30 de junho de 2025
Politica

O Centrão seria mais fisiológico?

Fisiológicos, clientelistas, pragmáticos, amorfos, hidropônicos, não institucionalizados, oportunistas… Esses são apenas alguns dos adjetivos — quase sempre pejorativos — lançados sobre os partidos políticos brasileiros. Em especial, recai sobre o chamado Centrão a suspeita de ser o principal reduto do fisiologismo no país.

Por fisiologismo, entende-se uma forma de fazer política voltada à maximização de recursos individuais, em detrimento de programas partidários ou agendas ideológicas. Parlamentares fisiológicos tenderiam a trocar de partido com frequência, manteriam vínculos frouxos com suas legendas e seriam mais voltados para benefícios pessoais do que para compromissos institucionais.

Congresso Nacional em sessão
Congresso Nacional em sessão

Essa é a premissa por trás do artigo Do Fisiologismo ao Centro do Poder: as reformas eleitorais e o Centrão 2.0, de Graziella Testa, Lara Mesquita e Bruno Bolognesi. Com base em um survey realizado com 379 cientistas políticos, os autores identificam como integrantes do Centrão partidos como PP, Republicanos, PL, PTB, MDB, União Brasil, Patriota, Podemos e PSD — todos tidos como supostamente mais fisiológicos.

A base empírica da alegação, no entanto, é frágil. Os autores comparam características de carreira e atuação parlamentar entre deputados desses partidos e os demais, e destacam diferenças como: filiação a um maior número de partidos até sua eleição (2,05 contra 1,67), menor ocupação de cargos de direção partidária (29,6% contra 36,9%), menor liderança de bancada (9% contra 18,8%), menos vínculos associativos (47,7% contra 57,6%) e maior herança política (28,3% contra 20,1%).

Mas tais diferenças, por si só, não sustentam a conclusão de que os deputados do Centrão sejam mais fisiológicos. Em primeiro lugar, a maioria dos dados reportados se limita a médias ou proporções, sem apresentação de testes estatísticos robustos. Em segundo, mesmo sob análise descritiva, as diferenças observadas são, em boa parte, modestas. As maiores distâncias aparecem nas taxas de liderança partidária e vínculos associativos, mas ainda assim não autorizam, com o grau de certeza estatística necessário, a taxação do Centrão como mais fisiológico. O artigo, portanto, oferece indícios, não evidências.

Os autores sugerem que deputados do Centrão teriam carreiras mais voláteis e menos institucionalizadas. Mas não demonstram que esse comportamento é exclusivo, predominante ou estatisticamente mais relevante do que nos demais partidos.

Um dos indicadores frequentemente associados ao fisiologismo na política brasileira é a execução estratégica de emendas parlamentares. Antes da sua impositividade, parlamentares governistas tinham maior probabilidade de ver suas emendas executadas. Após a mudança institucional, a execução passou a seguir critérios mais isonômicos: deputados da situação e da oposição destinam recursos a suas bases locais com o mesmo objetivo — manter redes de apoio e garantir a reeleição. Esse comportamento é generalizado, e não distingue partidos do Centrão de outros grupos legislativos.

A crítica ao fisiologismo é legítima e necessária. Mas em um sistema multipartidário como o brasileiro, marcado por baixa institucionalização e forte personalismo, é difícil isolar comportamentos puramente “fisiológicos” como atributo predominante de um só grupo. Generalizar o fisiologismo como traço exclusivo do Centrão não apenas simplifica indevidamente a realidade, como enfraquece a própria crítica ao problema, que é mais estrutural do que de um grupamento partidário específico.

 

 

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