Crises no governo afetaram aprovação de Lula? Veja linha do tempo e o que dizem os números
A cada nova crise no governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT), a gestão do petista vê a repercussão negativa afetar sua imagem: o impacto é traduzido em números pelos principais institutos de pesquisa do País, que mostram a desaprovação ao governo crescendo ao longo dos meses.
Desde janeiro de 2023, início do terceiro mandato de Lula à frente do Executivo nacional, a imagem do governo já foi desgastada por medidas econômicas impopulares, como a “taxa das blusinhas”, que rendeu o apelido de “Taxadd” para o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, nas redes sociais.

Além dela, a “crise do Pix” e, a mais recente, o aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), também prejudicaram a popularidade do governo.
Mas Lula também contribuiu pessoalmente para os índices. No ano passado, após declaração comparando a ação de Israel na Faixa de Gaza com o extermínio de judeus promovido pela Alemanha nazista, somado a outras declarações consideradas “gafes” do presidente, os índices de desaprovação subiram.
Na crise mais recente, o nome do petista foi implicado no escândalo dos desvios em aposentadorias e pensões do INSS. Embora o governo tenha focado em transmitir a mensagem que o esquema ilegal começou durante a gestão de Jair Bolsonaro (PL), a imagem do presidente saiu desgastada, tanto porque resistiu em demitir o ministro da Previdência, Carlos Lupi, como pelo pico dos desvios ter ocorrido já na gestão petista.
Veja a seguir os números dos principais institutos de pesquisa.
Três primeiros meses: maioria de aprovação
As primeiras pesquisas sobre o terceiro mandato de Lula no Palácio do Planalto indicaram popularidade inferior aos outros governos do petista. Datafolha divulgada em 1º de abril de 2023, aos 90 dias com ele à frente do Executivo, mostrou 38% de avaliação “boa ou ótima”, contra 29% “ruim ou péssima”, enquanto 30% avaliaram “regular” a gestão do petista e 3% não responderam.
A desaprovação se igualou àquela apontada pela pesquisa nos primeiros três meses do governo de Jair Bolsonaro (PL), que registrou 30% de “ruim ou péssimo”.
‘Taxa das blusinhas’ e subida na desaprovação
Apenas um mês depois, em 19 de abril de 2023, a pesquisa Genial/Quaest apontou a desaprovação ao governo subindo nove pontos porcentuais em dois meses, comparando ao levantamento anterior do instituto. Foram 29% de desaprovação (ante 20% há dois meses) e 36% de aprovação, quatro pontos porcentuais a menos que na rodada anterior.
O governo sofria os primeiros impactos da decisão do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, de acabar com a isenção de impostos para encomendas internacionais de até US$ 50 por pessoas físicas, medida que ficou conhecida como “taxa das blusinhas”. O governo chegou a voltar atrás, mas depois retrocedeu a decisão e a medida provisória entrou em vigor em agosto de 2024.
Pior avaliação após fala comparação de Israel com Holocausto
Em março de 2024, a pesquisa Genial/Quaest mostrou que a desaprovação ao trabalho do presidente chegou a 46%, três pontos porcentuais a mais que na pesquisa anterior, de dezembro de 2023. A aprovação foi de 54% para 51%.
A pesquisa ocorreu dias após declaração em que o presidente comparou as operações militares de Israel na Faixa de Gaza ao extermínio de judeus promovido por Adolf Hitler durante a Segunda Guerra Mundial.
“O que está acontecendo em Gaza não aconteceu em nenhum outro momento histórico, só quando Hitler resolveu matar os judeus”, disse o presidente durante entrevista coletiva em Adis Abeba, capital da Etiópia, em 18 de fevereiro. Outros institutos, como Atlas Intel, também aferiu a piora na aprovação após fala do presidente.
Preço nos alimentos fecha 2024 como foco das críticas
Até fechar o ano, a desaprovação foi atribuída pelos brasileiros à percepção de que o preço dos alimentos disparou entre novembro e dezembro. Na Genial/Quaest de 11 de dezembro, 47% desaprovaram o trabalho de Lula no governo, ante 52% de aprovação.
A pesquisa Datafolha, publicada uma semana depois, também mostrou números semelhantes entre aprovação e reprovação, com 35% a favor do presidente e 34% contra.
Segundo a Paraná Pesquisas, no mês anterior, a desaprovação superou aqueles que aprovavam o governo, com 51% a 46,1%.
‘Crise do Pix’
Nos primeiros meses deste ano, a queda na aprovação motivou o presidente a acelerar a reforma ministerial que vinha sendo planejada. Mudanças na comunicação do governo também foram feitas para tentar reverter a imagem negativa, com a chegada do marqueteiro Sidônio Palmeira para comandar a Secretaria de Comunicação Social da Presidência (Secom).
Considerada a primeira derrota do governo do ano, a revogação da medida da Receita Federal que ampliava o monitoramento sobre transações financeiras, incluindo o Pix, impactou as pesquisas de opinião. As insinuações de que o governo taxaria o Pix foram propagadas pela oposição, sobretudo pelo deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG), que produziu um viral sobre o tema.
Na pesquisa Datafolha divulgada em 14 de fevereiro, Lula atingiu o pior índice de aprovação em todos os seus governos, com 24%, uma queda de 11 pontos porcentuais comparando com a pesquisa anterior, de dezembro. A reprovação do governo do petista também foi recorde, passando de 34% para 41%.
Escândalo do INSS
No dia 23 de abril, a Polícia Federal (PF) deflagrou a operação Sem Desconto, que apura desvio de recursos não autorizados diretamente do contracheque de aposentados e pensionistas que podem chegar a R$ 6 bilhões. A ação provocou uma crise no governo, com a consequente queda do presidente do INSS e, depois, do então ministro da Previdência, Carlos Lupi.

