Sete réus da trama golpista no governo Bolsonaro estão presos preventivamente; saiba quem são eles
Dos 31 réus que respondem à ação penal por envolvimento na suposta trama golpista, 7 estão presos preventivamente por ordem do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, segundo levantamento do Estadão. Entre eles estão o general da reserva e ex-ministro da Defesa e da Casa Civil, Walter Braga Netto, e Marcelo Câmara, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro.
Outros investigados chegaram a ser presos, mas tiveram as prisões revogadas. É o caso de Filipe Martins, ex-assessor especial de Jair Bolsonaro, apontado como responsável por entregar ao então presidente uma “minuta do golpe”, que previa a prisão de autoridades e a anulação do resultado das eleições — o que ele nega. Ao revogar a prisão, Moraes impôs uma série de medidas cautelares a Martins, como o uso de tornozeleira eletrônica, cancelamento do passaporte, proibição de utilizar redes sociais e de manter contato com outros investigados.

As prisões preventivas são a medida cautelar mais extrema prevista na lei e podem ser decretadas antes do julgamento para evitar riscos como fuga e ameaça à investigação. No caso da trama golpista, as prisões atingem réus de diferentes núcleos da investigação. A mais recente ocorreu nesta quarta-feira, 18, com a detenção do coronel Marcelo Câmara, denunciado como integrante do núcleo militar envolvido no plano de golpe. Veja, abaixo, quem são os presos e a que eles respondem:
Walter Braga Netto
General da reserva do Exército e ex-ministro da Defesa e da Casa Civil, foi preso em dezembro de 2024, sob suspeita de envolvimento na tentativa de golpe de Estado e de atuar para atrapalhar as investigações sobre o caso, tentando obter informações sigilosas sobre a delação do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens da Presidência. A prisão foi determinada por Moraes, a pedido da PF e com parecer da Procuradoria-Geral da República (PGR).
Braga Netto foi candidato a vice na chapa à reeleição de Bolsonaro e faz parte do Núcleo 1 da denúncia, também chamado “núcleo crucial”, que teria atuado para impedir a posse do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em 2022.
Segundo a Polícia Federal, o plano para assassinar o presidente Lula e o vice, Geraldo Alckmin (PSB), foi discutido na casa do general Braga Netto, que coordenaria um “Gabinete Institucional de Gestão da Crise” em caso de golpe. Braga Netto teria recebido militares para aprovar a atuação dos chamados “kids pretos”, grupo das Forças Especiais do Exército.
Marcelo Câmara
Coronel do Exército e ex-assessor especial da Presidência no governo Bolsonaro, Marcelo Câmara teve a prisão preventiva decretada na última quarta-feira. A prisão foi mantida nesta quinta-feira, 19, em audiência de custódia. Segundo o ministro Alexandre de Moraes, ele tentou acessar informações sigilosas sobre a delação de Mauro Cid por meio de seus advogados.
O advogado de Câmara, Eduardo Kuntz, entregou ao STF mensagens que diz ter trocado com Mauro Cid por meio de um perfil no Instagram. Nos diálogos, o ex-ajudante de ordens teria falado diretamente sobre a delação, feito críticas à investigação e ao relator do caso, Moraes, além de compartilhar links de reportagens com detalhes da apuração e do próprio acordo de colaboração.
Câmara faz parte do chamado Núcleo 2 da denúncia e é apontado como um dos auxiliares de Bolsonaro envolvidos no monitoramento ilegal de Moraes. Ele nega.
O coronel do Exército já havia sido preso em 8 de fevereiro de 2024, durante a Operação Tempus Veritatis, que apura uma tentativa de golpe de Estado e a abolição do Estado Democrático de Direito por um suposto grupo formado por Bolsonaro e aliados. Em maio do mesmo ano, porém, o ministro Alexandre de Moraes concedeu liberdade provisória e impôs medidas cautelares ao militar.
Mário Fernandes
General reformado do Exército e ex-secretário-executivo da Presidência do governo Bolsonaro, Mário Fernandes foi preso na Operação Contragolpe em novembro de 2024. Com ele, foi apreendido o plano “Punhal Verde e Amarelo”, que previa o assassinato do então presidente eleito Lula por envenenamento. O documento também mencionava a possível execução de Alexandre de Moraes e do vice-presidente Geraldo Alckmin.
Hélio Ferreira Lima
O tenente-coronel do Exército Hélio Ferreira Lima, com formação em Forças Especiais, os chamados “kids pretos”, foi preso preventivamente durante a Operação Contragolpe, em novembro do ano passado. Desde então, permanece detido no Comando Militar da Amazônia, em Manaus.
Dados obtidos pela Polícia Federal em celulares apreendidos com o oficial, durante a Operação Tempus Veritatis, indicam que ele teria monitorado o ministro Alexandre de Moraes entre os dias 21 e 23 de novembro de 2023, após ter participado de uma reunião realizada em 12 de novembro de 2022, na casa de Braga Netto, em Brasília, menos de dois meses antes da posse de Lula
Rafael Martins de Oliveira
Major do Exército com formação em Forças Especiais, participou de uma reunião na casa do general Braga Netto em que se discutiu o plano para assassinar Lula e Alckmin. Trocas de mensagens com Cid revelam que ele ficou encarregado de orçar despesas com alimentação, alocação e material das pessoas envolvidas no plano, “para possivelmente viabilizar as ações clandestinas que seriam executadas durante os meses de novembro e dezembro de 2022″. Também teria atuado no financiamento dos atos golpistas, além de participar do monitoramento de Moraes. O militar está preso desde novembro de 2024.
Rodrigo Bezerra de Azevedo
Major de Infantaria, teria participado de “ações com emprego de técnicas militares com formação em Forças Especiais do Exército para propiciar a consumação do golpe de Estado em execução pelos integrantes da organização criminosa ora investigada”, segundo a Polícia Federal. Foi preso na Operação Contragolpe, em novembro de 2024.
Wladimir Matos Soares
Agente da Polícia Federal, ele forneceu informações sobre a segurança do presidente Lula ao grupo golpista. Em uma das ocasiões, chegou a repassar ao então assessor pessoal de Bolsonaro a localização do sargento Misael Melo da Silva, que integrava a equipe de segurança do petista. Áudios recuperados durante a investigação do plano de golpe mostram o policial afirmando que pretendia “matar meio mundo” para manter Bolsonaro no poder após a derrota nas eleições de 2022. O agente está preso desde novembro de 2024.