Tarcísio estuda mudar indicação para o TCE e trocar comando da Casa Civil
O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), avalia trocar a indicação que fará para o Tribunal de Contas do Estado de São Paulo (TCE-SP). A escolha do controlador-geral do Estado, Wagner Rosário, estava praticamente certa, mas o cenário mudou na última semana: o secretário da Casa Civil, Arthur Lima, disparou ligações para aliados no mundo político e jurídico em busca de apoio para ser o indicado.
Aliados de Tarcísio afirmam que Rosário é favorito, mas que a indicação ainda “não está escrita em pedra”, ou seja, pode mudar. Um secretário do governador e um conselheiro do TCE-SP disseram ao Estadão que Tarcísio cogita deslocar o controlador-geral para a Casa Civil caso opte por indicar Lima como conselheiro. A informação de que o secretário entrou no páreo foi divulgada inicialmente pelo portal UOL e confirmada pelo Estadão.
Uma pessoa a par das negociações disse mais cedo que a expectativa era que o governador conversasse com Rosário ainda nesta quarta-feira, 4, para discutir o assunto, mas o encontro não ocorreu.
A gestão Tarcísio não quis se manifestar, assim como o secretário Arthur Lima. Uma pessoa próxima a ele negou que o secretário esteja pedindo apoio para ser indicado ao cargo, embora reconheça que aliados o procuraram para falar sobre o assunto após o UOL publicar que ele era cotado. Wagner Rosário não retornou aos contatos da reportagem.

Duas vagas de conselheiros serão abertas neste ano. O atual presidente do tribunal, Roque Citadini, deixará o cargo em setembro ao chegar aos 75 anos, idade da aposentadoria compulsória. A indicação da vaga dele é de Tarcísio. Em novembro, o conselheiro Sidney Beraldo também se aposentará compulsoriamente. Seu substituto será indicado pela Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) — o favorito é o líder do PL, deputado estadual Carlos Cezar (PL).
Wagner Rosário é visto no TCE-SP como o nome com mais aptidão técnica para o cargo de conselheiro, embora três dos sete conselheiros atuais tenham carreira política. Depois de mais de duas décadas como militar — ele foi colega de turma de Tarcísio na Academia Militar das Agulhas Negras (Aman) —, fez carreira como auditor na Controladoria-Geral da União, órgão do qual foi ministro nos governos de Michel Temer (MDB) e Jair Bolsonaro (PL).
Segundo uma fonte no tribunal, Rosário inicialmente demonstrou resistência a integrar a Corte de Contas, mas mudou de ideia e chegou a informar a alguns conselheiros que em breve seria companheiro deles.
Arthur Lima é outro amigo de longa data de Tarcísio, também estudou com ele na Aman e é considerado o braço-direito do governador no Palácio dos Bandeirantes. Porém, integrantes do primeiro escalão apontam que a relação do secretário com Tarcísio se desgastou nos últimos meses.
Segundo relatos, deputados e prefeitos reclamam da demora na liberação de convênios com as prefeituras. No início do governo até Bolsonaro se queixou sobre Lima com Tarcísio, momento em que o nome do presidente do PP, Ciro Nogueira (PP), foi ventilado como alternativa, mas o governador optou por manter o aliado no cargo.
No governo há uma ala que minimiza o desgaste entre o secretário e o governador e trata a situação como natural. Tradicionalmente, o chefe da Casa Civil funciona como um “fusível”, assumindo tarefas ingratas e poupando o chefe do Executivo de indisposições com a classe política.
Lima se aproximou do União Brasil nos últimos meses e chegou a esboçar uma candidatura a deputado federal pela sigla, o que o forçaria a deixar o cargo de secretário em abril de 2026. Porém, ele teria abortado o plano diante da dificuldade de viabilizar uma candidatura competitiva e passou a atuar para ser indicado para o TCE-SP.
Na Corte, especula-se que o movimento de Arthur Lima pode inviabilizar a indicação de Carlos Cezar, que tem o apoio da maioria da Alesp. Mesmo que no papel a vaga seja do Legislativo, na prática todas as indicações têm passado pelo crivo de Tarcísio, que tem ampla influência no Legislativo. Dessa forma, conselheiros não descartam que o govenador indique Rosário e depois peça que os deputados que façam o mesmo com Lima, ou vice-versa.
O TCE-SP passa por sua maior reformulação desde a redemocratização e chegará ao final da gestão Tarcísio com quatro novos conselheiros. Na primeira nomeação, o governador emplacou o então deputado federal Marco Bertaiolli (PSD-SP), que derrotou Maxwell Borges de Moura Vieira, candidato apoiado pelo ministro André Mendonça, do Supremo Tribunal Federal (STF). Preterido na primeira vaga, Maxwell acabou indicado na segunda.
Trocas no secretariado de Tarcísio são raras. O governador não substituiu secretários mesmo em momentos de crise, casos de Renato Feder (Educação) — como revelado pelo Estadão a gestão Tarcísio fechou três contratos com uma empresa de Feder quando ele já estava no cargo — e Guilherme Derrite (Segurança Pública), que ficou sob pressão após uma série de casos de violência policial no final do ano passado.
Até agora, houve apenas três substituições: na Secretaria de Agricultura, no primeiro ano de governo, e nas secretarias de Políticas para a Mulher e de Desenvolvimento Social — nesses casos, porém, os antigos titulares Sonaira Fernandes (PL) e Gilberto Nascimento Jr. (PL) deixaram o cargo para disputar uma vaga na Câmara de São Paulo e conseguiram ser eleitos.