Pesquisa do instituto Ipespe de 22 de maio, mostrou 54% de reprovação e 40% de aprovação no governo do presidente. Início de junho, levantamento da Genial/Quaest indicou tendência semelhante: o índice de aprovação chegou a 57%, contra 40% que aprovam a gestão feita pelo petista.
Sobre o escândalo, apesar dos esforços da gestão petista para enfatizar que o esquema começou no governo de Jair Bolsonaro (PL), 31% dos entrevistados disseram que o principal responsável pelos desvios foi o governo Lula, gestão em que os descontos atingiram índices maiores.
Nesta terça-feira, 17, o presidente do Congresso, senador Davi Alcolumbre (União-AP), autorizou a criação da Comissão Parlamentar Mista do Inquérito (CPMI) para investigar a fraude no INSS, o que pode impactar ainda mais a imagem do presidente.
Mudança no IOF
A crise econômica mais recente que tem provocado desgaste no governo é a discussão sobre o aumento de impostos para conseguir zerar as contas. O Ministério da Fazenda anunciou aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) em diversas operações e, depois, reduziu o alcance da medida.
As medidas, que foram divulgadas após corte de gastos do governo, enfrentam forte resistência no Congresso e são exploradas pela oposição por representarem aumento de imposto.

Segundo o último levantamento do Datafolha, divulgado nesta quinta-feira, 12, foram 40% os que consideram o governo petista como “ruim ou péssimo” e 28% os que acham “ótimo ou bom”. Os números apenas oscilaram dentro da margem de erro comparando à pesquisa de abril.
Nesta segunda, 16, a Câmara aprovou a urgência do projeto que derruba aumento do IOF, em uma derrota para o governo. Como mostrou o Estadão, o desejo na Câmara é pela derrubada completa da medida, ainda que isso leve o governo a aumentar a contenção sobre as emendas parlamentares.
O cálculo político dos deputados é que o Planalto tem muito mais a perder com essa derrota do que a Câmara e o Senado