30 de junho de 2025
Politica

Governo banca ONG do sindicato do ABC para curso pós ‘golpe contra Dilma’ e ‘feira esquerda livre’

BRASÍLIA – O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ampliou parcerias com a ONG dirigida por integrante do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC que tem sede no prédio da entidade, em São Bernardo do Campo (SP).

Desde o início da gestão, os oito convênios assinados somam R$ 19,1 milhões e foram celebrados com ministérios controlados pelo PT: Trabalho, Direitos Humanos e Desenvolvimento Agrário.

O Executivo afirma que as seleções se dão a partir de análise técnica e do cumprimento de bases legais (leia mais abaixo).

Parte das atividades para as quais a ONG Unisol (Central de Cooperativas e Empreendimentos Solidários do Brasil) foi contratada para desenvolver tem vínculo com a agenda ideológica do Partido dos Trabalhadores.

Arildo Lopes, presidente da ONG, com Lula, em 2021
Arildo Lopes, presidente da ONG, com Lula, em 2021

Uma delas consiste em formar defensores dos direitos humanos para evitar ataques à democracia e desmonte das políticas públicas como aqueles que se seguiram ao que chamou de “golpe” contra Dilma Rousseff (PT) – em referência ao impeachment da ex-presidente, em 2016.

A ação, celebrada com o Ministério dos Direitos Humanos, custou R$ 400 mil, pagos por meio de emenda do deputado Vicentinho (PT-SP).

“Após o golpe sofrido pela ex-presidenta Dilma, o Brasil passou por um período de cinco anos de desmonte das políticas públicas, em especial ao que se refere aos direitos humanos e a participação social. Este período causou imenso prejuízo para a sociedade brasileira, acreditamos que apenas com organização e educação popular é possível fortalecer a sociedade civil para evitar possíveis ataques aos direitos humanos e à democracia”, justificou a ONG ao governo.

O “curso de democracia” deve formar 300 pessoas, por meio de seminários e debates principalmente virtuais, sendo oito eventos de quatro horas, cada, para dez turmas.

Entre as metas da parceria que vale até 2026 estão a criação de uma “rede de defesa de direitos humanos” e a distribuição de 3 mil cartilhas para que beneficiários da capacitação “multipliquem conhecimentos adquiridos durante a formação”.

No Ministério do Trabalho, outro contrato com a ONG prevê ações de “fortalecimento da rede de comercialização” para participantes da Feira Esquerda da Livre. A iniciativa se define como uma “feira colaborativa de empreendedores e artistas de esquerda, feita pela esquerda, para a esquerda”.

O projeto, com custo de R$ 200 mil, tem por objetivo “melhorar a renda e a qualidade de vida de 250 beneficiários de 30 empreendimentos”, em São Paulo. A iniciativa foi bancada com recurso designado pelo deputado Nilto Tatto (PT-SP).

Também na pasta do ministro Luiz Marinho, do Trabalho, está o principal projeto da ONG Unisol com o governo federal. Por R$ 15,8 milhões a entidade ligada ao sindicato, no ABC Paulista, foi selecionada para retirar lixo da terra indígena yanomami, em Roraima.

Como informou o Estadão, o contrato foi firmado por meio da Secretaria de Economia Popular e Solidária, comandada pelo ex-ministro Gilberto Carvalho (PT), um dos mais importantes conselheiros do PT e do presidente Lula.

O valor foi integralmente pago antecipadamente em 31 de dezembro, três dias após a assinatura do acordo. A ONG terá dois anos para cumprir os requisitos da parceria. A Unisol informa como sede uma sala de 40 m² no subsolo do prédio do sindicato dos metalúrgicos.

Os demais convênios da Unisol, como os firmados com o Ministério do Desenvolvimento Agrário, visam capacitar agricultores familiares para desenvolvimento sustentável. Em outra frente, com a pasta dos Direitos Humanos, pretende atuar no resgate de autoestima de pessoas em situação de rua com ações de educação e qualificação profissional.

ONG tem sindicalistas no quadro e alcançou recorde em repasses de verba

Os acordos com o governo federal na atual gestão petista fizeram a Unisol alcançar um recorde em repasses federais. Nos últimos dez anos, ela saiu de cerca de R$ 1 milhão por ano para quase R$ 18 milhões só em 2024.

A Unisol tem entre seus diretores Carlos José Caramelo Duarte, que ao mesmo tempo é vice-presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC. O presidente da ONG é Arildo Mota Lopes, um ex-diretor da entidade sindical. Ambos são filiados ao PT e aliados do governo.

Procurada, a ONG afirmou estar aberta a trabalhar com qualquer setor da sociedade que compartilhe princípios do cooperativismo, do empreendedorismo social e da defesa dos direitos humanos.

Sobre a formação a ser oferecida no contexto de um “golpe”, disse que o texto apresentado “reflete o contexto político do País”. “São fatos públicos e notórios, que fazem parte da história recente do Brasil”, alegou. A Unisol não informou que ainda está “dentro do prazo de vigência”.

Em relação à “Feira Esquerda Livre”, disse que o projeto foi executado e está na fase de prestação de contas. Segundo a Unisol, foram realizadas “atividades de formação em cooperativismo, empreendedorismo, trabalho coletivo e fortalecimento dos vínculos comunitários”.

“A Unisol é uma instituição séria, que há muitos anos atua no fortalecimento da economia solidária, do empreendedorismo e da geração de trabalho e renda”, afirmou ao Estadão.

O Ministério dos Direitos Humanos afirmou que a Unisol foi selecionada para oferecer o projeto de formação seguindo os procedimentos estabelecidos na legislação. A entidade atendeu aos critérios legais e teve proposta aprovada com base em análise técnica da área responsável.

Em nota, a pasta disse que “reafirma seu compromisso com a transparência, a integridade na gestão das parcerias e a boa aplicação dos recursos públicos”.

Sobre a “Feira Esquerda Livre”, o Ministério do Trabalho informou, “no caso de emendas impositivas, cabe à pasta verificar o cumprimento dos requisitos legais para a celebração, realizar o monitoramento da implementação e analisar a prestação de contas ao final do período do projeto”.

“O Ministério do Trabalho e Emprego reitera seu compromisso com a transparência, a integridade na condução das parcerias e a adequada utilização dos recursos públicos. A execução das ações é monitorada continuamente pela equipe técnica, assegurando o pleno cumprimento das normas legais vigentes”, frisou.

Com relação à parceria com a ONG para retirar lixo na terra yanomami, o ministério informou que as ações estão previstas para o segundo semestre.

O Sindicato dos Metalúrgicos do ABC afirma que a Unisol “surgiu, sim, de uma iniciativa do sindicato”, mas não pertence a ele. A ONG, segundo os sindicalistas, tem “total autonomia administrativa, política e financeira”.

 

 

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