Eduardo Cunha estreia rádio em BH com leitura bíblica e plano de volta à Câmara
BRASÍLIA – A Maravilha FM, do ex-deputado federal Eduardo Cunha (Republicanos), estreou na rádio em Belo Horizonte nesta terça-feira, 1º., enquanto o político que já foi mentor do atual presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB) cresce agenda em Minas Gerais mirando candidatura ao Legislativo federal pelo Estado.
A emissora tem foco no público evangélico e exibe programas com notícias, esportes, pregação evangélica, música gospel. Cunha faz participações de hora em hora.

No “versículo da hora – com Eduardo Cunha”, o ex-parlamentar aparece sempre no primeiro minuto da hora por alguns segundos e lê uma breve passagem bíblica.
“A paz do senhor Jesus. Provérbios capítulo 15, versículo 1º.: ‘A resposta branda desvia o furor, mas a palavra dura suscita a ira’. Que as bençãos de Deus nos alcancem nesta hora”, disse Cunha em passagem às 13h.
Ao longo da tarde, sempre iniciando a leitura enviando “a paz do senhor Jesus” e concluindo com o pedido “que as bençãos de Deus nos alcancem nesta hora”, Cunha fez a leitura de versículos do livro de Provérbios, do Velho Testamento e repleto de ensinamentos religiosos.
Procurado, Cunha não respondeu.
Não é a única empreitada radiofônica de Cunha em Minas Gerais. A reportagem identificou outras cinco emissoras de rádio registradas em municípios mineiros no nome de Daniel de Sá, marido da deputada federal Dani Cunha (União-RJ), filha de Eduardo Cunha. O ex-deputado fez carreira no Rio fazendo participações diárias em uma rádio gospel no Estado.
Sá assumiu a função de sócio nessas emissoras entre 2024 e 2025. Essas empresas estão sediadas em Além Paraíba (MG), Carangola (MG), Guarani (MG), Raul Soares (MG) e Leopoldina (MG).
Ao longo de 2025, Cunha vem intensificando a agenda em municípios mineiros mirando um retorno à Câmara dos Deputados. Na quinta-feira, 26, Cunha foi vaiado e chamado de “ladrão” por apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) ao desembarcar no Aeroporto Internacional de Belo Horizonte.
Correligionários do PL que estavam presentes no voo dizem que Cunha estava no mesmo avião que Bolsonaro, que aguardado por seguidores e não cumpriu agenda ao lado do ex-presidente. Cunha apareceu antes de Bolsonaro na área de desembarque.

Nesta segunda-feira, 30, Cunha foi ao município de Além Paraíba (MG) e se reuniu com vereadores do município. O vereador Reginaldo Regisom (PL) tratou Cunha já como pré-candidato”. “Na pauta do encontro, esteve o futuro do município de Além Paraíba. O vereador e o pré-candidato discutiram caminhos para atrair investimentos, destravar projetos e fortalecer a cidade nos cenários estadual e federal”. disse Regisom. “Este encontro é mais um passo na jornada para garantir que Além Paraíba receba a atenção e os recursos que merece.”
Além desse encontro, Cunha esteve em abril no Expozebu, em Uberaba (MG), evento que reuniu três candidatos à Presidência da República da centro-direita, acompanhou, no mesmo mês, Valdemiro Santiago na inauguração de uma Igreja Mundial do Poder de Deus em Araxá (MG) e patrocinou um time de futebol de Uberaba.
O Uberaba Sport Club chegou a publicar um vídeo nas redes sociais com uma mensagem de Cunha à torcida, mas a publicação foi posteriormente apagada.
Lideranças políticas dizem que não tiveram contato com Cunha sobre uma eventual candidatura à Câmara. Atualmente filiado ao Republicanos, o ex-presidente da Câmara poderia afetar o pleito do senador Cleitinho (Republicanos) ao governo de Minas em 2026.
“A vontade que eu tinha era de dar um murro na cara de um cara como o Eduardo Cunha, que quer ser candidato. Mas não pode, porque o culpado ainda vira a gente. Esses caras devem estar tomando uísque e rindo da cara do povo. Estão fazendo apostas para ver quem ganha a eleição”, discursou Cleitinho no plenário do Senado, em dezembro de 2024.
O presidente do Republicanos em Minas Gerais, deputado federal Euclydes Pettersen, nega que houve algum contato a nível estadual ou federal. “Entrei em contato com o presidente Marcos Pereira e perguntei se houve a nível nacional, porque a nível estadual nunca teve nenhuma conversação, nenhuma aproximação com Eduardo Cunha para uma candidatura em Minais. Não houve nenhuma articulação nem a nível estadual e nem a nível nacional”, afirma.
Como presidente da Câmara entre 2015 e 2016, Cunha foi responsável por conduzir a abertura do processo de impeachment de Dilma Rousseff, e, por isso, virou um desafeto do PT.
Ainda que adversário político do partido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o presidente do PL em Minas Gerais, deputado Domingos Sávio negam que houve alguma conversa pela filiação. “Nem o partido e nem ele chegou para a gente falando sobre isso”, afirmou.
Então no MDB, Cunha acabou cassado em setembro de 2016, por 150 votos a favor, dez contra e nove abstenções. A representação que levou à abertura do processo foi da Rede e do PSOL. As duas legendas o acusaram de quebrar o decoro parlamentar ao mentir por ter dito que não possuía contas secretas na Suíça durante depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Petrobrás, em março do ano passado.
Pouco tempo depois, em outubro, Cunha foi preso preventivamente em Brasília e solto em 2021, quando voltou à cena política. Em 2023, ele teve a condenação a mais de 16 de prisão no bojo da Operação Lava Jato anulada pela Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal (STF).
Atual presidente da Câmara, Hugo Motta começou a crescer politicamente em Brasília com o apoio de Cunha. Em janeiro de 2016, apoiou Motta para a candidatura de líder do MDB – no fim, o paraibano acabou derrotado por Leonardo Picciani (RJ) por apenas sete votos, após forte investida de integrantes do governo Dilma Rousseff (PT).
Motta fazia parte de um jovem time de deputados que estava na linha de frente do ex-presidente da Câmara – um deles foi o atual ministro do Esporte, André Fufuca. Em 2015, Motta recebeu a missão do próprio Cunha de presidir a conturbada CPI da Petrobras, a mesma que acabou motivando a cassação de seu padrinho político.
Motta terminaria 2016 votando pelo impeachment da petista e se ausentando na votação pela cassação de Cunha.
Mesmo com problemas com a Lei da Ficha Limpa, Cunha conseguiu se lançar candidato à Câmara dos Deputados pelo Estado de São Paulo, em 2022. Acabou derrotado com pouco mais de 5 mil votos. A filha, Dani Cunha, porém, foi eleita ao mesmo cargo federal com mais de 75 mil votos dos fluminenses.
Com a filha em Brasília, Cunha é presença constante na capital federal e aparece em grandes eventos com políticos na cidade. Ele esteve presente, por exemplo, na festa que celebrou a vitória de Motta como presidente da Câmara, em fevereiro deste ano.