Braga Netto diz que Cid mentiu sobre reunião e que não entregou dinheiro em caixa de vinho
O general Walter Braga Netto, ex-ministro da Defesa e da Casa Civil, negou nesta terça-feira, 10, ter financiado operações da trama golpista.
Braga Netto foi um dos principais implicados na delação do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens da Presidência, que alega ter recebido uma caixa de vinho com dinheiro das mãos do general.
“Eu não tinha contato com empresários. Eu não pedi dinheiro para ninguém e não dei dinheiro nenhum para o Cid”, rebateu o ex-ministro.
Reunião com ‘kids pretos’
Braga Netto também negou ter planejado o encontro que aconteceu na casa dele, no dia 12 de novembro de 2022, em que, segundo a Procuradoria-Geral da República (PGR), foram debatidas medidas para “neutralizar” autoridades como parte do plano de golpe.
O general afirma que, até então, não conhecia os coronéis Hélio Ferreira Lima e Rafael Martins de Oliveira, das Forças Especiais do Exército, os chamados “kids pretos”, e que eles fizeram uma “visita de cortesia”. Os militares foram recebidos, segundo o ex-ministro, a pedido do próprio Mauro Cid.
“Eu me lembro que o Cid ou ligou ou interfonou para mim e falou: ‘chefe, estamos aqui embaixo, eu e dois forças, que queriam conhecer o senhor’”, narrou Braga Netto. “O coronel Cid, para mim, faltou com a verdade.”
O general afirma que nunca mais teve contato com os coronéis.
A reunião foi descoberta a partir de conversas recuperadas pela Polícia Federal no celular dos investigados. Segundo a denúncia da PGR, eles debateram no encontro “ações clandestinas” da Operação Copa 2022, “destinadas a neutralizar o ministro Alexandre de Moraes, nos moldes previstos pelo plano ‘Punhal Verde Amarelo’”.
O ex-ministro disse que não tomou conhecimento nem participou dos planos Copa 2022 e Punhal Verde Amarelo.
Braga Netto é ouvido por videoconferência do Comando da 1ª Divisão de Exército, no Rio de Janeiro, onde está preso.

Ataques aos comandantes das Forças Armadas
A Polícia Federal acredita que Braga Netto liderou uma campanha velada, mas agressiva, de pressão a oficiais das Forças Armadas que rejeitaram aderir ao plano golpista.
Conversas recuperadas pela PF mostram que até mesmo o então comandante do Exército, o general Marco Antônio Freire Gomes, entrou na mira do ministro.
Em um dos diálogos, em dezembro de 2022, Braga Netto afirma que a “culpa pelo que está acontecendo e acontecerá é do general Freire Gomes”. “Omissão e indecisão não cabem a um combatente”, acrescenta o ministro. “Oferece a cabeça dele. Cagão.”
Confrontado com as mensagens, o ex-ministro afirmou que não lembra das conversas, mas negou ter liderado ou coordenado ataques aos comandantes das Forças Armadas.
É a primeira aparição pública do general desde que foi preso na investigação, em dezembro de 2024. Ele também acompanhou remotamente os depoimentos das testemunhas, que não foram transmitidos em tempo real.