Casa de Ògún realiza celebração três anos após tombamento
Texto: Thaís Seixas
Fotos: Carla Lucena
Único espaço religioso de culto a Ogum no Brasil, o Terreiro Òkúta de Ògún – conhecido como Casa de Ògún -, localizado no bairro do Candeal, realizou uma celebração ao orixá nesta sexta-feira (13), exatamente três anos após ser tombado pela Fundação Gregório de Mattos (FGM) como Patrimônio Cultural de Salvador.
Todos os anos, o templo celebra Ogum no dia também dedicado a Santo Antônio, por causa da relação de sincretismo entre eles. Em iorubá, Òkútá (ou Otá) se refere a uma pedra sagrada que representa o Orixá, um símbolo central no culto aos deuses da natureza. A pedra é consagrada e serve como um ponto de conexão entre o orixá e seus seguidores.
“O Okutá de Ògún tem quase 300 anos, e veio para cá por um tataravô da África, que deu de presente à noiva Josepha. Esse otá ficou com os meus familiares, com os ancestrais. E aí veio passando, até que chegou à minha tia. Sempre houve essa celebração para ele, incluindo as obrigações internas. No tempo da minha avó, sempre em 13 de junho, a gente vinha aqui para poder celebrar, por conta do Santo Antônio. E a gente nunca deixou de reverenciar Ògún no dia 13. Para preservar essa pedra, esse espaço, a gente recorreu ao tombamento pela Fundação Gregório de Mattos”, explica Luzia Quirino Mangabeira, sobrinha da ialorixá Dona Didi, matriarca da casa, que no próximo dia 24 completa 106 anos de vida.

A celebração contou com representantes da Fundação Gregório de Mattos (FGM), amigos do templo e pessoas que foram ao local para reverenciar Ogum. Além de 13 de junho, o espaço é aberto à comunidade sempre no dia 1º de janeiro.
Tombamento
O Òkúta de Ògún foi tombado como Patrimônio Cultural de Salvador no dia 13 de junho de 2022, em uma cerimônia que reuniu autoridades da Prefeitura de Salvador, incluindo o prefeito Bruno Reis, a vice-prefeita Ana Paula Matos e o presidente da FGM, Fernando Guerreiro, além de personalidades como o cantor e multi-instrumentista Carlinhos Brown.

O pedido de tombamento foi feito pela Associação Brasileira de Preservação da Cultura Afro-Ameríndia, em reconhecimento à importância da Casa de Ogum na garantia da manutenção e salvaguarda das religiões de matriz africana, por meio de seus cultos. A existência do Okutá de Ògún é parte importante no papel de manutenção do candomblé em Salvador.
A tradição de Okutá de Ògún é mantida desde que a sacerdotisa nigeriana batizada no Brasil como Josepha fez a compra do terreno e começou a casa ao lado de um negro liberto, batizado de Antônio, natural da Costa do Marfim. Agora, sob a liderança da ialorixá centenária Dona Didi, a Casa de Ogum tem forte influência na formação religiosa e coletiva do Candeal.