16 de agosto de 2025
Politica

Congresso acha que está prejudicando Lula, mas está ajudando a consolidar sua estratégia para 2026

Enquanto parlamentares da oposição celebram cada derrota do governo no Congresso, é nas redes sociais que o saldo dessas votações vem sendo revertido. E não a favor dos “vitoriosos”. Nos últimos dias, o Planalto foi derrotado em pautas centrais da agenda econômica, especialmente no que diz respeito ao equilíbrio fiscal e à arrecadação. Mas o que poderia ser usado para minar a imagem de competência do governo está, curiosamente, sendo transformado em munição narrativa para a reeleição de Lula.

O PT tem aproveitado cada revés como oportunidade para reforçar o discurso de que há um complô institucional contra o povo brasileiro. E tem sido eficaz. A militância vem martelando que o Congresso age em defesa dos “ricos”, enquanto barra medidas supostamente destinadas a proteger os mais vulneráveis. A retórica do “governo impedido de governar” está de volta, dando forma a um inimigo imaginário que Lula precisava para antagonizar e buscar convencer os eleitores.

O que era para provocar desgaste político pode estar cruzando a linha entre obstrução legítima e autossabotagem, dando ao Planalto armas para buscar reverter a baixa popularidade.

Lula ao lado dos presidentes do Senado, Davi Alcolumbre, e da Câmara, Hugo Motta
Lula ao lado dos presidentes do Senado, Davi Alcolumbre, e da Câmara, Hugo Motta

Um exemplo emblemático dessa estratégia enviesada foi a aprovação, pela Câmara, de um projeto que pode resultar no aumento da conta de luz para os consumidores. A proposta teve amplo apoio da bancada conservadora, com forte resistência do governo, que alertava para o impacto no bolso da população.

O resultado foi que o tema virou combustível imediato para as redes lulistas, que transformaram os parlamentares da oposição em vilões que impõem mais custos às famílias, enquanto acusam o governo de ineficiência. A reação foi rápida, coordenada e encontrou ressonância.

Lula, por sua vez, está usando os acontecimentos recentes para voltar a intensificar a fantasia de “pai dos pobres”, que lhe garantiu muitos votos ao longo de sua carreira. Assim, toda e qualquer dificuldade que o governo enfrente passa a ser apontada como culpa de uma elite que se recusa a deixar o presidente trabalhar para melhorar a vida dos que mais precisam.

A posição de vítima está sendo cultivada com zelo. E às vésperas de um ano eleitoral ela cai como uma luva. Lula, neste momento, parece se importar menos em costurar maiorias do que em moldar o cenário para 2026.

A ironia é que, ao tentar emparedar Lula, o Congresso serve a seus interesses eleitorais. O presidente, com sua habilidade de transformar adversidade em oportunidade, aproveita o momento para deslocar o eixo do debate e sair da berlinda. E ainda mina a principal estratégia de seus opositores para o ano que vem, que é ampliar a bancada de senadores conservadores. Isso porque, ao pintar o Congresso como um obstáculo à suposta justiça social, Lula está antecipadamente desqualificando os candidatos da direita que disputarão essas cadeiras.

É preciso reconhecer que Lula não é um adversário comum. É um candidato perigoso, porque não vê o Brasil pelas frestas de gabinetes climatizados. Ele enxerga o País com olhos moldados por décadas de andanças em todos os cantos do País. Sabe como ninguém capitalizar o erro dos outros, especialmente quando o subestimam em sua capacidade política.

A oposição, por sua vez, parece acomodada em um cenário que considera amplamente favorável e sob controle, como se bastasse esperar para vencer. Mas, na política, imaginar que o jogo já está ganho é o tipo de prepotência que costuma cobrar caro. E o presidente, que já renasceu das cinzas mais de uma vez, tem suas receitas para tentar virar o jogo quando todos acham que ele está fora da partida.

 

 

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