Postura de Bolsonaro reacende julgamento do golpe, mas é a economia que domina as redes
Nem os apoiadores mais fiéis esperavam ver Jair Bolsonaro pedindo desculpas a Alexandre de Moraes ou, em tom de brincadeira, sugerindo que o chamaria para ser seu vice em uma eventual eleição. Mas foram essas falas, surpreendentes, que devolveram ao julgamento da alegada tentativa de golpe um protagonismo que ele já não tinha. Arrastado, repetitivo e previsível, o processo havia perdido espaço no ambiente digital. Em maio de 2025, representava apenas 5,4% das menções a temas políticos nas redes, segundo dados da AP Exata.
Mas a postura de Bolsonaro durante o interrogatório rompeu a monotonia em torno do assunto. Contido, cauteloso, reconhecendo exageros e buscando um tom de conciliação com o ministro que mais brigou ao longo dos últimos anos, o ex-presidente criou cenas que fugiam do script esperado e foi justamente isso que inflamou o debate.

Os gestos surpreenderam e o julgamento voltou a ocupar espaço no ambiente digital, saltando para 23,6% das menções políticas. As críticas dos apoiadores pautaram os debates, levando até mesmo Eduardo Bolsonaro a se posicionar, dizendo que o pai estava sendo irônico.
A repercussão do interrogatório mostra que Jair Bolsonaro mantém a capacidade de gerar ruído, mas não garante fôlego, porque está preso no mesmo passo. Passado o barulho do dia, o debate público voltará a gravitar em torno daquilo que realmente pressiona as famílias, que é a economia. As redes deixam claro que o interesse coletivo está amplamente focado na sobrevivência cotidiana baseada no custo de vida.
A economia abarcou, somente nestes primeiros dias de junho, 48,1% das menções entre os temas políticos nas redes, com muitas críticas ao aumento de impostos, que se somaram às frequentes queixas sobre os preços dos alimentos e das contas em geral. Portanto, a pauta do dia pode ser o julgamento de Jair Bolsonaro, mas a da semana, e do mês, continua sendo o estrangulamento das finanças da classe média. Um cenário que reorganiza o tabuleiro político.
A exaustão da polarização entre Lula e Bolsonaro, combinada à pressão crescente sobre as despesas domésticas, abre espaço para novos atores. Quem for capaz de se debruçar sobre os problemas concretos da população e propor soluções viáveis para o aperto no bolso das pessoas terá uma avenida aberta à frente.
Mas o tempo importa para que a oposição se movimente. Se esse espaço não for ocupado com agilidade e clareza por seus adversários, o próprio Lula, com a caneta, os programas e a máquina estatal à disposição, pode agir para colher louros políticos de medidas de alívio, com foco nas eleições, e ampliar sua competitividade.
O que está claro é que não irá emergir no próximo pleito um presidente fruto da guerra cultural que tanta gente elegeu nos últimos anos, mas que está se tornando periférica. Quem despontar, será por responder, de forma prática, a uma das perguntas mais urgentes que os internautas fazem constantemente nas redes: “como é que eu vou fechar minhas contas?”.