1 de julho de 2025
Politica

Grupo de pistolagem ‘Comando 4’ que citou Zanin, Moraes e Pacheco criou emblema com caveira

O grupo de extermínio autodenominado Comando 4 (Comando de Caça a Comunistas, Corruptos e Criminosos) tinha até uma espécie de logomarca. Uma caveira com o “C4″ estampado na testa.

A “identidade visual” dos criminosos foi descoberta pela Polícia Federal no celular de Antônio Gomes da Silva, pistoleiro que confessou ter assassinado o advogado Roberto Zampieri, conhecido como “lobista dos tribunais”, em dezembro de 2023. O advogado foi atingido por oito tiros à queima-roupa na porta de seu escritório em Cuiabá.

O emblema foi criado em novembro de 2023, em uma espécie de brainstorming no WhatsApp.

Emblema do ‘Comando 4’.
Emblema do ‘Comando 4’.

O pistoleiro conversa sobre a imagem, as palavras-chave e até o contorno das letras com o instrutor de tiro Hedilerson Fialho Martins Barbosa, dono da pistola 9 mm usada na execução de Zampieri.

“Para mim ficou top. Vou ver se passa no crivo do cel”, elogia Barbosa. “Cel” seria o coronel reformado do Exército Etevaldo Caçadini de Vargas, que também é suspeito de fazer parte do grupo.

Antônio Gomes da Silva e Hedilerson Fialho Martins Barbosa conversam sobre emblema.
Antônio Gomes da Silva e Hedilerson Fialho Martins Barbosa conversam sobre emblema.

Em seguida, o instrutor retorna com as sugestões do coronel: “Não precisa mudar nada não. Só coloca o S aí. Comunistas”.

Antônio Gomes da Silva, Hedilerson Fialho Martins Barbosa e Etevaldo Caçadini de Vargas foram presos nesta quarta-feira, 28, na sétima fase da Operação Sisamnes – o nome da ofensiva faz referência a um juiz corrupto, segundo a mitologia persa.

Segundo a PF, o C4 é uma organização criminosa especializada em espionagem e execuções sob encomenda.

Coronel Caçadini foi consultado sobre emblema.
Coronel Caçadini foi consultado sobre emblema.
Comando 4 seria o 'Comando de Caça a Comunistas, Corruptos e Criminosos'.
Comando 4 seria o ‘Comando de Caça a Comunistas, Corruptos e Criminosos’.

Menções ao senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG), ex-presidente do Senado, e aos ministros Alexandre de Moraes e Cristiano Zanin, do Supremo Tribunal Federal (STF), foram encontradas em uma agenda do coronel. A PF procura agora descobrir se houve de fato alguma articulação de atentado contra autoridades.

Ao decretar as prisões preventivas, o ministro Cristiano Zanin alertou para o “potencial bastante pernicioso” da organização.

Segundo o ministro, o grupo demonstrou capacidade de identificação, monitoramento de alvos, agenciamento de pessoal e estrutura operacional, inclusive financeira, “a denotar elevado potencial de letalidade”.

O grupo entrou na mira da Polícia Civil de Mato Grosso na investigação do assassinato de Zampieri. O “lobista dos tribunais” foi o pivô da Sisamnes, aberta em novembro do ano passado para investigar suspeita de venda de sentenças no Tribunal de Justiça de Mato Grosso e no Superior Tribunal de Justiça (STJ). Mensagens encontradas no celular dele levantaram suspeitas da compra de decisões e deram início ao inquérito.

Zampieri atuava como lobista no Tribunal de Justiça de Mato Grosso. Dois desembargadores da Corte estadual estão afastados das funções desde agosto de 2024 sob suspeita de ligação com esquema de venda de sentenças em conluio com o advogado.

Foi também por meio de Zampieri que os investigadores chegaram ao juiz Ivan Lúcio Amarante, da comarca de Vila Rica, município com cerca de 20 mil habitantes a 1320 quilômetros da capital Cuiabá. Amarante está afastado das funções desde outubro do ano passado e, nesta semana, o Supremo emitiu uma nova ordem de afastamento contra o magistrado.

COM A PALAVRA, OS ADVOGADOS SARAH QUINETTI E RONALDO LARA, QUE REPRESENTAM O CORONEL CAÇADINI E SALÉZIA MARIA

O escritório Sarah Quinetti Advocacia Criminal informa que está acompanhando de perto as diligências realizadas nesta pela Polícia Federal em Belo Horizonte, Minas Gerais, no âmbito da Operação Sisamnes que envolve o coronel Caçadini e demais pessoas, a quem representamos.

Ressaltamos que, até o momento, não foi encontrado qualquer elemento ilícito relacionado aos acusados nas buscas realizadas na capital mineira.

Reafirmamos nossa confiança nas instituições brasileiras e no trabalho responsável das autoridades competentes, bem como reafirmamos nossa convicção na inocência dos nossos constituídos.

Permanecemos à disposição para quaisquer esclarecimentos necessários.

Sarah Quinetti e Ronaldo Lara

COM A PALAVRA, AS DEMAIS DEFESAS

A reportagem pediu manifestação da defesa de Antônio Gomes e busca contato com os advogados de Hedilerson Barbosa. O espaço está aberto para manifestação (rayssa.motta@estadao.com; fausto.macedo@estadao.com).

 

 

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