo não deve fechar os olhos às “ameaças que as liberdades enfrentam no Brasil”. Ele repercutiu uma teoria da conspiração segundo a qual recursos americanos teriam sido usados para interferência nas eleições de 2022 no Brasil. “O povo livre dos Estados Unidos e do mundo está com o povo do Brasil contra o comunismo e a corrupção!”, escreveu ele no Instagram.

Um mês depois, após Eduardo anunciar seu autoexílio nos Estados Unidos, McCormick afirmou que ele e e sua colega Maria Elvira Salazar tinham enviado a Trump uma carta pedindo a aplicação do Global Magnitsky Act contra Moraes. Trata-se de uma lei que permite ao governo americano impor sanções contra autoridades de outros países que violem direitos humanos, incluindo o congelamento de seus ativos e sua proibição de entrar nos Estados Unidos.

“O fato de Eduardo Bolsonaro, o mais votado deputado federal na história do Brasil e filho do ex-presidente Jair Bolsonaro, ter sido forçado a procurar exílio nos Estados Unidos demonstra a alarmante deterioração na democracia do maior país da América do Sul”, escreveu McCormick em 20 de março. Naquela ocasião, Shane Jett, senador de Oklahoma e casado com uma brasileira, disse que “Moraes está brincando com fogo”.

Outros representantes da “bancada anti-Moraes” atuam contra o ministro brasileiro. Fundador de um grupo que reúne deputados ultraconservadores, Jim Jordan preside o comitê que divulgou relatório com documentos sigilosos sobre suposta “censura do governo brasileiro” a redes sociais.

Chris Smith, por sua vez, enviou uma carta a Moraes no ano passado pedindo que o STF derrubasse a suspensão do X. Já o senador Mike Lee, que já se referiu ao menos duas vezes a Moraes como o “Voldemort brasileiro”, em referência ao vilão da série Harry Potter, foi outro a se reunir com Eduardo e Figueiredo em fevereiro.

Na quinta-feira, 29, escreveu no X: “Obrigado, Secretário Rubio! Este é um bom primeiro passo para o juiz brasileiro Alexandre de Moraes. O Global Magnitsky Act deve ser o próximo passo, e eu o encorajo a acelerar sua análise sobre a possibilidade de sancionar Moraes, responsabilizá-lo por seus ataques à democracia no Brasil e impedi-lo de emitir ordens secretas visando censurar americanos em solo americano!”

Eduardo vem provocando nos últimos dias os críticos que zombavam de sua atuação no exterior. Após a resposta de Rubio a Mills, ele escreveu nas redes sociais: “Antes, eu era chacota. Hoje, vocês me levam a sério o suficiente para me ameaçarem”, tomando para si parte da responsabilidade pelas decisões do governo Trump.

Procurados, Barros e Eduardo não responderam. O deputado federal Carlos Zarattini (PT-SP), membro da CREDN, disse não haver hoje no colegiado qualquer formalização de um grupo de trabalho binacional com o Congresso americano, como mencionado pelo bolsonarista no encontro com Mills. E chama a articulação de Eduardo de “criminosa”.

“Isso é crime de lesa-pátria, é uma traição instigar um país poderoso como os Estados Unidos contra o Brasil. A gente vai defender nossa soberania, e o STF vai defender o seu direito de tomar suas decisões. Não vai haver recuo”, afirma.

O PT entrou com uma representação na Procuradoria-Geral da República (PGR) pedindo prisão de Eduardo por atentado à soberania nacional, e na comissão de ética da Câmara pela cassação do deputado. Zarattini diz que o partido vai fazer “tudo o que for possível” para denunciar o bolsonarista.

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