Nomes da direita miram 2026 como porta de entrada para era pós-Lula e pós-Bolsonaro
Com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) inelegível e réu por tentativa de golpe de Estado, a direita busca um outro nome para enfrentar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas eleições de 2026. Porém, a insistência de Bolsonaro no discurso de que será candidato tem bloqueado qualquer articulação nesse sentido. O cenário atual na direita é de congestionamento, com mais de meia dúzia de possíveis postulantes.
Cientistas políticos ouvidos pelo Estadão avaliam que é pouco provável que a direita consiga se unir em torno de uma candidatura única no primeiro turno. Entre os fatores que favorecem essa fragmentação estão o interesse dos partidos em ampliar suas bancadas no Congresso e a movimentação de figuras da direita em busca de projeção nacional, já de olho no cenário pós-Lula e pós-Bolsonaro.
No início deste mês, a consultoria de análise de risco político Dharma enviou a clientes um relatório, ao qual a reportagem teve acesso, afirmando que o cenário mais provável para 2026 é justamente a divisão da direita na primeira fase da disputa.
Segundo a consultoria, a estratégia busca ampliar a ocupação de espaços no Congresso, permitindo que cada partido faça uma maior concentração de recursos e esforços nas eleições legislativas, com o objetivo de maximizar o uso dos Fundos Partidário e Eleitoral, além das emendas parlamentares.
O cientista político e CEO da Dharma, Creomar de Souza, avalia que o principal obstáculo para as articulações da direita atualmente vem, principalmente, dos partidos do Centrão. “O movimento desses partidos é claro: evitam se comprometer com um nome para a Presidência, mas atuam de forma incisiva para garantir uma posição estratégica nas eleições de 2026”, diz.
Potenciais candidatos miram era pós-Lula e pós-Bolsonaro
Outro fator para essa divisão é a busca por protagonismo mirando não só a disputa do ano que vem, como também as eleições de 2030, quando nem Lula nem Bolsonaro devem ser candidatos ao Palácio do Planalto. Assim, o pleito do próximo ano é encarado como uma oportunidade para que novas figuras ganhem visibilidade nacional. Independentemente das chances de vitória, essas candidaturas podem abrir caminho para 2030.
A tese de renovação geracional se apoia tanto na idade de Lula como na situação jurídica de Bolsonaro. Em 2026, Lula vai completar 81 anos e, se for reeleito, vai terminar seu quarto mandato aos 86. Já Bolsonaro, de 70 anos, está inelegível até 2030, enfrenta uma ação penal no Supremo Tribunal Federal, com risco de prisão ainda neste ano – o que o afastaria das urnas por tempo indeterminado.
Em evento do agronegócio no mês passado, o governador do Paraná, Ratinho Júnior (PSD), expressou visão semelhante ao afirmar que “o Brasil está sendo governado há 40 anos pela geração das décadas de 50 e 60” e que é hora de uma nova geração assumir o protagonismo. Ele é considerado um potencial candidato ao Planalto em 2026.
Outros nomes da direita que surgem como possíveis candidatos à Presidência em 2026 são os governadores Tarcísio de Freitas (Republicanos), de São Paulo; Ronaldo Caiado (União), de Goiás; Eduardo Leite (PSD), do Rio Grande do Sul; e Romeu Zema (Novo), de Minas Gerais. Também são cotados a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro (PL) e o deputado federal licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP).
“A eleição de 2026 será um marco, seja com Lula vencendo ou perdendo, porque provavelmente será sua última disputa presidencial, especialmente por conta da idade. Isso abre espaço para o lançamento de novos nomes – se não para 2026, certamente para 2030″, diz o cientista político Paulo Niccoli Ramirez, professor da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESPSP).
Para Ramirez, a ausência de Lula e Bolsonaro vai deixar um vazio que os partidos terão que preencher. “E aí temos um desafio: poucos partidos se preocuparam em construir novas lideranças ou preparar sucessores jovens”, avalia. “Lula e Bolsonaro são figuras que concentram enorme capital político. Depois deles, o jogo muda — e os partidos vão ter que correr para preencher esse vácuo de lideranças.”
Já a antropóloga Isabela Kalil, também professora da FESPSP, diz que as eleições de 2026 não serão o início de um novo ciclo político, e sim o fim do período marcado pela presença de Lula nas urnas.
“É um encerramento, mas ainda não dá para dizer que um novo ciclo começou”, afirma. “No entanto, estamos em um momento de mudanças profundas na política – desde a comunicação até o papel da esquerda e da direita. E isso, de fato, favorece o surgimento de novas lideranças.“
A especialista considera que Bolsonaro terá mais facilidade em transferir seu capital político quando comparado a Lula. Para ela, o sobrenome do ex-presidente seguirá com força nas urnas. “Não subestimaria nenhum dos Bolsonaros. Nunca tivemos esse tipo de transferência de votos pelo sobrenome na Nova República.”
Direita vê Lula em posição de fragilidade
Também há uma percepção entre lideranças políticas de que disputar o Palácio do Planalto no ano que vem pode oferecer mais ganho do que prejuízo. Parte dessa análise baseia-se no desempenho atual do governo federal, que é reprovado por 57% da população, segundo pesquisa Genial/Quaest divulgada no início deste mês.
Embora esse quadro possa mudar até o dia das eleições, a avaliação negativa sobre a gestão petista encoraja os possíveis adversários de Lula em 2026. “Do lado da direita, há uma leitura – talvez enviesada, por estarem na oposição – de que o Lula está tão frágil que qualquer um pode vencê-lo. E isso gera uma consequência: vários querem se lançar agora, antes mesmo das legendas se definirem”, diz o CEO da Dharma, Creomar de Souza.
Ele também afirma que o incentivo para se lançar à Presidência é maior entre os governadores que não poderão disputar a reeleição no ano que vem. “Não à toa, o (governador de Goiás, Ronaldo) Caiado lançou sua pré-candidatura cedo. Não à toa, o (governador de Minas, Romeu) Zema tenta nacionalizar seu nome de forma até histriônica.”
Já a professora da FESPSP Isabela Kalil avalia que, caso o governador de São Paulo seja candidato ao Palácio do Planalto, existe uma possibilidade de união no campo da direita ainda no primeiro turno. “Tarcísio é um nome que resolveria todos os problemas da direita. Hoje, o nome mais viável é o dele, com alguém mais próximo da família Bolsonaro como vice. A Michelle, por exemplo, é um nome forte”, diz.
Como o Estadão mostrou, Bolsonaro (PL) sinalizou a Tarcísio que está disposto a apoiá-lo como candidato a presidente na eleição de 2026 em uma chapa que teria Michelle Bolsonaro como vice.