7 de julho de 2025
Politica

Sem marca no Lula 3, Sidônio aposta no ‘inimigo comum’ para garantir PT no 2º turno

O governo Lula 3 não tem uma marca, está com a popularidade chegando ao fundo do poço e, até duas semanas atrás, nem sequer conseguia unir a própria militância ou o discurso de seus ministros. Diante desse cenário, alguns governistas já levantavam o seguinte alerta nos bastidores: se o quadro de apatia do presidente Luiz Inácio Lula da Silva continuasse, bastaria mais uma crise com impacto popular — a exemplo do Pix e do INSS — para ameaçar a presença do PT no segundo turno em 2026.

Eis que, encerrando o semestre, o Congresso deu um discurso de presente ao presidente Lula. A forma como Câmara e Senado conduziram a crise sobre o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) deu ao petista a chance de reeditar o “nós contra eles”, e que será entoado à exaustão pelo PT, independentemente de quem assumir a presidência do PT agora.

Marqueteiro da campanha vitoriosa de 2022, o atual ministro da Secretaria de Comunicação da Presidência, Sidônio Palmeira, alinhou o discurso com o partido do presidente Lula e, juntos, eles encontraram o “inimigo comum” – bancos, bilionários e bets.

“Se a gente pensar, por exemplo, Fernando Henrique I e II, tem o controle da hiperinflação e tem a estabilidade econômica. O Lula I e II tem a questão da diminuição da pobreza, o incremento da classe média e a consolidação dos programas sociais. O Lula 3 não tem uma marca para chamar de sua. Então, esse novo BBB é uma marca que pode pegar e consegue mobilizar a militância”, avalia Rodrigo Prando, cientista político e professor de Sociologia da Universidade Presbiteriana Mackenzie.

Pelo ranço histórico do PT, inicialmente integrantes da sigla entoaram o “pobres X ricos”. Mas essa expressão também precisou ser “resignificada”, segundo explicou um petista à Coluna do Estadão. “Ninguém gosta de ser pobre, não temos que reforçar isso”, observou. A conclusão, então, foi de que o foco deveria ser o combate à injustiça tributária, para que todos possam progredir.

Giuliano Salvarani, cientista político e professor de Comunicação, Marketing e Política da ESPM, considera que o ajuste na expressão era mesmo necessário. “Muitos eleitores de baixa renda não se enxergam mais como ‘pobres’, mas como trabalhadores, pais de família, empreendedores informais etc. Ou seja, o termo ‘pobre’ pode ser percebido como desatualizado e assim não mobiliza”, explica à Coluna do Estadão.

A atualização do discurso ficou evidente. “É justo Bancos, Bets e Bilionários (BBB) não quererem pagar imposto?”, perguntou Sidônio, numa referência aos vídeos divulgados pelo PT em defesa da taxação BBB. “Não se trata de pobres contra ricos. A classe média também paga imposto alto. É 99% contra 1%”, disse ele à Coluna da Vera Rosa, indicando a nova estratégia de comunicação.

“Esse ajuste que o Sidônio promoveu na comunicação tem um histórico. O PT é uma fábrica de narrativas. Já construiu várias camadas dessa polarização. Sudeste contra Nordeste, ricos e pobres, PT e PSDB, em síntese, nós contra eles. O discurso polarizador simplifica, mas é um discurso que agrega, que dá força, que dá coesão à militância”, analisa Rodrigo Prando.

Para o cientista político, BBB é um termo que também mostra a formação dos interesses dentro do Congresso. ”Lula, muitas vezes, faz uma inflexão mais ao centro, mas este centro me parece ser, muitas vezes, antipetista por excelência. Então, com o BBB ele vai conseguir, pelo menos, a força de uma militância histórica que sempre lhe deu votos para ir para o segundo turno”, concluiu Prando.

Já o cientista político Giuliano Salvarani é mais reticente sobre a chance de sucesso da investida de comunicação do governo. “BBB, pra mim, é bom, bonito e barato. Ou Big Brother Brasil. Até explicar que se referem a taxar ‘bilionários, bancos e bets’, esse novo signo já perdeu a atenção. Não é Sidônio que tem a responsabilidade de entender que o governo está perdido, tentando se posicionar, ora com o centro, ora para a agenda da esquerda. O que pega mesmo é a vida melhorar e explicar para as pessoas como vai fazer isso”, conclui.

No entanto, enquanto não há sinal de essa melhora ocorrer, o que o governo Lula aposta é numa salvação via “São Sidônio”, que rapidamente encomendou novas peças à agência de publicidade contratada para campanhas nas redes sociais. (Veja o post mais abaixo).

Uma postagem nas redes sociais do governo afirmava: “Nesse cabo de guerra, o Governo Federal tem lado: o da classe média e do povo trabalhador que movem o nosso país. Nós queremos equilibrar as contas corrigindo injustiças, combatendo privilégios e poupando quem trabalha e faz o Brasil crescer”. O texto seguido de uma uma imagem de cabo de guerra – de um lado avanço, do outro, retrocesso.

O marqueteiro que, nos últimos seis meses, passou a maior parte do tempo apagando incêndios, com as crises do Pix e do INSS, além das frases desastrosas do presidente Lula – que foram do contexto internacional a situações machistas – agora tem um mote de campanha para explorar, ainda que não seja nenhum programa de fato da atual gestão.

Ministro da Secretaria de Comunicação, Sidônio Palmeira
Ministro da Secretaria de Comunicação, Sidônio Palmeira

 

 

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