1 de julho de 2025
Politica

Governo e Congresso criam ‘emendas paralelas’ e turbinam novo orçamento secreto, diz Transparência

BRASÍLIA – A ONG Transparência Brasil elaborou um estudo sobre emendas parlamentares de 2025 por meio do qual alerta para a criação do que chamou de “emendas paralelas”.

O novo dispositivo inserido no Orçamento deste ano prevê R$ 8,5 bilhões para deputados e senadores direcionarem com critérios precários de transparência, que favorecem o uso político do recurso público.

Procurado, o Palácio do Planalto não se manifestou. Cabe ao presidente da República sancionar a lei orçamentária aprovada pelo Congresso.

Presidente Lula entre Davi Alcolumbre e Hugo Motta, chefes do Senado e da Câmara, respectivamente
Presidente Lula entre Davi Alcolumbre e Hugo Motta, chefes do Senado e da Câmara, respectivamente

As emendas paralelas se misturam aos gastos do governo federal e não são identificadas como de autoria de parlamentares, embora tenham como origem as comissões temáticas da Câmara, do Senado e do Congresso.

Essas comissões já tinham o poder de movimentar R$ 11,5 bilhões no Orçamento da União. Com o recurso “paralelo” extra, o volume de emendas de comissão alcança o maior patamar desde 2020, com R$ 20 bilhões.

Evolução das emendas de comissão até criação da 'emenda paralela'
Evolução das emendas de comissão até criação da ‘emenda paralela’

As emendas de comissão se tornaram, desde 2023, um dos mecanismos usados para substituição do orçamento secreto, julgado inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal (STF), e manter a influência do Congresso sobre fatia significativa do orçamento federal.

O orçamento secreto foi revelado pelo Estadão em 2021.

As emendas de comissão são tratadas por técnicos e congressistas como uma nova versão, adaptada, das emendas do relator-geral do Orçamento, o RP 9 (nome técnico do orçamento secreto). Um relatório da Controladoria-Geral da União (CGU) consignou que elas enfraquecem políticas públicas.

“Embora direcionadas por parlamentares, elas (as emendas paralelas) poderão se misturar aos demais gastos do governo federal identificados como RP 2 [gastos discricionários do Executivo] e RP 3 [gastos com o PAC], caso o Executivo não estabeleça uma forma de rastreá-los. A prática contraria frontalmente as determinações do STF sobre o tema e se configura como mais uma nova versão do orçamento secreto”, destaca a Transparência Brasil.

O fato de o novo dispositivo ter sido viabilizado por acordo do Legislativo com o Executivo é “um agravante”, na avaliação da entidade, e “um escárnio com a demanda da sociedade por mais transparência e moralidade nos gastos públicos”.

“A criação das emendas de comissão ‘paralelas’ é mais uma das manobras do Congresso Nacional para manter o poder sobre fatia considerável do orçamento federal após o STF julgar o orçamento secreto inconstitucional”, diz o relatório.

Além da deficiência no rastreio dos parlamentares que enviam os recursos até o destino das verbas, outro problema do orçamento paralelo está na qualidade dos gastos. Dos R$ 8,5 bilhões, R$ 7,1 bilhões são direcionadas para “ações genéricas”.

“Cada emenda é pulverizada em várias outras no momento da execução da despesa, por meio de pedidos das comissões aos ministérios feitos via ofícios assinados pelos presidentes dos colegiados. É só nessa fase em que se define o destino final do recurso e o que será feito com ele, de forma pouco transparente e pouco articulada com o planejamento federal”, afirma a Transparência.

 

 

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