29 de junho de 2025
Politica

O recado de Hugo Motta ao Planalto: gentileza não é ‘gente lesa’

Quando o Planalto decidiu apoiar Hugo Motta (Republicanos-PB) na disputa à presidência da Câmara dos Deputados, um dos fatores que pesaram favoravelmente foi sua facilidade para dialogar com os diferentes grupos políticos na Casa. Por um incontável número de vezes, lideranças governistas que apoiaram a escolha usaram a expressão “cordial” em referência ao paraibano. A aposta era de que seria mais fácil negociar com ele, e que a crise constante vivenciada com a gestão de Arthur Lira (PP-AL) teria fim.

Na ocasião, entretanto, um dos ministros palacianos manifestou à Coluna do Estadão uma preocupação. Afirmou que Arthur Lira é direto e diz logo o que aceita ou não, sem meias palavras. “O diálogo é mais difícil, mas sabemos o que está em jogo”. Com Hugo, entretanto, ele não tinha essa certeza, pois o tom ameno nem sempre significa que está tudo bem. Esse entendimento foi ratificado por um integrante do Ministério da Fazenda.

Nesta semana, após o governo ser derrotado com a derrubada do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), aliados do presidente Luiz Inácio Lula da Silva – antes felizes com Motta – passaram a usar os termos “sinuoso” e “pouco confiável” ao se referirem a ele. “Quem diria que sentiríamos falta de Arthur Lira?”, brincou uma liderança petista.

Do outro lado, entretanto, os aliados de Hugo Motta saíram em sua defesa com uma conclusão amparada numa expressão popular no Nordeste. Para eles, o presidente da Câmara apenas mandou um recado claro ao presidente Lula e seu time palaciano: “Não confundam gentileza com gente lesa”.

O dicionário Michaelis – Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa – aponta nos regionalismos: “Pessoa lesa ou tola; aparvalhado, apatetado, imbecil, palerma”.

Para líderes do Centrão, o presidente Lula, entretanto, não enxergou ainda a mudança na gestão do Congresso. Eles avaliam que o petista estava “mau acostumado” com o estilo conflituoso de Arthur Lira. Especialmente porque o racha do deputado com o então presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), ajudava Lula a conter parte dos desgastes freando a pauta com ajuda do mineiro.

Agora, porém, Hugo Motta e o atual presidente do Senado, Davi Alcolumbre, tem diálogo direto e agem com tudo combinado, como ocorreu, inclusive na decisão de votar e derrubar o aumento do IOF.

Motta ganha força na Câmara ao enfrentar Planalto

Vários fatores levaram Motta ao enfrentamento direto com o Planalto. A falta de cumprimento de acordos negociados diretamente com Lula ou com os ministros e a estratégia do governo de jogar nos deputados as pechas de “achacadores”, ao cobrarem as emendas parlamentares, e de defensores dos ricos, na discussão dos impostos, funcionaram como estopim.

“Ou Hugo agia assim ou perdia sua governabilidade na Casa”, ressaltou um ex-presidente da Câmara. Outro ex-mandatário já havia afirmado à Coluna que um presidente da Câmara só conquista e mantém força quando os deputados se sentem defendidos por ele. Tal qual num sindicato.

Até uma semana atrás, alguns parlamentares demonstravam dúvidas. Consideravam haver um jogo de “morde e assopra”, na relação de Hugo com o governo Lula.

Além disso Hugo Motta assumiu a presidência após quatro anos da mão forte de Arthur Lira no comando da Casa e num cenário diferente. Com as novas regras do Judiciário sobre as emendas parlamentares, ele não tem o mesmo poder de seu antecessor para “segurar a onda” de um plenário insatisfeito.

O presidente da Câmara, Hugo Motta, na sessão que derrubou o aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF)
O presidente da Câmara, Hugo Motta, na sessão que derrubou o aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF)

 

 

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