30 de junho de 2025
Politica

Impacto da guerra no Oriente Médio faz Lula insistir em reforma de conselho da ONU; leia bastidores

A escalada do conflito no Oriente Médio, com a entrada dos Estados Unidos na guerra entre Israel e Irã, fez o governo brasileiro insistir na pregação pela reforma do Conselho de Segurança da ONU. Na avaliação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que passou os últimos dias em conversas com o chanceler Mauro Vieira e o assessor especial para Assuntos Internacionais, Celso Amorim, o quadro de tensão global reflete a incapacidade do colegiado de conter tragédias humanitárias.

Uma tensa reunião de emergência do Conselho de Segurança das Nações Unidas, neste domingo, 22, terminou sem votar a resolução apresentada por China, Rússia e Paquistão, que pede o imediato cessar-fogo.

Horas antes, o Itamaraty divulgou uma nota condenando os ataques norte-americanos a instalações nucleares do Irã. No comunicado, o Brasil destaca a urgente necessidade de uma solução diplomática, sob o argumento de que a guerra pode causar “danos irreversíveis para a paz e a estabilidade” e para o regime de não proliferação e desarmamento nuclear.

Lula e Mauro Vieira durante a reunião de cúpula Brasil-Caribe
Lula e Mauro Vieira durante a reunião de cúpula Brasil-Caribe

A preocupação do governo, no entanto, vai além. Se o Irã cumprir a ameaça de fechar o estreito de Hormuz, o mundo todo sentirá os seus efeitos.

“O Conselho de Segurança da ONU é, efetivamente, um tigre sem dentes”, comparou Leonardo Trevisan, professor de Relações Internacionais da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM). O grupo das Nações Unidas é formado por 15 países-membros, sendo cinco permanentes (Estados Unidos, China, França, Reino Unido e Rússia). Outros dez ocupam cadeiras rotativas.

Desde o seu primeiro mandato, Lula defende a ampliação do Conselho de Segurança da ONU, alegando que somente assim o colegiado poderá representar o atual xadrez geopolítico. Em mais de uma ocasião, o Brasil conseguiu sinais de apoio da China para essa demanda, mas tudo ficou na retórica.

Para o professor Trevisan, a grande arma do Irã, nos dias atuais, não é nuclear, mas, sim, econômica. “Quase 30% do petróleo e do gás liquefeito produzidos no mundo passa por Hormuz”, observou ele.

Projeções do JP Morgan indicam que o preço do barril, hoje em US$ 79, pode atingir até US$ 120 se houver o fechamento do estreito de Hormuz, logo na primeira semana da medida.

“Diante dessa situação, a China – que costuma falar de boca fechada, principalmente com Donald Trump – deve mostrar o alto risco de recessão, mesmo nos EUA”, afirmou Trevisan. “Será que Trump esqueceu que o povo americano vota com o bolso?”

O ex-chanceler Aloysio Nunes Ferreira, por sua vez, disse não saber avaliar o impacto da guerra para o Brasil. “Quem preza o direito internacional como expressão da razão fica chocado com essa prevalência da lei do mais forte. Tudo isso é um horror”, reagiu.

O Brasil está sem embaixador no Irã e em Israel. André Veras Guimarães deverá assumir o posto em Teerã nos próximos dias, de acordo com informações do Itamaraty.

A decisão de retirar o embaixador de Israel, porém, foi tomada por Lula em maio do ano passado por causa dos atritos no relacionamento com o país. Foi um gesto político contra o governo do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu e não há expectativa de nomeação para a embaixada em Tel Aviv enquanto o mal-estar perdurar.

 

 

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