Réquiem para o sonho do ex-presidente Jair Messias Bolsonaro e seus generais
Antes do fim desta semana, o ex-presidente Jair Bolsonaro, capitão reformado do Exército Brasileiro, vai depor na Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF). Ele já estava sendo no banco dos réus nesta segunda-feira, 9, enquanto outros acusados eram inquiridos. Inelegível até 2030 e acusado de tentativa de golpe, na expectativa de voltar ao Palácio do Planalto em 2026, Bolsonaro se movimenta pelo País como se nada tivesse acontecido e rejeita terminantemente a tese de que ele pretendia atentar contra a democracia. Se for julgado condenado, será preso.
Em meio ao calvário de Bolsonaro, o Exército Brasileiro, por meio de seus mais graduados oficiais, decidiu não comentar nem se manifestar publicamente sobre o episódio. Eles consideram que tudo que podia ser dito, já foi ou está sendo falado no julgamento e que alguns dos que estão sentados no banco dos réus, se em algum momento foram militares, agora são políticos que participavam de um governo.

É o caso de Bolsonaro. Oficial da EsAO, em 1986, o capitão Jair Messias Bolsonaro, era conhecido na escola como “cavalão”. Sua capacidade intelectual, segundo muitos dos que conviveram com ele, era inversamente proporcional à sua força e ao desempenho físico. Eleito presidente da República, por metade da população cansada dos “políticos”, Jair subiu a rampa do Palácio do Planalto e se cercou de militares, generais em sua maioria.
O presidente – que desde o começo do seu mandato dava sinais de que não pretendia entregar o cargo ao final do seu mandato e investia principalmente contra o STF – acreditava que esses militares, um grupo que chegou a ser chamado de “A República dos Generais”, o apoiaria em qualquer situação. Os generais, por sua vez, estavam convencidos de que manobrariam o “cavalão”.
Duplo engano, nem os generais o apoiaram como ele imaginava e, nem ele, submeteu-se à vontade da caserna. Só quem senta naquela cadeira do terceiro andar sabe que ela lhe dá quase que um poder inesgotável, mesmo com os pesos e contrapesos.
Os quatro anos do mandato foram passando e Jair Messias não se via respaldado para o rompimento institucional, com o qual sempre sonhou. Passou a atacar as urnas eletrônicas, pôs militares a fiscalizar os equipamentos em busca de falhas que permitissem fraudar os resultados, reuniu embaixadores de outros países (o que lhe custou a pena da inelegibilidade por oito anos). Nada encontrou.
Até que chegou a eleição e Bolsonaro perdeu para Luiz Inácio Lula da Silva por uma pequena margem de votos. Foi então que ele resolveu partir para a ação. Mas o que se depreende dos relatos é que foram surgindo vários grupos. Uns totalmente a favor do golpe, outros com algumas restrições e, por fim, uma turma contra. Trocavam mensagens. Uns queriam que o Exército ajudasse a manter os acampados em frente aos quartéis. Outros pensavam em desmobilizar. A organização do golpe virou um fuzuê.
Nesse meio tempo, o ex-presidente Bolsonaro recebeu, leu e pediu alterações em uma minuta golpista para anular o resultado das eleições com propostas golpistas que teriam sido levadas a Bolsonaro pelo ex-assessor internacional Filipe Martins. A minuta passou pelo almirante Almir Garnier, que imediatamente colocou suas “tropas à disposição”. Marco Antonio Freire Gomes, ex-comandante do Exército, era contra e a maioria do Alto Comando, à época, também.
Mas o ex-ministro da Defesa Braga Netto e o general da reserva Mario Fernandes radicalizaram até o fim. Estimularam acampamentos, e Braga Netto arrecadou fundos para a horda de manifestantes que foi para Brasília com o objetivo de invadir e destruir as sedes dos Três Poderes no 8 de Janeiro. “Cavalão” esperava que seus homens lhe pedissem para ficar firme no cargo que já não mais lhe pertencia. Era só uma ilusão.