6 de julho de 2025
Politica

Esquerda atira em Hugo Motta mirando em Tarcísio

Hugo Nem Se Importa. Este é o nome que a esquerda deu ao personagem dos vídeos produzidos por IA – inteligência artificial, feitos para criticar o presidente da Câmara dos Deputados, o paraibano Hugo Motta. Nas imagens produzidas por computador, que estão circulando de forma viral nas redes, o parlamentar fictício representa o estereótipo de um político que se beneficia das mordomias proporcionadas pelo cargo, e que não está preocupado em melhorar a vida dos brasileiros.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o governador de São Paulo Tarcísio de Freitas em solenidade em Santos
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o governador de São Paulo Tarcísio de Freitas em solenidade em Santos

Hugo Nem Se Importa é debochado, cercado de ostentação, e ri ao falar dos pobres, que, conforme verbaliza em linguagem direta, seriam os que arcam com o luxo dos engravatados do Congresso.

Mas há um detalhe que permite uma leitura mais ampla e explicita a ideia de que os vídeos marcam a estreia do processo eleitoral, de forma antecipada: o avatar em IA do presidente da Câmara tem sotaque paulistano, se ambienta em um cenário que poderia ser a Faria Lima – muito distante dos cenários da Paraíba – e é destacado por ter recebido os parabéns do ex-governador de São Paulo, João Dória, e de outros empresários paulistas, após a votação que derrubou o aumento do IOF. Nesse mundo virtual paralelo, esse imposto é colocado como uma espécie de taxa Robin Hood, que incidiria apenas sobre os ricos, para ajudar a melhora a vida dos pobres.

Olhando por esse ângulo, fica a impressão de que não é exatamente o parlamentar o foco final dos ataques da esquerda. Ele é o alvo inicial, mas a estratégia parece querer se impor no Sudeste e atingir um dos presidenciáveis mais destacados entre os conservadores – o governador Tarcísio de Freitas. Alguns perfis lulistas já denunciam a conexão que vão buscar fazer, reforçando que Tarcísio e Motta são do mesmo partido, o Republicanos.

Lula busca reconstruir sua antiga base de apoio, que, desconfiada do governo que vem gerindo, começa a olhar de lado para a velha liderança que prometeu picanha e cerveja, durante a campanha passada. O presidente quer resgatar esse eleitor e agregar também a classe média. Tenta criar a ilusão de um governo esforçado em cortar gastos, mas impedido por um Congresso majoritariamente de direita.

Investe pesadamente em uma retórica que tenta se apropriar da bandeira antissistema, hoje enfraquecida pela aproximação dos bolsonaristas com o Centrão. Seria uma tentativa de conter uma virada conservadora definitiva no parlamento.

A ambição por um Congresso massivamente de direita ficou evidente no discurso de Jair Bolsonaro, durante o esvaziado evento que liderou no último domingo, na Avenida Paulista.

Aliás, a diminuta capacidade de mobilização das ruas, que Bolsonaro enfrenta agora, não passa despercebida pelos seus próprios aliados conservadores. Assim como a esquerda, eles também sabem que não é mais na anistia ou outros temas desgastados que os eleitores estarão atentos.

A economia se impôs e a população vai cobrar por respostas às suas necessidades financeiras. E a solução desse problema, para os moderados, não está no bolsonarismo raiz, mas sim em grupos que possuem articulação e ferramentas para orquestrar mudanças.

Por isso, atacar Motta e o Republicanos se mostra estratégico, para tentar frear o avanço do atual governador de São Paulo, que desponta como um nome viável para alçar voos mais altos. Tarcísio busca musculatura tentando encarnar, perante o eleitor do centro, a imagem de responsabilidade fiscal e diplomacia, necessária para conduzir o País por caminhos mais estáveis, distantes da polarização radical que marcou os últimos anos.

Mas há algo que Lula conhece muito bem: eleição não se ganha de véspera e não há disputa fácil. A ilusão de que o governo, de antemão, já está derrotado deixa a oposição em uma perigosa posição de soberba, o que, em termos eleitorais, muitas vezes é a antessala da derrota.

Lula, em desvantagem, deu a largada antes dos seus adversários, tentando correr atrás do prejuízo. Enquanto isso, a cigarra festeja o que ainda não tem.

 

 

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