30 de junho de 2025
Politica

Enfrentando a violência de gênero: o impacto do programa Defenda-se!

A violência de gênero é uma questão crítica global. Segundo a World Health Organization (2021), uma em cada três mulheres viveu violência física ou sexual. Bell Hooks, em Feminism is for Everybody (2000, p. 21), analisa como as estruturas patriarcais sustentam a desigualdade de gênero, moldando normas sociais que subjugam mulheres e perpetuam a violência como um instrumento de controle. Carol Gilligan, em In a Different Voice (1982, p. 73), destaca como as construções culturais de gênero afetam as dinâmicas de poder, sendo vital reconhecer e validar as perspectivas femininas para reconfigurar essas estruturas. Ambas as autoras enfatizam a necessidade de uma transformação social profunda para erradicar a violência e promover a verdadeira igualdade de gênero. Lundy Bancroft, por sua vez, em Why Does He Do That? (2002, p. 15), explora os comportamentos e as mentalidades dos agressores em relacionamentos abusivos. Muitos agressores utilizam estratégias de controle e manipulação para manter poder sobre suas vítimas, frequentemente minimizando ou justificando suas ações violentas. Bancroft descreve como esses padrões de comportamento não são acidentais ou impulsivos, mas sim dinâmicas premeditadas com o intuito de subjugação. Compreender essas atitudes é de suma importância para que vítimas possam reconhecer e responder a sinais de alerta em potenciais situações de abuso.

Nesse cenário, surge o programa Defenda-se! Transformando Dor em Conhecimento, do Instituto Pró Vítima e do Instituto Paulo Kobayashi, com o apoio do Ministério da Mulher e Governo Federal. A metodologia do Projeto Defenda-se! alinha-se perfeitamente com as reflexões de autoras como Bell Hooks, Carol Gilligan e Lundy Bancroft, ao abordar a violência de gênero com uma estratégia abrangente e transformadora. Para se inscreverem no programa as interessadas devem acessar https://provitima.org/defenda-se/. As aulas acontecem as segundas, terças e quintas na Rua Treze de Maio, 478, 2 andar, Bela Vista, São Paulo-SP.

Ao oferecer treinamentos em defesa pessoal, o programa visa a melhoria da autoconfiança das participantes e, as capacita a reagir proativamente a situações de risco. Esse empoderamento físico e psicológico desafia diretamente as normas patriarcais descritas por Hooks, promovendo a autonomia e a resistência contra estruturas de controle. Pesquisa de Tony Blauer em programa semelhante demonstra que a autodefesa impacta positivamente no bem-estar: “Participantes reportaram um aumento significativo na autoconfiança e na habilidade de reagir a situações de risco, contribuindo para seu equilíbrio psíquico e social” (Blauer, 2017, p. 44). Além disso, Haines et al. (2019) e McCaughey (1997) reforçam que a prática não só diminui o medo, mas também empodera as mulheres, oferecendo lhes estratégias práticas para evitar agressões.

Com o serviço de acolhimento emocional, o programa cria um espaço seguro para que as mulheres compartilhem suas experiências e incremento de suas resiliências. Este reconhecimento das narrativas femininas ecoa a ênfase de Gilligan na necessidade de validar e incorporar essas vozes na reconfiguração das dinâmicas de poder. Estudos de Herman (1997) revelam que “o suporte psicológico contínuo é essencial para superar o trauma”, oferecendo uma base para a recuperação emocional.

Já o alongamento e a avaliação fisioterapêutica “são cruciais na prevenção de lesões e na promoção do bem-estar geral” (Clark, 2016, p. 108). Judith Herman em “Trauma and Recovery” (1997, p. 134) destaca a necessidade de ambientes seguros para a recuperação emocional, enquanto pesquisas de Jones et al. (2018) confirmam que suporte físico é vital para a recuperação integral pós-trauma.

Através de orientação jurídica e conscientização, o programa ajuda mulheres a reconhecerem e responderem a padrões de comportamento abusivo, como os descritos por Bancroft. Informar e preparar as participantes sobre estratégias de manipulação e controle contribui para quebrar o ciclo da violência e reforçar a igualdade de gênero.

Dessa forma, o Programa Defenda-se! Transformando Dor em Conhecimento, atua como uma ferramenta vital na luta pela igualdade de gênero, promovendo transformação social por meio de educação, suporte e empoderamento das mulheres.

O Programa conta ainda com capacitações específicas em direitos das vítimas e das mulheres. No dia 5 de junho, aconteceu o seminário online “Direitos das Vítimas e das Mulheres – Diálogos Iberoamericanos” que se encontra disponível pelo canal do youtube do Instituto Pró Vítima. Nos dias 13 e 14 de agosto, das 9h às 13h, a PUC-SP sediará o seminário “Direitos das Vítimas: O Estatuto da Vítima na Defesa dos Direitos das Mulheres, ocasião em que será lançado o livro “Estatuto da Vítima”, organizado por Celeste Leite dos Santos. As inscrições são limitadas e podem ser feitas pelo https://www.sympla.com.br/.

O Programa Defenda-se! é uma iniciativa essencial que transforma dor em conhecimento e poder, oferecendo às mulheres as ferramentas para um futuro seguro.

Este texto reflete a opinião do(a) autor(a). Esta série é uma parceria entre o blog do Fausto Macedo e o Movimento do Ministério Público Democrático (MPD). Os artigos têm publicação periódica

 

 

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