Gilson Machado é o quarto ministro de Bolsonaro a ser preso; relembre quem são os outros
A Polícia Federal (PF) prendeu na manhã desta sexta-feira, 13, no Recife (PE), o ex-ministro do Turismo Gilson Machado, titular da pasta durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Com isso, Machado se torna o quarto ex-ministro da gestão Bolsonaro a ser preso, após o general Braga Netto (Defesa e Casa Civil), Anderson Torres (Justiça) e Milton Ribeiro (Educação).
Segundo a PF e a Procuradoria-Geral da República (PGR), Gilson Machado tentou obter um passaporte português para o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, sair do Brasil. Cid chegou a ter sua prisão decretada pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, mas o ato foi revogado em seguida. O tenente-coronel prestou depoimento por três horas na sede da PF, em Brasília, nesta sexta-feira, 13.

Quem é Gilson Machado Neto
Gilson Machado Neto, de 57 anos, é formado em medicina veterinária, mas atua como empresário dos ramos de eventos, turismo e radiodifusão. É sobrinho de Gilson Machado Filho, deputado que atuou na Constituinte e esteve no Congresso até meados da década de 1990.
É um aliado próximo de Bolsonaro, tendo se aproximado do ex-presidente ainda em 2018. Foi secretário do Ministério do Meio Ambiente durante a gestão do ex-presidente e, em maio de 2019, foi indicando para a presidência da Embratur, estando à frente da estatal por mais de um ano.
Em dezembro de 2020, foi remanejado para o Ministério do Turismo. Na época, o então titular da pasta, Marcelo Álvaro Antônio, envolveu-se em um embate com Luiz Eduardo Ramos, da Secretaria-Geral da Presidência da República. Álvaro Antônio acusou o ministro de pedir a Bolsonaro a entrega da pasta de Turismo para o Centrão. O ex-presidente exonerou Álvaro Antônio da pasta, substituindo-o por Gilson Machado.
Machado ganhou destaque por aparecer tocando sanfona em lives de Bolsonaro durante a pandemia de covid-19. O ex-ministro é sanfoneiro, já gravou com nomes como Zé Ramalho e atua na banda Brucelose até hoje. Ele já deu aulas do instrumento para Bolsonaro.
Em 2022, Machado foi candidato a senador de Pernambuco. Com uma cadeira em disputa, o ex-ministro do governo Bolsonaro teve mais de 1,3 milhão de votos, 29,5% dos votos válidos, perdendo o pleito para Teresa Leitão, do PT, que obteve mais de 2 milhões de votos, 46,1% dos votos válidos.
Após o pleito, em novembro de 2022, retornou ao comando da Embratur, sendo substituído no cargo em janeiro de 2023 por Marcelo Freixo, nomeado por Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Além de Machado, veja quais foram os outros ministros de Bolsonaro que já foram presos:
Walter Braga Netto
O general da reserva Walter Souza Braga Netto, ex-ministro da Defesa e candidato a vice na chapa do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) está preso preventivamente desde o dia 14 de dezembro de 2024, por obstrução de Justiça.
Conhecido como “cumpridor de ordens”, segundo a Polícia Federal, Braga Netto é tido como “figura central” da tentativa de golpe que envolvia o assassinato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do vice-presidente Geraldo Alckmin e do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes.
Nascido em Belo Horizonte, Braga Netto, 65 anos, entrou no Exército em 1974. Recebeu os títulos de Mestre em Operações Militares da Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais, em 1988, e de Doutor em Aplicações, Planejamento e Estudos Militares do Curso de Altos Estudos da Escola de Comando e Estado-Maior do Exército, em 1994.
Durante sua carreira, foi chefe do Grupo de Observadores Militares das Nações Unidas no Timor Leste, e adido do Exército na Polônia, no Canadá e nos Estados Unidos. Também foi coordenador de defesa de área dos Jogos Olímpicos e Paraolímpicos Rio-2016.
Durante o governo Bolsonaro, Braga Netto tem um histórico de atos antidemocráticos. Ele fez ameaças e condicionou as eleições de 2022 ao voto impresso e celebrou o golpe militar de 1964, que seria, segundo ele, um “marco histórico da evolução política brasileira”. Ele é o primeiro general de quatro estrelas preso na era democrática do Brasil.
Braga Netto foi ministro da Casa Civil em 2020, período em que foi responsável por coordenar a resposta do governo Bolsonaro à pandemia de covid-19. Em 2021, assumiu o Ministério da Defesa. Filiou-se ao partido de Bolsonaro, o PL, em um ato privado, fechado ao público, em março de 2022. Ele também comandou a intervenção federal no Rio de Janeiro em 2018.
Enquanto chefe do Ministério da Defesa, no 31 de março de 2022, Braga Netto publicou uma ordem do dia celebrando o golpe de Estado de 31 de março de 1964, que culminou na ditadura militar.
Em julho de 2021, Braga Netto, então ministro da Defesa, condicionou a realização das eleições de 2022 ao voto impresso. O recado, repassado ao presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), foi revelado pelo Estadão.
No mesmo dia, Bolsonaro repetiu publicamente a ameaça: “Ou fazemos eleições limpas no Brasil ou não temos eleições”, afirmou o presidente a apoiadores, na entrada do Palácio da Alvorada.
