‘Abin paralela’ de Bolsonaro foi usada até para ‘caçar podre’ de candidato a presidente do Vasco
Em meio ao monitoramento de adversários do ex-presidente Jair Bolsonaro e de seus familiares, sobrou tempo e recurso para que os integrantes da chamada “Abin paralela”, que segundo a Polícia Federal foi montada no governo de Jair Bolsonaro, monitorassem até mesmo um candidato a presidente na eleição de um clube de futebol.
O relatório do Polícia Federal que aponta responsáveis pelo esquema, indiciados e alvos da estrutura de inteligência foi revelado nesta quarta-feira, 18, quando o ministro Alexandre de Moraes derrubou o sigilo da investigação. Segundo a PF,Bolsonaro era “centro decisório” e definiu alvos de espionagem ilegal. Procurada, a defesa do ex-presidente ainda não se manifestou.
De acordo com o relatório da PF, um dos alvos do grupo criado dentro da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) foi Jorge Nuno Odone de Vicente da Silva Salgado, conhecido como Jorge Salgado, que foi candidato à presidência do Vasco da Gama, do Rio de Janeiro em 2020. O objetivo era “caçar podre” do candidato.
Segundo mensagens reveladas no relatório da PF, no dia 11 de maio de 2020, um integrante do grupo enviou uma reportagem com o título “Veja quem é Jorge Salgado, possível candidato à presidência do Vasco”.
“Irmão. Bom dia. Tudo bem? Me ajuda com essa demanda pp (sic)”, disse ele.
“Bom dia!!! Lá vem o Vascaíno. Kkkkk. Qual é a bronca???”, respondeu o interlocutor.
“Caçar podre desse maluco aí”, respondeu o autor do pedido, o que deu origem a uma investigação paralela.
Segundo quadro com detalhamento da ferramenta utilizada, no caso de Jorge Salgado não foi utilizado o First Mile, sistema que monitorava celulares, mas outras técnicas, como “levantamentos e dossiês”. Não há detalhamento do material que foi produzido.
Em novembro daquele ano, Jorge Salgado foi eleito presidente do Vasco. O resultado foi questionado nos tribunais, mas mantido após diversas batalhas judiciais entre as chapas. Foi na gestão de Salgado que o Vasco foi transformado em SAF. Ele deixou o comando do clube em 2024, quando encerrou seu mandato e foi substituído pelo ex-jogador Pedrinho, o presidente atual.
