Inventário bilionário de Rodolfo Bonfiglioli, ex-Banco Auxiliar, provoca racha entre filhos
O inventário do empresário e ex-banqueiro Rodolfo Marco Bonfiglioli, falecido em setembro de 2024, teve um início conturbado na Justiça. Uma das herdeiras, Claudia Bonfiglioli, acusa o irmão, Alberto, que administra o espólio, de omitir pelo menos R$ 1 bilhão em bens a serem partilhados, o que ele nega. Os dois cortaram relações há anos.
Bonfiglioli dirigiu o Banco Auxiliar, fechado em novembro de 1985. A instituição financeira era parte de um conglomerado de negócio, do qual fez parte também a Companhia Industrial de Conservas Alimentícias (Cica), fundada em 1941 com outras famílias de origem italiana em Jundiaí, no interior de São Paulo.
Rodolfo fez seu testamento em 2006. Em 2018, ele foi interditado e Alberto, designado curador do pai, passou a administrar os bens da família. O empresário morreu aos 98 anos. Com a abertura do inventário, foram apresentados os primeiros levantamentos do patrimônio dos Bonfiglioli, o que conflagrou o processo.

Claudia acusa o irmão de promover um “premeditado esvaziamento patrimonial” ao longo dos anos. Também afirma que Alberto omitiu da prestação de contas participações societárias e o crédito de R$ 234 milhões liberado em 2021 ao Banco Auxiliar, depois de sua liquidação extrajudicial. Ainda, sumiu com obras de arte de alto valor e vendeu imóveis.
“Não se está a dizer que o patrimônio do autor da herança foi arruinado ou algo do gênero, mas sim, que este patrimônio foi objeto de complexa e rebuscada engenharia societária com o flagrante propósito de fraudar os herdeiros”, afirmam os advogados Flávio Lucas de Menezes e Renato Borelli Valentim, que representam Claudia, em uma das primeiras manifestações no processo, entregue nesta semana.

Presidente da Casa Hope, instituição filantrópica que oferece apoio a crianças e adolescentes com câncer, Claudia contratou empresas especializadas em avaliação de ativos e investigações de fraudes para contraditar o irmão no processo de inventário. Segundo cálculos preliminares, pelo menos R$ 1 milhão estariam sendo omitidos do processo, mas segundo ela o valor pode ser maior.
O advogado Gustavo Pacífico, que representa Alberto no processo, disse ao Estadão que os cálculos apresentados por Claudia são “completamente fantasiosos” e que, por nunca ter participado da gestão e da administração dos bens da família, ela reivindica ativos que não pertenciam ao pai.
“As primeiras declarações foram apresentadas com a ressalva expressa de que o inventariante ainda está levantando maiores informações e documentos dos bens do falecido. Não houve sonegação de nenhum valor, de nenhum bem, até porque as informações prestadas seguiram estritamente as declarações de Imposto de Renda, inclusive antes da interdição”, afirma Pacífico.

A defesa de Claudia também afirma que uma holding ligada ao irmão estaria se valendo do dinheiro obtido com a venda de bens que deveriam pertencer ao espólio para se favorecer e, “em flagrante fraude”, comprar os direitos hereditários dos herdeiros.
Segundo informações do processo, esse fundo acionista propôs comprar os direitos hereditários de cada filho por R$ 3,5 milhões e da viúva, Maria Helena Scuracchio Bonfiglioli, por R$ 18 milhões.
“Estes fatos, somados a todos os outros já expostos, são mais do que suficientes para que se tenha por reconhecida a fraude perpetrada pelos envolvidos, consistente na criação artificial e totalmente desacompanhada de substrato econômico de empresas e fundos de investimento, valendo-se do relevante patrimônio do autor da herança”, afirma a defesa de Claudia em sua manifestação à Justiça.

O advogado de Alberto nega que ele tenha vínculo com o fundo ou intenção de adquirir direitos hereditários da família.
“Alberto segue estritamente os seus deveres legais e, enquanto herdeiro, luta arduamente para manter o patrimônio da família. Enquanto o pai era vivo, ele sempre prestou contas no processo de interdição e boa parte dessas contas já foi julgada e aprovada pela Justiça”, conclui Pacífico.
O processo tramita na 9.ª Vara de Família e Sucessões de São Paulo. A defesa de Claudia informou que pretende dar entrada em ações autônomas contra Alberto, inclusive um processo criminal.