30 de junho de 2025
Politica

Na crise do IOF, Haddad é um saco de pancadas útil para Lula

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Você sabe que a situação está feia para um ministro da Fazenda quando até as peças publicitárias de empresas privadas ajudam a espalhar a notícia de suas políticas impopulares. Os painéis digitais das avenidas de São Paulo e as redes sociais de bancos e fintechs estão cheios de anúncios prometendo soluções para minimizar o impacto do aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF).

“Mudou o IOF?”, ironiza uma das propagandas, que promete manter a taxa antiga, de 1,1%, sobre compras internacionais no cartão de crédito. “O governo brasileiro acabou de fazer uma mudança muito séria que vai impactar no seu bolso”, começa outra, sem rodeios. “Aqui ainda é 21 de maio”, provoca uma terceira, em referência ao dia anterior ao anúncio que acabou com o IOF reduzido para contas em dólar. Para compensar o aumento do imposto e reter os correntistas, as instituições financeiras estão oferecendo spread zero, cashback e descontos nos custos das transações, entre outras promoções. A mensagem que fica é: o governo está tirando mais dinheiro de você, mas nós vamos salvá-lo.

Fernando Haddad, ministro da Fazenda, tem sido alvo de críticas mesmo de dentro do governo
Fernando Haddad, ministro da Fazenda, tem sido alvo de críticas mesmo de dentro do governo

Em outras circunstâncias, a crise do IOF — com seus recuos parciais, impacto no mercado financeiro, jogo de empurra, justificativas desencontradas e danos à imagem do governo — resultaria facilmente na demissão do ministro que levou a medida para a assinatura do presidente. Isso não acontece com Fernando Haddad, titular da Fazenda, porque ele é um saco de pancadas útil para o presidente Lula. Apanha da oposição, apanha até de colegas do próprio governo, mas mantém-se de pé para poupar o chefe dos golpes.

Alterar a cobrança do IOF para arrecadar mais dinheiro para o governo poder distribuir em programas sociais — e não como instrumento de regulação das atividades financeiras, como seria o correto — é o tipo de solução que fica no fundo da lata de lixo das políticas públicas à espera de um problema para ser resolvido. No caso, o problema é o fato de que as contas não fecham e Lula só pensa em gastar mais.

Em estudos sobre liderança ética, um dilema conhecido é o de quem deve ser responsabilizado por “problemas de muitas mãos”, ou seja, políticas públicas fracassadas que resultam de múltiplos fatores e indivíduos atuando simultaneamente. A situação fiscal do Brasil é um desses problemas. Lula quer gastos elevados para se manter no poder, o Congresso quer mais emendas, ninguém se aventura a fazer uma reforma para diminuir despesas correntes, empresas querem eternizar benefícios fiscais, Haddad só encontra saídas que penalizam a classe média, e assim por diante. Diante de problemas de muitas mãos, sistemas políticos com normas de prestação de contas frouxas ou informais tendem a produzir culpas individuais, em um processo em que todos os envolvidos competem para evitar responsabilização até se unir contra aquele que tem maior chance de culpabilidade. Para esse posto, Haddad é o melhor candidato.

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