30 de junho de 2025
Politica

Bolsonaro se equilibra entre estilo que alimenta máquina de guerra e o que implora por pena menor

Com a aproximação do fim do processo em que é acusado de liderar uma trama golpista, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) vê-se cada vez mais diante de um dilema: manter a corda esticada contra o Judiciário, alimentando sua base política que lhe oferece engajamento, doações por Pix e capital político para influenciar as eleições, ou transformar-se no personagem equilibrado e que respeita a Justiça para buscar uma pena menor, já que a condenação parece inevitável?

Esse segundo personagem foi visto no interrogatório da última terça-feira. Foi quando Bolsonaro evitou confrontar Alexandre de Moraes, pediu desculpas por declarações anteriores e até fez piada com o ministro, brincando sobre a possibilidade de que ele fosse seu vice em 2026. Seguindo estritamente as orientações da defesa, Bolsonaro tentou mostrar-se alguém até arrependido pelo que já disse de Moraes e do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Além de circunscrever suas ações por virar a mesa nas eleições a uma mera cogitação, buscou colocar tudo no campo da simples “retórica”.

O ex-presidente da República Jair Messias Bolsonaro antes do início do depoimento  ao ministro Alexandre de Moraes
O ex-presidente da República Jair Messias Bolsonaro antes do início do depoimento ao ministro Alexandre de Moraes

Ocorre que esse personagem, que mostra respeito pelo Judiciário e que é solícito com o relator do processo, não combina com outro, o Bolsonaro mais famoso. Aquele que chegou à Presidência da República e mantém apoio até hoje mesmo em meio a denúncias justamente por se colocar contra o sistema e dizer que é um perseguido do Judiciário. Que é truculento e voraz, faz ameaças e garante não abaixar a cabeça em nenhuma hipótese.

Esse Bolsonaro é o que tenta manter o apoio político conquistado, sempre utilizado como moeda de ameaça para alertar sobre os efeitos de uma prisão e para afugentar aliados que queiram pular do barco.

Pelo que se viu nos primeiros momentos após o interrogatório no STF, o Bolsonaro mansinho e que evita o confronto não agrada à militância mais radical que sustenta o núcleo do Bolsonaro, garantindo uma máquina poderosa nas redes ou enviando Pix para o ex-presidente bancar advogados e sustentar o filho nos Estados Unidos.

O Bolsonaro que brinca com o juiz em plena audiência também não é aquele que tenta, no cenário internacional, se dizer uma grande vítima de um ditador de toga. A imagem exibida para todo o mundo no interrogatório foi bastante distinta da guerra que Bolsonaro anuncia haver com parcela do Judiciário brasileiro. Moraes foi cordial, o ex-presidente retribuiu e não permitiu que o interrogatório descambasse para uma troca de farpas.

Assim, Bolsonaro fez diferente de Donald Trump nos processos recentes que enfrentou e que renderam até a foto que exibe na Casa Branca, ou de Lula na Lava Jato. Nos dois primeiros casos, os enfrentamentos renderam mais de 580 dias de prisão para Lula e momentos de tensão para Trump, mas duas voltas por cima, com as retomadas dos postos presidenciais mais adiante. Para o inelegível Bolsonaro, já em julgamento na última instância, essa porta não está mais aberta e um novo personagem entrou em cena para reduzir os danos. Mas o dilema persiste e as próximas semanas mostrarão qual deles sobreviverá: o o réu digno de compaixão ou o mártir que merece o apoio incondicional.

 

 

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