Divisão nos Brics diminui risco de confronto com Trump
Às vésperas da reunião de 6 e 7 de julho no Rio, o ambiente dos Brics lembra um congresso cujo painel principal foi cancelado. O bloco, recém-ampliado para onze países, chega com expectativas modestas: Xi Jinping permanece em Pequim, Vladimir Putin lida com restrições do Tribunal Penal Internacional e Abdel Fattah al-Sisi, do Egito, também deve faltar.
Sem duas figuras centrais — e com a guerra na Ucrânia e a instabilidade no Oriente Médio dominando o noticiário — líderes como Lula e Narendra Modi parecem dispostos a concentrar esforços em encontros reservados, onde o retorno costuma ser mais tangível.

Com o palco principal desmontado, as propostas de moeda comum ou sistemas paralelos de pagamento perderam tração. O próprio desenho técnico já era frágil; depois que Donald Trump, ainda presidente eleito, sinalizou tarifas de até 100 % a quem desafiasse o dólar, a pauta foi suavemente arquivada por diplomatas em Brasília e Nova Déli.
O máximo que se espera é uma menção protocolar a liquidações em moedas locais, acompanhada de gestos em temas menos sensíveis — governança da inteligência artificial e financiamento climático — onde persiste algum denominador comum e menor risco de retaliação.
Ainda assim, convém não desprezar o valor residual do fórum. Para o Brasil, os Brics continuam vitrine perante o Sul Global e contrapeso simbólico em debates no G20 ou na ONU. A expansão, acolhida com reservas por Itamaraty, acabou estreitando laços com Ásia, África e Oriente Médio e fortalece o Novo Banco de Desenvolvimento (NDB).
O grande obstáculo segue sendo a heterogeneidade de interesses. A fragmentação dos Brics expõe a dificuldade de coordenar uma agenda multilateral; enquanto isso, ganha peso a diplomacia bilateral. Ao privilegiar essa abordagem, o Brasil pode sair do encontro sem manchetes estrondosas, mas com avanços concretos, especialmente na relação comercial com países do Golfo e do Sudeste Asiático.