29 de junho de 2025
Politica

Alvos da CPI das Bets fazem ação de casa de aposta investigada em leilão de Neymar

BRASÍLIA – Uma casa de apostas investigada na CPI das Bets aproveitou um leilão beneficente promovido pelo instituto social do jogador Neymar para promover a marca, no mesmo dia em que a empresa apareceu no relatório final da comissão instalada no Senado. A bet Zero Um foi uma das patrocinadoras do evento realizado na terça-feira, 10, em São Paulo.

Procurados, o Instituto Projeto Neymar Jr e a organização do leilão não se manifestaram. A Zero Um disse ter apoiado leilão porque considera “da mais alta relevância patrocinar ações que ajudem a reduzir a desigualdade no País” e informou defender “a devida regulamentação do mercado de apostas e do jogo responsável” (leia mais abaixo).

Seis nomes vinculados à Zero Um foram alvo de pedidos de indiciamento apresentados pela relatora da CPI, Soraya Thronicke (Podemos-MS). A proposta da senadora foi rejeitada por 4 a 3, mas ela afirma que encaminhará os achados a órgãos de investigação.

Segundo a relatora, contra os administradores da Zero Um há indícios de atuação ilegal no mercado de apostas, estelionato, lavagem de dinheiro e organização criminosa.

A influenciadora Deolane Bezerra e o empresário Daniel Trajano com o jogador Neymar, durante leilão beneficente do Instituto Neymar Jr, na terça-feira, 10
A influenciadora Deolane Bezerra e o empresário Daniel Trajano com o jogador Neymar, durante leilão beneficente do Instituto Neymar Jr, na terça-feira, 10

A bet está em nome do piauiense José Daniel Carvalho Saturnino, o Daniel Trajano. Ele teria adquirido a empresa, por R$ 30 milhões, da influenciadora Deolane Bezerra, responsável pela abertura da bet.

Deolane e Trajano são amigos próximos. Ele era diretor da Esportes da Sorte, bet com a qual Deolane tinha contrato de publicidade. Relações financeiras da influenciadora com essa bet de Pernambuco a fizeram figurar entre os investigados da Operação Integration, da Polícia Civil pernambucana.

Como mostrou o Estadão, Deolane repassou a Zero Um ao amigo depois de o pedido de autorização para a bet funcionar ser negado pela Secretaria de Prêmios e Apostas, do Ministério da Fazenda. O motivo alegado foi o comprometimento da idoneidade exigida por causa do inquérito em curso. Trajano não está entre os investigados.

Em paralelo ao indeferimento, a Zero Um passou a operar lastreada em uma decisão judicial que está sendo questionada pela Advocacia-Geral da União (AGU). Técnicos do governo avaliam que o aval à empresa não seguiu os caminhos recomendados e é considerado frágil.

A empresa ressalta que por estar amparada em decisão judicial “não há que falar em qualquer impropriedade operacional” e que o indeferimento feria o princípio da presunção de inocência.

Para a CPI, Deolane é a dona de fato da empresa e “não há indicativo” de que Trajano “tenha efetivamente realizado qualquer pagamento”. Oficialmente, a casa de apostas diz que ela exerceu livremente sua opção de venda da empresa e agora mantém um contrato de representação da marca.

“A operação de compra e venda da empresa se deu entre dois entes privados dentro das regras vigentes. As cláusulas de confidencialidades impedem a divulgação de dados financeiros relacionados ao negócio entre as partes”, informou a empresa, em nota.

Na noite de terça-feira, Deolane e Trajano compareceram ao leilão beneficente promovido pelo Instituto Projeto Neymar Junior, evento que marcou os dez anos da entidade e reuniu personalidades dos negócios, da televisão e dos esportes.

A Zero Um era uma das patrocinadoras, com a logomarca reproduzida no cerimonial. A reportagem não confirmou os valores do patrocínio.

O documento final da CPI afirma que os administradores da Zero Um praticaram movimentações financeiras atípicas e suspeitas por meio de intermediárias de pagamento, com indícios de lavagem de dinheiro.

Além de Deolane e Trajano, houve pedido de indiciamentos para Ana Beatriz Scipiao Barros, Jair Machado Junior, Leila Pardim Tavares Lima e Marcella Ferraz de Oliveira. Todos esses têm relação com a Zero Um.

Ao todo, a relatora da CPI das Bets pediu o indiciamento de 16 pessoas. O documento final foi apresentado na terça-feira. Nesta quinta, o relatório foi votado, com um plenário esvaziado. Uma manobra de senadores da “bancada das bets” garantiu uma maioria contrária ao texto, por quatro votos a três.

 

 

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