3 de julho de 2025
Politica

Planalto dobra aposta e inclui classe média na estratégia para isolar os BBBs: ‘99% contra 1%’

O governo vai dobrar a aposta e fazer nova disputa política com aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), antecipando o tom da campanha de 2026. Depois de ressuscitar o “nós contra eles”, a equipe do presidente Luiz Inácio Lula da Silva prepara uma estratégia para atingir também a classe média. A ideia é mostrar que os mais ricos estão isolados porque 99% da população defende “justiça tributária” e apenas 1% é contra.

Lula será o “motor” do conceito de que, para manter as contas públicas equilibradas, o governo vai taxar “quem sempre pagou pouco ou quase nada”. Todos os ministros também foram orientados a bater na mesma tecla, sem se importar com o impacto do enfrentamento ao Congresso.

“Sei que existe uma disputa ideológica no País, mas vamos para os resultados. Vamos falar Português para as pessoas”, disse o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, ao participar da cerimônia de lançamento do Plano Safra Empresarial, nesta terça-feira, 1, no Palácio do Planalto. “São patriotas que pensam que, quando a economia está indo bem, o País está mal?”, provocou ele.

Haddad causou surpresa ao fazer até mesmo um elogio ao trabalho do ministro da Casa Civil, Rui Costa, seu desafeto desde o início do governo. Nos bastidores, houve quem afirmasse naquele Salão Nobre que um colapso à vista faz milagres.

Desde a semana passada, quando o Congresso derrubou o decreto de Lula que aumentava o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), o Planalto entendeu que o pano de fundo da briga ia muito além do tributo. Na lista dos fatores que contribuíram para o Centrão puxar a faca contra o governo estão embates por cargos, insatisfação com o atraso no pagamento de emendas parlamentares, queixas do mercado e as eleições de 2026.

Lula ficou irritado com um vídeo divulgado nas redes sociais pelo presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), dizendo que “quem alimenta o nós contra eles acaba governando contra todos”. A Advocacia-Geral da União (AGU) recorreu ao Supremo Tribunal Federal (STF) contra a decisão do Congresso.

“É justo Bancos, Bets e Bilionários (BBB) não quererem pagar imposto?”, perguntou o ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social, Sidônio Palmeira, numa referência aos vídeos divulgados pelo PT em defesa da taxação BBB. “Não se trata de pobres contra ricos. A classe média também paga imposto alto. É 99% contra 1%”, destacou ele, indicando a nova estratégia de comunicação.

Monitoramentos feitos pelo Planalto mostram que, nas redes sociais, a versão recauchutada do “nós contra eles” superou as expectativas, ultrapassando os posts bolsonaristas em número de interações.

Embora até mesmo aliados do governo tenham receio dessa guinada à esquerda, o argumento usado por ministros é o de que Lula não pode ceder porque, se assim o fizer, o Congresso derrubará todas as medidas de interesse do Planalto.

“Há uma exacerbação de poderes por parte do Legislativo”, afirmou o ministro do Desenvolvimento Agrário, Paulo Teixeira. “Se os parlamentares estão bravos com o STF, o debate que eles têm de travar é com o Supremo. O CPF ali não é o do Lula”.

De qualquer forma, o julgamento da colisão do Executivo com a cúpula da Câmara e do Senado vai, mais uma vez, sobrar para o STF. E, no Congresso, o troco não vem a cavalo.

Resta ao governo esperar que algum acordo seja construído em Lisboa, onde, a partir desta quarta-feira, 2, ministros do STF, do governo, deputados e senadores estarão reunidos no fórum organizado pelo decano Gilmar Mendes, conhecido como “Gilmarpalooza”.

O objetivo do fórum, que vai até sexta-feira, 4, é debater grandes questões do Direito e da política no Estado contemporâneo. Diante de tanta confusão na República, o risco é todos saírem da capital de Portugal sem falar o Português sugerido por Haddad.

 

 

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