No dia 29 de setembro de 2021, o procurador-geral da República, Augusto Aras, abriu apuração preliminar contra Braga Netto pelas ameaças às eleições. A proposta pela adoção do voto impresso foi derrubada pelo Congresso.
Além disso, Braga Netto é citado 98 vezes no relatório de 884 páginas da Operação Contragolpe que revelou a operação Punhal Verde e Amarelo, que planejava o assassinato do presidente Lula, Geraldo Alckmin, e Moraes.
Anderson Torres
O ex-secretário de Segurança Pública do Distrito Federal, Anderson Torres, foi preso preventivamente em 14 de janeiro de 2023. Delegado da Polícia Federal e ex-ministro da Justiça do governo Jair Bolsonaro, Torres é investigado sobre a atuação das forças de segurança durante a invasão das sedes dos Três Poderes, em Brasília.
Na política, sua trajetória começou como diretor de assuntos legislativos da Associação dos Delegados da Polícia Federal (ADPF), em Brasília, cumprindo papel de articulação entre os policiais federais e parlamentares. Também na Câmara dos Deputados, atuou como chefe de gabinete do então deputado federal Fernando Francischini (União Brasil) – aliado de primeira hora de Bolsonaro – e, ao assessorar o parlamentar em comissões, se aproximou da “bancada da bala”.
Em 2019, Torres foi convidado pelo governador Ibaneis Rocha para atuar como secretário de Segurança Pública do Distrito Federal, cargo que ocupou até 2021, quando recebeu o convite para integrar à equipe de ministros do ex-presidente Jair Bolsonaro.
Próximo do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) e do deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), Torres assumiu a liderança do ministério da Justiça e Segurança Pública do governo Bolsonaro em abril de 2021. Terceiro ministro na pasta, o delegado chegou à função em um momento delicado para o Palácio do Planalto, quando a Polícia Federal era responsável por liderar investigações que miravam a família e aliados do presidente.
Torres foi um dos ministros mais alinhados com as ideias do atual presidente. O chefe da pasta da Justiça, inclusive, chegou a participar em 2021 de uma live em que Bolsonaro questiona, sem provas, a legitimidade das urnas eletrônicas. Por conta disso, o ministro foi alvo do Supremo Tribunal Federal.
Com o fim do governo Bolsonaro, Torres foi convidado para reassumir a secretaria de Segurança Pública do DF em 2 de janeiro de 2023, mas logo teve sua prisão preventiva decretada, acusado de agir com negligência diante dos ataques em Brasília.
Em 12 de maio o STF concedeu liberdade provisória ao delegado. Desde então, Torres continua usando tornozeleira eletrônica e cumprindo medidas cautelares, como restrições de horário para sair de casa.
Milton Ribeiro
A Polícia Federal prendeu no dia 22 de junho o mandado de prisão preventiva contra o ex-ministro Milton Ribeiro, da Educação pelo esquema conhecido por “gabinete paralelo”. Em março de 2022, um furo de reportagem do Estadão revelou a trama de corrupção e favorecimento no Ministério da Educação (MEC), sob gestão de Milton Ribeiro, no governo Bolsonaro. No entanto, o ex-ministro foi solto no dia seguinte, em 23 de junho.
Milton Ribeiro é advogado, tem formação em Teologia e foi o quarto Ministro escolhido pelo presidente Jair Bolsonaro para chefiar o Ministério da Educação (MEC). Ribeiro se demitiu do cargo do MEC no dia 28 de março, após as denúncias do seu envolvimento no esquema de corrupção operado por pastores. Após o caso, o ex-ministro se tornou pastor efetivo da Igreja Presbiteriana Jardim de Oração, em Santos (SP).
À época de sua escolha para chefiar a pasta, entre as características que fizeram com que fosse cotado, estava o “apreço à família e aos valores”, disseram conhecidos e integrantes do governo.
Após o esquema do gabinete paralelo ser revelado em março, o ex-presidente Jair Bolsonaro chegou a afirmar que colocaria a “cara no fogo” pelo seu ministro. No entanto, após anúncio da prisão de Ribeiro, Bolsonaro afirmou que “Se a PF prendeu, tem um motivo”.
O ex-ministro também foi denunciado no STF pela PGR pelo crime de homofobia em janeiro de 2022. A denúncia foi realizada após o ex-ministro afirmar, em entrevista concedida ao Estadão em 2020, que adolescentes ‘optam’ pelo ‘homossexualismo’ por pertencerem a ‘famílias desajustadas’.
Em abril do mesmo ano, Ribeiro disparou acidentalmente uma arma de fogo no Aeroporto Internacional de Brasília, atingindo uma funcionária da Gol Linhas Aérea por estilhaço.
Antes de integrar o governo Bolsonaro, Ribeiro foi vice-reitor do Mackenzie e cuidava de questões acadêmicas na universidade, quando o reitor era o ex-governador de São Paulo, Claudio Lembo. Além disso, Ribeiro é especializado também no estudo do Velho Testamento.
Sua indicação ao Ministério da Educação foi atribuída ao Ministro-chefe da Secretaria-Geral, Jorge Oliveira, e ao ministro da Justiça, André Mendonça, também presbiteriano.