30 de junho de 2025
Politica

Corinthians-Vai de Bet: Polícia liga ‘Careca do INNS’ e influencer Buzeira à rede de lavagem do PCC

O lobista Antônio Carlos Camilo Antunes conecta duas investigações improváveis: o inquérito das fraudes contra aposentados do INSS e a apuração dos desvios no contrato do Corinthians com a empresa de apostas Vai de Bet.

O nome dele surgiu pela primeira vez na Operação Sem Desconto, da Polícia Federal, que se debruça sobre os abatimentos indevidos nos contracheques de aposentados e pensionistas por meio de sindicatos e associações. Foi apontado como o principal operador financeiro do esquema de fraudes. Por isso, Antônio Carlos Camilo Antunes ficou conhecido como “Careca do INSS”. Mas, segundo a Polícia Civil de São Paulo, que investiga o contrato do Corinthians, Antunes pode ter atuado em outros “nichos”.

O Estadão pediu manifestação da defesa do “Careca” e busca contato com os outros citados no inquérito. O espaço está aberto.

Duas empresas ligadas ao “Careca do INSS”, a ACCA Consultoria Empresarial Ltda e a Arpar Administração, Participação e Empreendimento S.A., apareceram em um relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) na investigação do caso Vai de Bet.

O relatório final do inquérito do caso Corinthians-Vai de Bet tem 272 páginas e é subscrito pelo delegado Tiago Fernando Correia, do Departamento de Polícia de Proteção à Cidadania – braço da Polícia Civil paulista que investiga crimes contra a administração, combate à corrupção e lavagem de dinheiro.

O documento indica movimentações financeiras da empresa Wave Intermediações de Negócios, que segundo a Polícia Civil lavou parte do dinheiro supostamente desviado do contrato do Corinthians com a Vai de Bet.

A Wave também teve o sigilo bancário quebrado. O resultado surpreendeu até mesmo os investigadores. O CNPJ transacionou com 2.905 pessoas físicas e jurídicas, entre elas as empresas do “Careca”.

Entre setembro de 2023 e fevereiro de 2024, a Arpar enviou R$ 1.058.500.00 à Wave, em cinco Pixs. Nesse mesmo período, a Arpar recebeu R$ 125 milhões em sua conta. Mais de R$ 7 milhões vieram da ACCA.

“Em outras palavras, a Arpar parece operar recursos de distintas fontes ilícitas (assim como a Wave e a Victory), para em ato contínuo, transferi-los a outras contas de passagem ou, quicá aos destinatários finais”, diz um trecho do relatório da Polícia Civil no caso Vai de Bet.

Antônio Carlos Camilo Antunes é citado no relatório final do inquérito Corinthians-Vai de Bet.
Antônio Carlos Camilo Antunes é citado no relatório final do inquérito Corinthians-Vai de Bet.

Os investigadores afirmam que estão “diante de um arquitetado concerto delitivo”. “O dinheiro deixou variados rastros e, por conta disso, as pessoas envolvidas acabaram, em dado momento, se entrecruzando e, consequentemente, figurando de alguma maneira nesta grande teia criminosa”, conclui a Polícia de São Paulo.

Para a Polícia Civil, tanto a Wave quanto as empresas do “Careca do INSS” são empresas de fachada criadas para operar como contas de passagem e, com isso, blindar os reais beneficiários de desvios e outros crimes. Nesses esquemas de lavagem, o dinheiro passa por uma série de contas antes de chegar ao destinatário final, o que dificulta o trabalho de órgãos de investigação e controle.

Na longa lista de pessoas físicas e jurídicas implicadas no relatório financeiro da Wave também consta o influenciador Bruno Alexssander Souza Silva, conhecido como “Buzeira”, que tem mais de 13 milhões de seguidores no Instagram. Ele é investigado por suspeita de ligação com o traficante “Neymar do PCC”, pela exploração de jogos de azar e por suspeita de lavar dinheiro do PCC.

Bruno Alexssander Souza Silva, conhecido como “Buzeira”, na final do Campeonato Paulista.
Bruno Alexssander Souza Silva, conhecido como “Buzeira”, na final do Campeonato Paulista.

O influenciador e sua empresa, a Buzeira Digital, receberam vultuosos recursos de pessoas físicas e jurídicas que transacionaram com a Wave. Entre elas um agropecuarista, um promotor de vendas e os influenciadores Chrystian Dias e Débora Paixão Ramos, também investigados pela divulgação de jogos de azar.

“É extremamente questionável a presença da Wave nessas operações financeiras relatadas, principalmente pelo fato de que, como apontado anteriormente, tudo indica que ela ocupa posição central na lavagem de dinheiro do crime organizado. Fato é que a ligação de influencers com organizações criminosas – suspeita levantada em incontáveis apurações penais – aqui igualmente parece encontrar indícios consistentes”, aponta a Polícia de São Paulo.

A Wave também manteve um relacionamento financeiro intenso com a empresa Victory Trading Intermediação de Negócios, Cobranças e Tecnologia Eireli. As transferências chegaram a bater R$ 13,6 milhões no intervalo de dois dias, em março de 2024. Os investigadores identificaram operações milionárias da Victory para Buzeira.

“É no mínimo suspeito constatar que os valores desviados do Clube do Parque São Jorge percorreram as contas da Wave e da Victory, e que Buzeira – com ótimo trânsito junto à direção corintiana – foi citado no RIF da Wave e, mais grave que isso, recebeu vultosas quantias da Victory”, aponta a Polícia Civil.

Influenciador em reunião no Corinthians.
Influenciador em reunião no Corinthians.

Torcedor do Corinthians, Buzeira esteve na final do Campeonato Paulista, em março, entrou em campo e tirou fotos com a taça e com os jogadores do clube. Ele foi o sexto maior doador da “vaquinha” da Fiel Torcida, em prol da Neo Química Arena.

“Vislumbra-se um entrelaçamento atípico de pessoas ligadas, direta ou indiretamente, à direção da agremiação lesada, com o agravante de que há fortes indícios a indicar que as sociedades empresariais em tela, bem como o influenciador citado, mantêm aparente relação com o crime organizado”, concluem os investigadores.

A Polícia indiciou no inquérito da Vai de Bet o presidente afastado do Corinthians, Augusto Melo, o ex-superintendente de marketing Sergio Moura, o ex-diretor administrativo Marcelo Mariano, o ex-diretor jurídico Yun Ki Lee e o empresário Alex Cassundé.

COM A PALAVRA, OS CITADOS

A reportagem busca contato com todos os citados. O espaço está aberto para manifestação (rayssa.motta@estadao.com; marcelo.godoy@estadao.com; fausto.macedo@estadao.com).

 

 

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