‘Candidato para ganhar’ e apoio à regulação das redes: o que Lula disse a Mano Brown em podcast
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) admitiu o aumento do custo de vida e defeitos na comunicação do governo federal, mas afirmou que, na hipótese de tentar um novo mandato nas eleições de 2026, será um candidato “para ganhar” o pleito.
Ao podcast Mano a Mano, apresentado pelo rapper Mano Brown e pela jornalista Semayat Oliveira, Lula ressaltou a queda do desemprego e o aumento da taxa de crescimento, mas reconheceu que, apesar dos indicadores, houve um aumento do custo de vida, prejudicando a percepção da população sobre o desempenho econômico do País. Além disso, segundo o petista, sua gestão “não comunicou corretamente” as entregas realizadas em dois anos e meio de mandato.

Lula afirmou que o escândalo dos descontos indevidos no Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) prejudica a imagem do governo, mas alegou que foi sua gestão a responsável por dar tração às investigações que deflagraram a Operação Sem Desconto, da Polícia Federal (PF), que trouxe o esquema veio à público.
Investigações do Ministério Público apuraram descontos indevidos em 2018 e 2019, ainda nos governos de Michel Temer (MDB) e de Jair Bolsonaro (PL), mas em escala menor do que a observada durante a gestão do petista. Como mostrou o Estadão, o governo Lula já havia sido alertado sobre a disparada das fraudes antes da operação da PF. Documentos mostram que os alertas vieram do Tribunal de Contas da União (TCU), da Controladoria-Geral da União (CGU), do Ministério Público, do Conselho Nacional de Previdência Social e de auditores do próprio INSS.
Embora tenha reconhecido o aumento do custo de vida e a comunicação ruim da gestão, Lula minimizou os resultados de pesquisas de avaliação de governo. Segundo Lula, os levantamentos do gênero são “fotografias do momento” e há tempo para a reversão do quadro até a próxima eleição presidencial.
‘Faixa de Gaza’ e candidato ‘para ganhar’
Lula voltou a dizer que o próximos meses serão de “colheita” das iniciativas da gestão, a qual, segundo o presidente, encontrou o País em condições parecidas com a da guerra na Faixa de Gaza. ”De vez em quando eu olho para a destruição na Faixa de Gaza e fico imaginando o Brasil que nós encontramos”, disse Lula sobre a gestão de seu antecessor. Segundo o petista, Bolsonaro promoveu uma “destruição proposital”.
Lula não cravou que tentará a recondução no próximo pleito, alegando que essa decisão não depende apenas de si, mas afirmou que goza de boa saúde e que, se for candidato, será um nome “para ganhar” a eleição.
O presidente citou a quantidade de nomes que, na ausência de Bolsonaro, inelegível, postulam concorrer como principal nome da oposição, como os governadores Romeu Zema (Novo), Ronaldo Caiado (União Brasil) e Ratinho Júnior (PSD), além de Tarcísio de Freitas (Republicanos), que não se põe como candidato ao Planalto, mas é especulado como presidenciável por lideranças do Centrão. “Podem procurar o candidato que quiserem, se eu for candidato é para ganhar as eleições”, disse Lula.
Regulação das redes é ‘mais factível’ no STF, diz Lula
O presidente defendeu a regulação de redes e afirmou que é “mais factível” que o tema seja disciplinado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) do que pelo Congresso Nacional. Para Lula, os ministros do Supremo estão menos suscetíveis que os congressistas ao lobby de big techs, como são chamadas as grandes empresas do ramo de tecnologia.
“A regulamentação depende do Congresso nacional e também da Suprema Corte. Eu acho que, hoje, está mais factível ser aprovado pela Suprema Corte do que pelo Congresso Nacional, porque, muitas vezes, a empresa tem mais pressão em cima do deputado do que (em cima) da Suprema Corte”, afirmou Lula.
Segundo Lula, é “uma falácia” dizer que a liberdade de expressão corre riscos com a regulação das redes. O petista defendeu a necessidade de “disciplinar” o uso das mídias digitais diante do aprimoramento de ferramentas de inteligência artificial, capazes de simular fotos e vídeos com alta precisão, os chamados deep fakes.
“Não sabemos o tamanho da desfaçatez da extrema direita em usar isso”, afirmou o presidente. “Se a gente não regular o comportamento das mídias digitais, principalmente depois da inteligência artificial, estamos totalmente vulneráveis”.
Metas do mandato
Sobre as metas do mandato para os próximos meses, Lula estabeleceu a aprovação da isenção do imposto de renda para quem ganha até R$ 5 mil por mês como prioridade. Além disso, prometeu a abertura de linhas de crédito para reformas em moradias e compra de motos elétricas e a inclusão do gás de cozinha na cesta básica.
Durante a entrevista, Lula defendeu a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que reformula a política de segurança pública do governo federal. A iniciativa do Ministério da Justiça amplia as atribuições da PF e converte a Polícia Rodoviária Federal (PRF) em um novo efetivo, chamado de Polícia Ostensiva Federal (POF), que terá atribuições ampliadas em relação à atual Polícia Rodoviária Federal (PRF). A PEC também prevê a criação de um fundo para o custeio de políticas de segurança pública.
Alckmin é de ‘lealdade extraordinária’
Durante a entrevista, Mano Brown afirmou que, apesar de simpatizar com o projeto político de Lula, possui ressalvas à sua gestão. Como exemplo, retomou as críticas à composição do petista com o ex-rival Geraldo Alckmin (PSB).
Lula defendeu seu vice e afirmou que Alckmin realiza um “trabalho extraordinário” tanto na vice-presidência quanto no Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC).
Além disso, segundo o presidente, Alckmin é de uma “lealdade extraordinária”, ao contrário de ex-aliados dos governos do PT, como Temer, que “deu um golpe na Dilma”. Ele não é esse tipo de gente”, disse Lula.
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